💐Quem eu sou... cap. 1*

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Sou uma garota que nasceu em uma década considerada de ouro!!! Nasci em mil novecentos e oitenta... Assim mesmo... Oitenta... Tenho que dizer que foi uma ótima década, mas não vivi muito dela, era muito pequena, mas me lembro de ver as pessoas felizes e meu pai era um ótimo pai...
Era muito rica e de uma família muito tradicional.
Éramos a família Ferreira, conhecida em todos e odiados por muitos...
Não éramos fora da lei, mas também não éramos santos.
Puxei pra minha mãe, ela era uma mulher muito linda e assim como todas da família tinha sido escolhida a dedo pelos meus avós, ela também era de uma família rica, não tão rica como a do meu pai, mas era rica, isso já ajudou bastante na escolha deles, ela era bastante estudada e entendia um pouco de leis, isso ajudou ela ainda mais... Em uma época em que as mulheres ainda eram tratadas como dóceis e que tinham que esquentar a barriga no fogão e esfriar no tanque ela era bem pra frente de seu tempo e por ser destemida e curiosa ela foi eleita a se casar com o meu pai.
No início ela não aceitou, mas o pai dela fez valer do seu direito e a obrigou a se casar, claro que o meu pai teve algumas coisas a ver com isso, por que segundo ele ela era a escolhida em seu coração.
Nunca vi o meu pai um homem carinhoso, amoroso, ou coisas assim, mas com a minha mãe e comigo ele era bastante presente e nos faziam bastante felizes, até o dia em que o meu avô faleceu e meu pai por ser o mais velho e teve que assumir os negócios da família.
Ele faleceu já estava bastante doente e não tinham mais o que fazer, era bastante velho e pelo o que eu me lembro ele já estava ficamos pra semente.
Eu tinha dez anos quando tudo aconteceu e pra mim tudo não passou de um borrão, me lembro apenas do meu pai sofrendo muito e das mudanças que tivemos desde então, ele acabou se distanciando de mim e por ser bastante chamado pra festas a minha mãe acabou se tornando ausente também, sempre tinha que acompanhar ele e eu por ser criança tinha que ficar em casa, quem me socorreu foi a minha eterna Dadá.
Os anos passaram e eles estavam cada vez mais distantes, a escola me tomava muito tempo, gostava de estudar e quando fui ficando mocinha as paqueras e os amigos me tomavam o restante que tinha de tempo.
Já não nos víamos mais e sabia notícias pela Dadá que me contava as coisas e me entregava recados deles, acabava respondendo os recados pela Dadá mesmo e tudo ficava certo.
Nossa cidade natal era a tão famosa Belo Horizonte em Minas Gerais, éramos conhecidos por todos da cidade e meus pais viajavam muito, meu mundo era todo cercado de muros e seguranças, mas depois que aprendi algumas coisas eu dava um jeito de me safar deles, as vezes eu conseguia e quando isso acontecia eu aproveitava e curtia, foi assim que conheci o Antônio, em uma dessas escapadas pra uma das festas dos meus amigos. Foi paixão a primeira vista, uma homem alto, Moreno e muito forte, assim que ele me abraçou eu me arrepiei, não era pura, já tinha dado uma beijos, mas pra ele eu me entreguei e isso foi o início da minha ruína.
Grávida sem família e sem ele pra me ajudar tive que me virar e pra dizer bem a verdade hoje eu olho pra traz e vejo que sou o que sou devido a tudo o que eu passei, aprendi, sofri, mas acima de tudo me ergui...
Depois de ter sido mandada embora de casa e pelo Antônio me encontrei com minha tia Dolores e ela me ajudou, da forma dela, mas foi a única que me ajudou...

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... Conversa com a tia Dolores...

No dia seguinte eu acordei e me vi na casa da minha tia, ela com muito cuidado me chamou pra conversar.

— Está melhor agora menina!!??— Ela começou a conversa e eu já sabia o que viria.

— Estou bem sim tia, obrigada por ter me dado abrigo por essa noite, mas quero dizer que já sei o que vai me pedir e pode ficar tranquila que meu pai não vai saber que me ajudou, só queria ver com a senhora e pedir uma última coisa...— ela assentiu e eu continuei...
— Não quero que conte pra ninguém que me viu ou que nos falamos e se possível quero que me empreste um dinheiro pra poder sair da cidade.

Ela me escutou em silêncio e depois de um tempo assentiu, se levantou e foi em direção ao quarto.
Quando voltou me entregou um bolo pequeno de dinheiro e me disse.

— Não é muito menina, sabe que vivo em uma vida regrada, mas é tudo o que eu tenho. Pode levar e não precisa me devolver, sei o que está passando e sei que não está sendo fácil, eu ainda tive o pai do Bento comigo e você não tem nem isso. Vá em paz e que tudo dê certo pra você.

Em silêncio eu assenti, peguei o dinheiro, minhas coisas e sai.
Cheguei na rodoviária e olhei pra onde eu iria, teria que ser um lugar fora de Minas e teria que ser bem longe. Olhei em todos os nomes e apenas um me chamou a atenção... Santos... São Paulo... Meu destino estava traçado, eu iria pra Santos...

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Entrei no ônibus e ele me deixou onde precisava estar, longe da minha família, sabia que a minha tia não iria falar que esteve comigo, já tinha bastante desavença com meu pai, com certeza ela não queria mais uma.
Eles jamais saberiam onde eu estava e aqui em Santos era apenas mais uma Ferreira da vida, poderia encontrar um trabalho.
Não tinha experiência com nada, mas sabia que aprenderia rápido e esse era o meu ponto forte.
Desci do ônibus e com fome acabei entrando em um bar não muito limpo, mas pelo dinheiro que eu tinha não poderia me dar ao luxo.
Comi um lanche com bastante gordura o que pra minha surpresa eu gostei.
Estava sentada comendo e uma menina mais ou menos da minha idade se aproximou.

— Oi, sei que não tem muito, mas poderia me pagar um lanche?? Estou com muita fome.— Eu vi nela o mesmo que estava em mim... Solidão.

— Não tenho muito, mas um lanche posso te pagar, pode se sentar comigo, faremos companhia uma pra outra.

Ela me deu um sorriso triste, mas se sentou e pediu o mesmo o que eu estava comendo. Com calma e sem jeito nos apresentamos.

— Me chamo Carolina e você??

— Sou a Maria.

— Prazer Maria, mora aqui em Santos??

— Não sou daqui, cheguei ontem e ainda não encontrei um trabalho, estou procurando, se souber de alguma coisa pode me avisar por favor??— Eu acabei sorrindo pra ela.

— Não sou daqui também, cheguei agora pouco e também procuro trabalho.

— Boa sorte pra nós duas então??— E finalmente ela sorriu.

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