Ao chegarmos na minha casa, percebi algo estranho. Haviam muitas cadeiras organizadas, enfileiradas. Pessoas da cidade reunidas, Assim como Liam, Patrick, Dona Silvia, minha mãe, Sophia, a mãe louca dela, Joana, Diego e seus pais, Sr. e Sra Martinê, e o resto da cidade . Ao chegarmos, percebi de cara o olhar de Sophia para o Richard, aquela cena, foi impagável. Ela me olhou com tanta raiva, que achei que morreria ali mesmo. A reação do Liam não foi diferente, ele caminhou em minha direção... Assim que percebeu, Richard segurou minha mão, levando-me onde estavam meus amigos. - Já volto - Disse, indo em direção ao Patrick. Sentei-me ao lado do Diego, a essa altura, eles já sabiam da morte do meu pai. As pessoas vestiam preto, e eu procurava desesperadamente a minha mãe .
- Senhores, senhoras, boa noite! Primeiro quero agradecer, a todos que vieram até aqui hoje - Era o Sr. Dom Martinê, pai do Diego e chefe de polícia - Reuni neste local, membros da polícia, da guarda florestal, alguns amigos da promotoria, e alguns dos empresários mais influentes da cidade. Primeiro, gostaria de apresentar a todos o Sr. Patrick, nosso novo Juíz e sua esposa doutora Silvia, que também estará prestando serviço no fórum da cidade . Bem, como muitos sabem, uma onda de mortes e desaparecimentos está tomando conta do local. Temos espalhado gente para vigiar os lugares mais visitados , os guardas estão se revezando por dentro da floresta, contudo, por mais que investiguemos, não há ainda uma pista do que seja...ou qual o método utilizado, ou quais as vítimas preferidas...Até agora, o que sabemos, é que qualquer pessoa pode ser capturada, a qualquer hora, sob qualquer circunstância... O que pedimos, é cuidado... Ao sair, e ao chegar em casa... Tranquem tudo, as portas, as janelas... Evitem chegar muito tarde, evitem sair no meio da noite, evitem sair sozinhos... Precisamos da ajuda de vocês... De todos...
- O que o senhor está pedindo, é que passemos nosso tempo livre em casa, trancados, com medo de algo ou alguém que nem ao menos sabemos quem é... - Era a voz de Sophia, estrondeante, vinda do final do corredor de cadeiras .
- Minha filha está certa Dom... Esta cidade é muito silenciosa, quieta... Minha filha é jovem, precisamos pensar em nossos jovens... Precisamos pensar no lazer deles, na liberdade de ir e vir... É impossível que você queira, que nós convivamos dessa forma... - A senhora Pietra Roman era mãe de Sophia, sendo ela sua única filha a Sra. Roman a superprotegia, em muitas situações.
- Eu entendo Pietra, mas antes de pensar no lazer dos nossos jovens, precisamos pensar na segurança deles - Respondeu, calmamente.
- É para isso que temos a sua equipe Dom... É para isso que pagamos os nossos impostos... Para termos uma cidade segura - Retrucou.
- Pietra...
- Senhores! Senhora... - Uma voz grave e alta interrompeu a conversa - Me desculpem interrompê-los... Mas, a conversa que estão tendo, não faz sentido... Aqui não temos um caso comum de violência, Sra. Roman... O Dom não está falando tudo o que sabe para não comprometer a paz da cidade, porém, diante do que está havendo Dom, é bom que falemos, tudo , para que as pessoas possam entender o que de fato está acontecendo. Você tem minha permissão, para falar o que achar necessário... .- Era Patrick Sloan, pai de Liam. O Sr. Sloan era um homem alto, com cabelos grisalhos, penteados para trás, ele era sério, tranquilo, e muito charmoso .Agora ele estava de pé ao lado do Sr. Martinê, como forma de apoio .
- Certo.. - Completou o Sr. Martinê. Ele puxou uma cadeira e sentou-se desconfortável, causando um silêncio geral... Passou a mão por entre os muitos cabelos, e enxugou o rosto com um lenço que carregava no bolso da camisa, de maneira tensa e preocupada resolveu contar, talvez não tudo, mas o suficiente, para que aquela conversa terminasse.
