Lack

665 71 15
                                    

Foi estranho atravessar a aula de inglês sem Jungkook a meu lado, segurando minha mão, sussurrando em meu ouvido, fazendo eu me desligar do mundo. Acho que fiquei de tal modo habituado à presença dele que acabei esquecendo como Jennie e Jisoo podem ser cruéis. Mas quando vejo as duas trocando sorrisinhos irônicos e torpedos (do tipo: Aberração idiota, não foi à toa que ele se mandou), percebo que só me resta buscar refúgio no capuz, no iPod e nos óculos escuros.

E também não posso deixar de perceber a ironia da situação. Não é que eu não tenha entendido a piada. Pois, para alguém que teve uma crise de choro no estacionamento, implorando ao namorado imortal que sumisse do mapa, de modo que ele pudesse ser um garoto normal outra vez... Bem, obviamente a piada sou eu.

Em minha nova vida sem Jungkook, todos os pensamentos ao redor, os ruídos e as cores que a todo o instante assolam meus sentidos, são tão incômodos e avassaladores que meus ouvidos estão sempre chiando, os olhos não param de lacrimejar e as enxaquecas atacam tão de repente, invadindo minha cabeça, sequestrando meu corpo, provocando tantos enjoos e tonteiras que mal consigo agir.

Engraçado. Eu estava com tanto medo de contar a Hoseok e Tae sobre meu rompimento com Jungkook que uma semana inteira se passou sem que o nome dele sequer fosse mencionado. E, mesmo assim, fui eu quem tocou no assunto depois. Acho que eles já estavam tão acostumados às faltas dele que nem chegaram a estranhar este último e mais prolongado sumiço.

Portanto, certo dia durante o almoço, limpei a garganta, olhei para eles e dei a notícia:

- Só pra informação de vocês,Jungkook e eu terminamos. - E antes que eles pudessem falar, levantei a mão e disse: - E ele foi embora.

- Embora? - ambos disseram, dois pares de olhos arregalados à minha frente, dois queixos caídos, os dois se recusando a acreditar.

Mesmo sabendo que meus amigos estavam preocupados comigo e que eu devia a ambos uma boa explicação, finquei o pé e dei o assunto por encerrado.

Com a Sra. Machado, no entanto, não foi assim tão fácil. Alguns dias depois de Jungkook ter ido embora ela se aproximou de meu cavalete e, fazendo o possível para evitar contato visual com o desastre do meu Van Gogh, disse:

- Sei que você e Jungkook eram muito próximos e que deve estar difícil para você, então achei que devia lhe dar isto aqui. Aposto que vai achar extraordinário. - E me entregou uma tela.

Simplesmente larguei a tela no chão, apoiada sobre o cavalete, e continuei a pintar.

Claro que o trabalho de Jungkook era extraordinário; tudo o que ele fazia era extraordinário.

Por outro lado, uma pessoa que vagou pelo mundo durante séculos teve tempo suficiente para aprender um monte de coisas.

- Você não vai nem olhar? - ela perguntou, surpresa com minha falta de interesse na obra-prima que Jungkook havia criado a partir de outra obra-prima.

Virando-me para ela, abri um sorriso forçado e disse:

- Não, mas obrigada pelo presente.

Quando o sinal enfim tocou, fui embora com a tela debaixo do braço e a joguei no porta-malas do carro sem ao menos dar uma espiada. E quando Hoseok quis saber o que era, apenas inseri a chave na ignição e disse:

- Nada de importante.

Caramba, com isto eu não contava: a solidão que agora estou sentindo. Não me dava conta de quanto dependia do Jungkook e de Hanyu para preencher as lacunas, para remendar os cacos de minha vida. Embora meu irmão tivesse avisado que sumiria durante um tempo, depois que se passaram três semanas, entrei em pânico.

forever :the immortals  Onde histórias criam vida. Descubra agora