Força e Poder

Chapter five

Minhas pernas estão fracas, falhando cada vez mais a cada passo que dou. Só mais um pouco, penso comigo mesma enquanto secava o suor do meu rosto, só mais um pouco.
Sai para correr antes mesmo que o sol tivesse se posto, a noite mal dormida e a raiva que se espalhava cada vez mais pelo meu corpo me fez ver que precisava extravasar tudo aquilo em alguma coisa.
Me apoio com as mãos em uma árvore, meu coração a mil me impede de ouvir os pássaros cantando ou até mesmo os passos se aproximando atrás de mim.
    ⁃    srta calliope, vossa majestade pediu para que lhe avisasse que ela esta esperando para tomar o café com você. - a voz atras de mim soou como um sussurro no meio de todo o turbilhão que estava em minha cabeça.
Respire, lembre-se de respirar. Tentava inutilmente acalmar meu corpo que estava em euforia. O guarda atrás de mim continuava a falar alguma coisa sobre Elara e café da manhã quando por fim corro até outra árvore e mal me apoiando começo a vomitar.
Passo o dorso da mão à boca limpando-me e dou meia volta, encontrando o guarda que tentava falar comigo.
    ⁃    obrigada pelo aviso, já estou indo! - falo passando por ele com meus passos falhos e cansados.
A caminhada até a sala de jantar é falha e cansativa, me arrasto pelos corredores como uma minhoca com pernas e suada.
Entro na sala e me deparo com Elara, tamborilando os dedos na mesa.
    ⁃    você está péssima e atrasada! - falou a mesma enquanto eu servia meu copo com água e me sentava.
    ⁃    Estava ocupada... - murmurei enquanto pegava da salada de frutas á minha frente. Sinto sua presença em minha mente vasculhando, xeretando como se minha mente fosse uma revista que ela pudesse folhear a vontade.
    ⁃    Saia da minha mente! - rosno a encarando, a rainha abre a boca mas é interrompida por outro barulho.
A porta se abre, mostrando nada mais nada menos que Mare. Meu corpo solta o impulso para sair correndo e avançar nela, mas me seguro na cadeira com toda a força que ainda tenho. Não me perdoaria se fizesse algo contra ela, mesmo tendo meu nome trocado pelo dela por Cal.
    ⁃    Coma rápido. Lady blonos não tolera atrasos! - fala a rainha.
    ⁃    Ela vai ter aula de protocolos? - pergunto a rainha merandus erguendo as sobrancelhas. - Ela não é uma criança para fazer tal.
    ⁃     Lady Mareena cresceu em circunstâncias terríveis. Nada sabe dos nossos modos, das expectativas que precisa atender agora...
    ⁃    Isso significa que você não vai estar lá ? - interrompe a vermelha.
    ⁃    Não, para a minha felicidade. Essas aulas não são tão legais quanto você pensa. - abro um sorriso zombeteiro para ela.
    ⁃    Sua ausência me deixa feliz também! - retruca a garota.
Tenha paciência, tenha paciência. Canto mentalmente uma canção antiga que meu pai cantava. "Tudo o que nós precisamos é apenas de um pouco de paciência". Continue a respirar. Apenas continue respirando e tudo passará.
As paredes vão se fechando em minha volta, o ar leve fica abafado e eu começo a sentir o mesmo aperto que eu senti pela manhã quando comecei a correr.
    ⁃    obrigada pelo café, majestade, mas tenho compromissos marcados. - falo levantando da cadeira e me dirigindo a saída.
    ⁃     Hoje o almoço será no Terraço de Vidro, juntamente com as moças da Prova Real e suas mães. Tentem não tripudiar sobre elas. E por favor Calliope, apareça descente! - fala Elara enquanto desapareço pelo corredor levantando apenas a palma da mão como despedida.
Corro até o salão de treinamentos, meus pulsos estão ardendo como na noite anterior, mesmo não existindo mais ferimentos. Sento em um banco qualquer dentro do vestiário e tento me acalmar, não podia entrar em pânico novamente. Começo a trançar meus cabelos, fio por fio, preso o suficiente para poder correr uma maratona e deixá-lo intacto. O banco range ao ter outra pessoa sentada nele. A dona dos cabelos loiros platinados e do sorriso debochado me encarava ao meu lado.
    ⁃    você está bem? - Evangeline perguntou - Tolly me contou sobre ontem...
    ⁃    está tudo certo, já estou melhor! - balbucio minha resposta tentanto em vão esquecer a noite passada.
    ⁃    Você não parece nada bem... - retrucou eve.
    ⁃    Se você veio aqui para me provocar, pode ir embora. Hoje estou sem humor algum!
    ⁃     Na verdade..... na verdade vim para pedir desculpas.
    ⁃    Você está falando sério ?
    ⁃    Sim, e por favor, não atrapalhe meu momento!
    ⁃    Bom... vá em frente, sou toda ouvidos!
Evangeline aperta as mãos tentando inutilmente parar de gesticular, ela aperta a boca fazendo biquinho e parecendo a criança de 10 anos atrás fazendo birra.
    ⁃    a gente pode pular aquela parte em que eu faço um discurso bonito, você chora, eu choro, nos abraçamos e voltamos a chorar né?
Começo a rir da sua pergunta, era óbvio que ela já sabia a resposta, e também era óbvio para Evangeline que ela não iria ser sentimental uma vez na vida. Nunca foi. E nunca seria.
