Jungkook mora em um condomínio fechado. Detalhe que Hanyu se esqueceu de contar. Talvez porque um enorme portão de ferro e um pequeno batalhão de seguranças uniformizados não sejam nenhum obstáculo para ele. Então, para mim também não vão ser.
Sorrindo para a moça à portaria, abro a janela do carro e digo:
- Bom-dia. Meu nome é Park Jimin. Mark Tuan está me esperando.- Ela confere a tela do computador e procura pelo nome que acabei de ver na terceira linha da lista de pessoas com permissão para entrar.
- Deixe isto em sua janela - diz e sai da cabine para me entregar um crachá amarelo com a palavra VISITANTE e a data escrita. - Só um lembrete: é proibido estacionar no lado esquerdo das ruas; pare apenas no direito.
Atravesso o portão e sigo adiante, rezando para que ela não note quando passo direto pela rua de Mark, seguindo para a casa de Jungkook.
Estou quase no topo de uma colina quando leio o nome seguinte em minha lista de ruas e dobro duas vezes à esquerda, chegando ao final do quarteirão. Só quando estaciono o carro é que percebo a loucura que acabei de fazer.
Quer dizer, que espécie de psicopata eu sou? Quem, em sã consciência, pensaria em convocar o irmão morto para espionar seu namorado? Por outro lado, minha vida não tem nada nem remotamente normal; então, por que meus relacionamentos seriam diferentes?
Ainda no carro, procuro acalmar a respiração, apesar das cambalhotas que meu coração dá e do suor que encharca minhas mãos. E quando observo a limpa, organizada e abastada vizinhança, percebo que não poderia ter escolhido dia pior para me infiltrar no maldito condomínio.
Em primeiro lugar, o dia está lindo e ensolarado, o que significa que as pessoas estão todas fora de casa: pedalando na rua, passeando com o cachorro ou trabalhando no jardim.
Assim fica difícil espionar. Além do mais, como até agora só me preocupei em chegar aqui, não tenho a menor ideia sobre o que fazer em seguida; em nenhum momento arquitetei um plano.
Não que isso vá fazer alguma diferença. Quer dizer, na pior das hipóteses, o que pode acontecer? Jungkook me pega no flagra e confirma que sou um louco? Depois do ataque de carência que dei hoje na cozinha ele decerto já sabe disso.
Finalmente desço do carro e sigo para a casa dele, a última de uma rua sem saída com palmeiras e gramados impecáveis. Mas procuro não dar nenhuma bandeira do que estou fazendo: ando com a maior naturalidade do mundo, como se tivesse todo o direito de estar aqui, e de repente me vejo diante da enorme porta dupla de Jungkook, sem saber o que fazer.
Dou um passo para trás e examino as janelas. Todas estão fechadas. E mesmo sem saber o que vou dizer, crio coragem, toco a campainha, controlo a respiração e espero alguns minutos.
Nenhuma resposta, então toco outra vez. Nada. Tento a maçaneta, mas a porta está trancada. Então volto à rua, contorno a casa e, olhando ao redor para ver se não há vizinhos por perto, entro pelo portão lateral que dá para os fundos.
Esgueirando-me junto das paredes, mal olhando para a piscina com cascatas, ou para o jardim, vou direto para uma porta de vidro, que, obviamente, também está trancada.
Estou a ponto de desistir e voltar para casa quando ouço uma vozinha na cabeça, dizendo: A janela, perto da pia. Na mosca: a tal janela está entreaberta, o bastante para que eu passe os dedos pela fresta e termine de abri-la.
Apoio minhas mãos no peitoril e uso toda a minha força para subir e me pôr para dentro. Agora é oficial: invadi a casa de Jungkook.
Sei que não devo continuar. Não tenho nenhum direito de fazer isto. O mais correto seria dar o fora daqui e voltar correndo para o carro, retornar à segurança e ao aconchego de minha própria casa enquanto é tempo. Mas a mesma vozinha de antes insiste em que eu continue, e, uma vez que cheguei até aqui, vamos lá, vejamos onde isso vai dar.
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forever :the immortals
Mystery / ThrillerDepois de perder toda a sua família em um desastre de automóvel, do qual inexplicavelmente escapou, Jimin vê sua vida transformada por completo. Ele muda de cidade, de escola, de amigos, e precisa aprender a lidar com a realidade atordoante: após o...