- O que está acontecendo aqui, não é algo no qual estamos acostumados a lidar... Vai além da nossa imaginação... Vai além da nossa criatividade... Há alguns meses, a guarda florestal começou a ouvir coisas esquisitas que vinham do meio da floresta, ruídos nos radares, barulhos esquisitos no meio da noite... Mandaram dois dos vigias que estavam de prontidão naquele dia para investigar, mas eles não retornaram mais... Apenas uma semana depois, um corpo foi encontrado, completamente dilacerado, não foi possível identificar se aquele corpo era de um dos nossos, mas dois dias depois disso, uma outra pessoa foi encontrada, desacordado no outro lado do rio, quando ele despertou, estava completamente louco... Não havia vida em seus olhos, não conseguia falar nada, nunca mais conseguiu, ele foi mandado para um centro psiquiátrico, e está lá até hoje ... Esse foi o primeiro caso , era segredo, até que tudo começou a sair do controle. Algumas outras pessoas começaram a sumir, a polícia começou a se desdobrar para fazer a guarda da cidade. Começamos a duplicar os turnos, passamos horas e horas na floresta, mas nunca conseguimos encontrar nada... Mais pessoas começavam a aparecer, mas todas que conseguiram regressar com vida, voltaram mortas por dentro... O que aconteceu com o Jorge, pai da Cecília, hoje, foi mais um, dos muitos massacres que têm acontecido .
- E quando vocês iriam nos contar sobre isso? - Perguntou a Sra. Roman estarrecida.
- Quando tivéssemos uma resposta sobre quem está fazendo isso, e porquê... E acreditem, estamos trabalhando muito duro para isso... Não queríamos chegar a este ponto, não queríamos ter que contar-lhes sobre isto...Mas não temos mais escolhas, precisamos do apoio de vocês! Esta noite, o pai de nossa Cecília foi morto, brutalmente. Ainda não encontramos seu corpo, apenas, parte dele. Peço que se solidarizem e nos compreendam.
O silêncio durou alguns minutos... As pessoas se entreolhavam, houve uma mistura de terror e solidariedade entre os presentes. Eu me lembrei na hora do que tinha acontecido... minha mente se perdeu, minhas mãos estavam frias, eu senti uma pequena gota de suor escorrendo no no meu rosto . Olhei ao redor, e finalmente encontrei minha mãe, ela caminhou rapidamente ao meu encontro e eu ao dela, abracei-a com força e fiquei, presa em nos seus braços, preocupada, triste, assustada . Ali, pela primeira vez, compartilhamos algo em comum, nossas lágrimas.
- Vou te dar todas as respostas de que precisa, Cecília. Ainda hoje, Prometo.
Considerando o momento, decidi que teria paciência e esperaria por ela .
A reunião acabou, as pessoas vinham até nós, prestar seus sentimentos, minha mãe estava abalada, mas ela era muito forte... Apertava as mãos das pessoas e sorria, passando uma paz que não existia. Não naquele momento . As pessoas se foram, ficamos só nós duas, debaixo da Malibú, enquanto os olhos cintilantes se posicionavam ao nosso redor . Pela primeira vez, eu via aqueles olhos de perto, com clareza, mais impressionada do que nunca.
- Preciso que escute com calma e atenção, tudo o que te falarei aqui. E peço, que não me julgue, porque tudo o que eu fiz, foi para te proteger, nada mais que isso. Espero que, quando ouvir toda a história, você possa acreditar e entender quem você é, e o que eu fiz, e porque eu fiz .
E eu estava ouvindo.
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E Se Fosse Verdade? ( Sonho )
RomanceEla me fitou com aqueles olhos negros e eu estremeci. Sabia que precisava ter coragem, sabia que poderia morrer, sabia que ela era mais forte. Olhei ao redor, estava sozinha... Apenas eu e ela, mais ninguém! Eu estava sangrando, minha perna estav...