    ⁃    Com certeza, e principalmente a parte do abraço! - falo entre risos e ela começa a rir comigo. Não foi um verdadeiro pedido de desculpas, mas pelo menos tudo está perfeitamente bem entre nós agora.
    ⁃    Senti sua falta! - sussurro e eve tenta soltar algo como um gemido.
    ⁃    Eu sei que você me ama e não vive sem mim! - ela me abraça de lado me segurando firme me impedindo de se soltar.
    ⁃    Por favor, Evangeline! Sem abraços. - murmuro e ela me solta rindo como um animal. Me levanto e saio do vestiário com a sombra de Evangeline atrás de mim.
    ⁃    Você deu na cara dele pelo menos? - ela pergunta rindo.
    ⁃     Não, mas abri uma parede de gelo no meio do quarto dele.
    ⁃    Sério? - ela pergunta descrente e eu assinto. - Você é meu ícone.
A garota Samos volta a rir como um animal morto me fazendo baixar a cabeça tentando inutilmente me esconder da vergonha. O instrutor Arven aparece nos mandando começar a correr.
Para minha alegria, a corrida me manteve suficientemente ocupada para não congelar Tiberias, que estava a apenas alguns passos atrás de mim. Dou pulos e me agacho, desviando perfeitamente de qualquer coisa que cruzasse o meu caminho.
Quando Theo, o telec para de jogar obstáculos por todos os lados me permito caminhar até a parte onde treino com os alvos e me estiro no chão.
Droga. Almoço com Elara e participantes da prova real. Droga.
    ⁃    tiraram para testar minha paciência hoje! - murmurei comigo mesma enquanto me levantava. As miras descem esperando que eu comece a acerta-las. Acerto uma estaca de gelo no centro do alvo mais próximo e consequentemente em todos os outros que começam a se mover. A silhueta alta, esbelta e quente de Cal para ao meu lado.
    ⁃    Precisamos conversar! - ele fala tentando chamar minha atenção enquanto eu disparo cada vez mais estacas no alvo.
    ⁃    Estou ocupada!
    ⁃    Almoça comigo? - pergunta ele me fazendo ponderar o que era pior, o almoço com Elara ou com ele.
    ⁃    Não posso. Elara tá fazendo um almoço com as outras garotas da prova real! - acerto em cheio o último alvo. - Se eu não morrer sufocada ou de tédio, podemos conversar depois do almoço. - dou de ombros fingindo indiferença e tentando com todas as forças evitar seu olhar.
    ⁃    Ótimo! - ele assente e continua parado ao meu lado, talvez ainda tivesse esperança que eu falasse algo.
    ⁃    Calliope! Calore! Os dois para a arena! - grita o instrutor em nossa direção.
Rumo com os passos rápidos até a arena que está sendo construída pelo telec. Alongo meus braços para trás sentindo a presença quente de Cal atrás de mim, me fazendo estremecer. Paro no meio da arena que já está completa. Paramos de frente um para o outro, encarando o pequeno abismo formado entre nós.
" sinto sua falta" seus lábios falaram silenciosamente. Dou de ombros. O amo tanto. Tanto que chega a doer. Não quero ficar longe dele. Mas quero respostas. Respostas dignas de perdão.
    ⁃    Impressionem-me - pede o instrutor.
Gero um escudo de gelo que cobre o meu braço esquerdo. As mãos em chamas do Calore se movem em minha direção quando me abaixo e lhe lanço um chute nos joelhos, o desequilibrando. Suas mãos se prendem em meu pé me puxando junto com ele para o chão. Tento me soltar o golpeando nas costelas mas tibeiras me prende no chão com o joelho em minhas costas. Acerto uma estaca de gelo em seu ombro o fazendo arfar e me levanto. Ainda no chão, Cal joga uma rajada de fogo em minha direção, parte dela me acerta no ombro direito e o restante é barrado pela parede de gelo que abro entre nós. Uma de suas mãos ficam presas na barreira de gelo enquanto a outra investe fortemente em mim com seu fogo, que tento segurar com o escudo de gelo.
Seu fogo ganha impulso o suficiente para me engolir por completo. Me jogo para trás caindo e colidindo com uma das paredes de vidro da arena. Aperto meu ombro que já estava queimado e observo os danos, o fogo não chegou até mim.
Antes que me levante, tiberias já está a espreita pronto para me atacar. Antes de qualquer outro passo dele lhe acerto uma estaca de gelo em seu pé, o fazendo mancar e grunhir de dor. Me levanto lentamente o encarando. Cal tenta tirar a estaca de seu pé gemendo de agonia e não percebe enquanto eu lentamente ando até suas costas e gradativamente me jogo nelas, fechando minhas mãos em seu pescoço.
Seu corpo começa a esquentar embaixo do meu, se preparando para explodir com seu fogo. Me preparo também, começo a congelar meu corpo, duro e impenetrável como uma pedra.
O fogo não demora para aparecer, começa pelas suas mãos e vai se espalhando enquanto eu pressiono ainda mais o meu aperto em seu pescoço. O gelo queimando o fogo, e vice e versa.
    ⁃    Com quem está a vantagem? - escuto arven perguntar mas não escuto respostas. - Ptolemus?
    ⁃    Nenhum dos dois. Não há vencedores nessa luta. Os dois estão correndo atrás de nada. Estão se desgastando à toa. Só teremos um vencedor se eu deles morrer ou desistir, mas acho o último caso muito improvável. - respondeu o garoto Samos.