Você me deve explicações

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kiki narrando agora sz

[ 🐹 .*+ ]

Havia me esgueirado pela casa até chegar na cozinha. Silenciosamente, abri o freezer e tirei dele ervilhas congeladas, para colocar em meu olho roxo. Como minha mãe era médica, ela raramente passava a tarde em casa, mas todo cuidado era pouco.

Fechei o freezer e suspirei ao pôr o alimento congelado em meu olho. Ardia como o inferno, queria despedaçar Cheol por ter me agredido daquela forma. O pior era que se eu reclamasse com o diretor, o senhor Park, ele simplesmente ia rir da minha cara e me culpar por ter tido um nude vazado, como todos os outros.

— Kihyun? — era a voz de minha mãe. Ela ligara a luz e eu sequer tive tempo para esconder as ervilhas ou tampar meu olho — meu Deus, quem fez isso com você? — ela se aproximou, preocupada. Tocou meu rosto e me examinou de cima a baixo, tendo certeza de que eu não desmaiaria ali.

— Uns caras me pararam na rua quando fui na loja de conveniências aqui do lado.

— Eles te roubaram?

— Roubaram a comida que eu tinha comprado — por favor, mãe. Acredite nessa mentira.

— Deixa eu ver isso — ela retirou as ervilhas congeladas do meu olho e suspirou pesadamente ao ver o estrago — está doendo muito?

— Eu posso aguentar, mãe. Não quis te preocupar — murmurei e ela me abraçou.

— Qualquer coisa é só me chamar — recebi um beijo em minha testa e ela pegou um copo com água no filtro e sorriu para mim antes de voltar para seu quarto.

Inspirei e espirei, até que tomei coragem para voltar para meu quarto. Fechei a porta e a tranquei, me joguei no colchão e fitei o teto por um minuto inteiro até que senti a primeira lágrima cair.

Eu já não tinha mais salvação. Pelo visto, namorar e terminar várias vezes te tornam uma vadia merecedora de uma punição como essa. Não contaria para minha mãe, não queria preocupá-la; ela já tem muito com o que se preocupar, o hospital já lhe toma muito tempo, não posso ocupá-la ainda mais.

Tentei regular a respiração, mas com o nariz entupido devido ao choro recente, ficou quase impossível. Só fui dormir depois de uns dez minutos, após tanto me arrepender de ser Yoo Kihyun.

[...]

Um longo dia. Se eu já recebia olhares tortos, imagina agora? Joguei o cobertor para o lado e levantei à contragosto. Tomei um banho frio, vesti o uniforme e passei base no rosto, para disfarçar o olho roxo. Doeu ao pressionar a esponja sobre minha pálpebra e maçã do rosto, mas nada que eu não merecesse.

— Vai querer comer algo, Kihyun? — minha mãe perguntou ao me ver descer. Neguei com a cabeça, a dei um beijo na bochecha e sorri.

— Eu como na escola, não se preocupe.

Quando eu estava vestindo o casaco, minha mãe se aproximou e cruzou os braços.

— Tem um carro parado aí na frente faz dez minutos. Você está saindo com alguém?

Arqueei as sobrancelhas e decidi abrir a porta, dando de cara com ninguém mais ninguém menos que o capitão do time de basquete, escorado em seu carro, com a jaqueta do time por cima do uniforme e óculos escuros.

— Ainda estamos nos conhecendo — menti — se der certo, eu te conto, está bem? — fechei a porta rapidamente e ouvi a risada da minha mãe de dentro da casa.

Corri até Hyunwoo e parei à sua frente.

— O que está fazendo aqui?

— Fiquei sabendo que Cheol te deu um soco e a partir de hoje eu vou te levar e trazer da escola.

Suspirei.

— Hyunwoo, eu já disse que não quero nada com você, não adianta dar em cima de mim.

— Eu sou teimoso, Kihyunnie.

Massageei minhas têmporas antes de perguntar:

— Hyungwon sabe que é corno? — Hyunwoo riu.

— Primeiro que nem namorados éramos — ele pôs as mãos nos bolsos — mas de qualquer forma, terminamos seja lá o que tínhamos ontem, eu sou um homem livre pra te paquerar.

— Eu aceito só a carona, pode deixar as cantadas pro dia de são nunca — o empurrei para o lado e esperei que ele apertasse o controle da chave para que o carro destrancasse e entrei no veículo.

Hyunwoo riu e apressou-se para entrar.
Assim que ligou carro, sintonizou numa rádio que tocava músicas antigas, e eu não consegui não cantar durante o caminho. O Son vez ou outra me olhava e sorria.
Eu o conhecia desde o ensino fundamental, e percebi que ele sempre teve uma queda por mim. De vez em quando demonstrava, mas teve um dia que eu disse que não queria nada com ele, então ele se afastou por completo de mim. Foram longos anos, até que nos encontramos na mesma escola do ensino médio. Hyunwoo falava comigo pelos corredores mas nada durava mais que dois minutos, pois como capitão do time, ele tinha de treinar todos os dias depois da aula. Sem contar que estava sempre com Minhyuk e Hyungwon, aquelas duas pragas.

— Você tem certeza que vai arriscar sua reputação? — perguntei quando já estávamos perto da instituição.

— É um nome idiota que te deram, Kihyun. Isso não vai me afastar de você. A menos que você queira.

Suspirei.

— Eu nem sei o que eu quero mais — resmunguei ao apoiar a cabeça na janela do carro.

— Sabe que estarei aqui quando precisar.

Hyunwoo estacionou o veículo e ficamos um minuto inteiro em silêncio.

— Você é uma pessoa muito doce, Hyunwoo. Mas eu não quero te magoar, então vamos continuar amigos, tudo bem? — coloquei a mochila nas costas e abri a porta, sem esperar uma resposta dele. Eu não queria machucá-lo, ele merecia alguém melhor que a vadia da escola.

Quando ele saiu do carro, apenas me deu um sorriso tímido e me acompanhou pelo corredor até que eu dissesse que estava bom e me despedi dele. Assim que Hyunwoo estava prestes a girar os calcanhares, uma comoção enorme começou a se formar no corredor: cochichos aqui, ali, e lá. O que diabos estava acontecendo?

Eu e Hyunwoo nos entreolhamos, sem entender. Então, quando o dono daqueles murmúrios passou pela porta, eu soube o motivo: Lim Changkyun, o garoto que foi acusado de matar alguém mês retrasado estava de volta.

PAPER CROWN 「 Changki, 2Won, Joohyuk 」Onde histórias criam vida. Descubra agora