sensation

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Porque este aí sou eu...

Ao que parece, Jungkook trabalhou como modelo por um tempo quando morava em Nova York. Por isso, as fotos dele estão por aí flutuando no espaço cibernético, esperando que alguém faça o download delas e se passe pelo garoto. Todos nós demos uma olhada na foto no telefone de Hoseok e rimos muito daquela bizarra coincidência.

Apesar disso, não consigo entender. Jungkook nem estava diferente da foto, não mudou nada... E isso não faz o menor sentido.

Chegando na aula de Educação Artística, entro na fila para o armário de materiais, pego minha tralha e vou para o cavalete. Fingo que não estou nem aí quando vejo que Jungkook está instalado bem ao meu lado. Simplesmente respiro fundo e vou escolhendo os pincéis, aqui e ali espiando a tela vizinha e tentando não babar com a obra-prima perfeita da mulher de cabelos amarelos de Picasso.

Nossa tarefa é reproduzir um dos grandes mestres, escolher uma dessas pinturas clássicas da história da arte e tentar copiá-la. Por algum motivo besta, achei que aqueles redemoinhos simples de Van Gogh não me dariam tanto trabalho, que eu tiraria uma nota máxima. Mas, quando olho para a tela à minha frente, para as pinceladas caóticas e apressadas que consegui produzir até agora, vejo que estava redondamente enganado. Só vejo que, a essa altura, não posso mais voltar atrás e salvar a situação. Pior: não tinha a menor ideia do que fazer.

Desde que me tornei médium, não preciso mais estudar, nem ler. Basta colocar as mãos sobre um livro e seu conteúdo imediatamente pipoca em minha cabeça. Quanto às provas? Digamos que hoje sou a prova de provas: basta passar os dedos sobre cada pergunta para que a resposta se revele na mesma hora. Mas o buraco da arte é bem mais embaixo, porque talento não pode ser fabricado. Portanto, não é à toa que meu quadro parece um lixo se comparado ao de Jungkook.

— Noite Estrelada? – ele pergunta, indicando com a cabeça os borrões azuis que vergonhosamente escorrem pela minha tela. Minha vontade é de cavar um buraco no chão e nunca mais sair dali. Fico pensando em como ele pôde adivinhar o que estou fazendo só de olhar para esse amontoado de manchas.

Em seguida, só para me torturar um pouquinho mais, dou uma espiada rápida no trabalho dele e acrescento mais um item na lista aparentemente interminável de qualidades e talentos desse garoto. Sério, na aula de inglês, por exemplo, ele responde a todas as perguntas que o professor faz, o que é bastante estranho, já que teve apenas uma noite para ler trezentas e tantas páginas de O Morro dos Ventos Uivantes. Sem falar nos comentários que ele acrescenta depois: Jungkook é capaz de discorrer sobre fatos históricos, eventos que aconteceram séculos atrás, como se tivesse presenciado tudo com os próprios olhos. E as tulipas que ele tira do nada? E a caneta mágica?

—Excelente! – exclama a professora. — Exatamente como Picasso! – ela analisa a tela e depois vem para o meu lado.

— E você, Jimin? – ainda está sorrindo, mas por dentro pensa: Que diabos isso deve ser?

— É... hmmm... era pra ser Van Gogh – respondo, vermelho de vergonha. —Sabe, A Noite Estrelada?

— Bem... é um bom começo – ela diz, tentando evitar uma careta de espanto. —O estilo de Van Gogh é bem mais difícil do que parece. Ah, mas não esqueça de acrescentar os dourados e amarelos! Afinal, de contas, a noite estava estrelada, não estava?

Enfim, ela passa para outro aluno. Sei que não gostou do meu trabalho, mas fico agradecido pelo esforço que fez para esconder isso. Em seguida, sem sequer me dar o trabalho de limpar o azul que estava nas cerdas, o resultado: um grande borrão verde em minha tela.

— Como é que você consegue? – pergunto frustrado a Jungkook, comparando sua obra-prima ao meu desastre, já muito conformado com o fracasso. Ele sorri e, buscando meu olhar, diz:

— Quem você acha que ensinou a Picasso?

Jogo o pincel no chão, furioso, salpicando tinta verde por toda a parte sem ao menos conseguir respirar. Fico olhando para Jungkook enquanto ele recolhe o pincel e o coloca de volta em minha mão.

Todo mundo tem de começar em algum lugar – ele diz em seguida, os olhos escuros e ardentes, enquanto seus dedos buscam meu rosto e o pressionam sobre os meus lábios.

Até Picasso tinha um professor. – ainda sorrindo, Jungkook afasta sua mão e leva consigo o calor que ela é capaz de produzir em mim. Calmamente, volta a pintar.

Só então me lembro de respirar...

forever :the immortals  Onde histórias criam vida. Descubra agora