Consequences

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Depois do festival, voltamos ao carro de Tae, damos uma rápida passada na casa dele para reabastecer o cantil e seguimos para a cidade. Estacionamos numa rua qualquer, entupimos o parquímetro de moedas e nos precipitamos avançando trôpegos pela calçada, um do lado do outro, braços entrelaçados, fazendo com que os pedestres desviem de nós, cantando "(You Never) Cal Me When You're Sober" a plenos pulmões. Completamente desafinados. E quase molhando as calças de tanto rir quando alguém passa por nós e torce o nariz.

Ao passarmos diante de uma dessas livrarias New Age que dão consultas de tarô, reviro os olhos e finjo que nem a vi, feliz da vida por não mais fazer parte desse mundo, graças aos efeitos da vodca. Enfim, livre.

Atravessamos a rua e vamos para a praia. Mais ou menos na altura do Hotel Laguna nos esborrachamos na areia e ali ficamos, completamente tontos, braços e pernas entrelaçados, passando o cantil de mão em mão até esvaziá-lo por inteiro.

- Droga! - resmungo e jogo a cabeça para trás, dando tapinhas no cantil, tentando extrair dele a última gota.

- Fique frio, garoto- diz Hoseok. - Curta a onda e relaxe.

Mas não quero relaxar. E já estou curtindo a onda. Só quero ter certeza de que ela vai continuar. Agora que minha mediunidade foi para o espaço, faço questão de que ela fique por lá.

- Querem ir lá pra casa? - digo, enrolando a língua, torcendo para que Namjoon esteja fora, para que a gente possa tomar a vodca que sobrou do Halloween e continuar com nossa festinha.

- Sem chance - diz Tae, fazendo que não com a cabeça. - Estou um lixo. Acho até que vou largar o carro na rua e voltar engatinhando pra casa.

- E você, Hoseok? - digo, quase suplicando, não querendo que a festa acabe. Esta é a primeira vez que me sinto assim, tão leve, tão livre e tão normal, desde que... Bem, desde que o Jungkook foi embora.

- Não vai dar - ele diz. - Jantar em família. Sete e meia em ponto. Gravata opcional. Camisa de força obrigatória. - Às gargalhadas, cai para trás na areia, e Tae se joga por cima dele.

- Mas, e eu? Vou fazer o quê? - Cruzo os braços e olho torto para meus amigos, que riem e rolam na areia, sem nem ouvir o que acabei de dizer.

Na manhã seguinte, embora tenha dormido mais que a cama, o primeiro pensamento ao abrir os olhos é: Minha cabeça não está latejando!

Pelo menos, não do modo habitual.

Depois rolo para o lado e pesco a garrafa de vodca que escondi debaixo da cama, ontem à noite. Dou um gole demorado e fecho os olhos para saborear o quentinho do álcool, primeiro na língua, depois na garganta.

E quando Namjoon coloca a cabeça para dentro de meu quarto a fim de ver se já acordei, fico em êxtase ao constatar que não vejo nem uma pontinha de aura em torno dele.

- Estou acordado! - Rapidamente escondo a garrafa sob o travesseiro, salto da cama e corro para abraçar meu tio, ansioso para ver que tipo de energia será trocada entre nós, feliz da vida quando nada acontece. - O dia está lindo, não está? - digo e abro um sorriso, os lábios ainda um pouco anestesiados, custando a obedecer.

Namjoon olha para a janela, depois para mim.

- Se você está dizendo...
E dá de ombros.

Olhando pelas vidraças da varanda vejo que o dia está cinzento e chuvoso. De qualquer modo, não estava me referindo ao tempo. Estava pensando em mim mesmo.

No novo Jimin. Na versão melhorada de Jimin. O Jimin normal, que só vê, ouve e sente o que todo o mundo vê, ouve e sente.

- Esse tempinho me faz lembrar Busan... - digo, tiro meu pijama e vou para o chuveiro.

forever :the immortals  Onde histórias criam vida. Descubra agora