forever :the immortals

Explanations

A festa já tinha acabado há muito tempo. Todos os convidados já tinham ido embora. Deitado em minha cama, fiquei pensando em Yoongi, no que ele dissera sobre Hanyu estar preso por aqui, e como eu era o culpado por isso. Sempre achei que meu irmão já tivesse seguido em frente e viesse me visitar por vontade própria. Porque, tipo assim, não sou eu quem o convida para vir me ver: é ele que aparece, quando bem entende. E, quando não está comigo... bem, provavelmente fica passeando em algum lugar do céu. Sei que Yoongi só está querendo ajudar como uma espécie de “irmão mais velho mediúnico”, mas o que ele não percebe é que eu não quero ser ajudado; que, mesmo que eu deseje voltar a ser um garoto normal e levar a vida que eu levava antes, compreendo que esse é o meu castigo, e agora só me resta aceitar.

Quando enfim caí no sono, sonhei com Jungkook. Um sonho tão forte, tão intenso e tão movimentado que parecia real. De manhã, no entanto, só restavam fragmentos desse sonho, imagens confusas e sem sentido. A única lembrança clara era de nós dois correndo por um vale gelado, varrido pelo vento, em direção a algo que eu não conseguia ver direito.

— Que deu em você hoje? Por que tanto mau humor? — pergunta Hanyu, empoleirado na beira da minha cama, vestindo uma fantasia de Zorro.

— O Halloween já acabou, sabia? — digo, olhando para o chicote que ele bate contra o chão.

— Dã. — Hanyu faz uma careta e continua a açoitar o carpete. — Gostei da fantasia, e daí? Acho que vou usá-la todos os dias.

Diante do espelho, visto as minhas velhas roupas.

— Não acredito que você vai continuar se vestindo assim. — observa Hanyu, torcendo o nariz em desgosto. — Achei que tivesse descolado um namorado.

Olho para trás, perguntando-me o que exatamente ele viu.

— Alô-ou? Na festa? Na piscina? Ou será que você só estava “ficando”? — Arregalo os olhos, mais vermelho que um tomate.

— O que você sabe sobre “ficar”, garoto? Você só tem doze anos! E que história é essa de me espionar?

Ele revira os olhos e diz:

— Me poupe, vai, como se eu fosse perder meu tempo espionando você, quando tem coisa muito melhor pra ver. Pra sua informação, apenas cheguei à piscina exatamente na hora em que você estava empurrando a língua pra dentro da garganta do Jungkook. Preferiria mil vezes não ter visto aquilo, pode acreditar.

Balanço a cabeça e abro a gaveta da cômoda, transferindo minha irritação com Hanyu para os moletons lá dentro.

— Bem, sinto muito decepcioná-lo, mas o cara não é meu namorado porcaria nenhuma. Nem falei com ele desde... — digo, odiando o nó que sinto no estômago. Em seguida, pego um moletom cinza e o visto pela cabeça.

— Posso espioná-lo se você quiser, ou assombrá-lo. — ele ri.

Olho para Hanyu e suspiro. A ideia até que não é má; por outro lado, sei que preciso tocar minha vida adiante, virar a página e esquecer tudo o que aconteceu.

— Fica fora dessa história, tá legal? — digo por fim. — Se você não se importa, prefiro ter uma experiência normal no colégio.

— É você quem sabe! — ele diz, atravessando a porta.

Quando chego à casa de Hoseok, ele já está esperando do lado de fora, dedilhando o teclado do celular.

— Só... mais... um... segundo... e... pronto. — Assim que entra no carro, ele se vira pra mim e diz: — Pode ir soltando a língua. Quero saber de tudo! Do início ao fim, todos os detalhes sórdidos. Não me esconda nada.