Caminho Iluminado

3.2K 228 257
                                    

Katsuki Bakugou resistiu a olhar fora das cobertas naquela madrugada. Seu orgulho lutava arduamente contra uma vontade desesperada de gritar por ajuda – mesmo sem saber no que, exatamente, alguém poderia o ajudar. Quanto tempo passara naquele quarto? Parecia cada dia mais apertado, e seu travesseiro manchado denunciava as lágrimas que vinha tentando esconder de si mesmo.

A voz de sua mãe ecoava na memória como um lembrete de manter a postura firme – um "grande caçador" não podia deixar um "fantasma" estragar seu futuro brilhante... certo?

"Preocupação era coisa de adulto, dor era coisa de fraco e medo era coisa de mulherzinha."

...então por que aquelas três coisas o perseguiam?

Algumas "entidades" da caça – dos que haviam transcendido em magia – se perguntavam como ele, em seus 11 anos, parecia ter drasticamente perdido aquela determinação e "imunidade" que tanto o diferenciavam dos demais caçadores-mirins. Katsuki, em contrapartida, se perguntava se realmente tivera essa "imunidade" um dia, principalmente após tudo que havia acontecido dentro das barreiras daquele reino.

Tanta coisa havia acontecido dentro das barreiras daquele reino... tanto havia se perdido, como ninguém ali percebia o óbvio?

Sentia-se a mais fraca e frágil criança de sua idade.

...

Katsuki ascendeu a lamparina mais próxima ao finalmente sentir coragem de se levantar. Sem pensar duas vezes, pegou um livro qualquer apenas para passar o tempo, e parecia irônico o quanto um "livro tedioso" era sua saída para suas paranoias infantis. Mesmo que fosse apenas mais um livro de "história da caça" comum, passou as páginas com cuidado para não receber reclamações depois. Sentia-se melhor, um pouco mais animado.

Até um ranger na porta interromper sua leitura.

— Ora... ainda acordado? – Uma voz amigável o interrompeu, entrando no quarto lentamente. – Ah, esquece, que pergunta idiota. Aqueles pesadelos de novo?

O garoto não sentiu vontade de responder, e o dono da voz sabia exatamente o que aquilo significava. Masaru Bakugou encarava seu filho problemático com um sorriso sereno, passando as mãos sobre a própria cabeça para ajeitar seus ralos cabelos morenos. Seu semblante era calmo e cansado, seus olhos castanhos expressavam uma paciência certamente sobre-humana.

— Katsuki... você não já leu esse livro umas 3 vezes? Não precisa estudar ele de novo. – O adulto indagou, sentando ao lado do filho. – Está preocupado com a volta pro treinamento de caça?

— Tsc, eu não estou "preocupado" velhote! Eu só... não tenho nada pra fazer. – A criança respondeu, emburrada, sem tirar os olhos das páginas coloridas.

Masaru suspirou fundo, ajeitando seus óculos quadrados enquanto pensava na melhor maneira de agir. Lembrou-se de como lidara com as noites mal dormidas de sua esposa, Mitsuki, conhecida por sua personalidade forte e por ser a caçadora mais revoltada e implacável do reino.

— Ei, velho, por que tá me olhando assim?!! – O loiro perguntou, confuso e incomodado.

— Não sei dizer... é que você parece muito com sua mãe, mas eu já te disse isso tantas vezes que você já deve ter enjoado.

— Bleh, todo mundo diz isso! – Katsuki disse com uma expressão de nojo que escondia um sorriso maldoso. – Credo, o senhor tá tão gagá que já fala como se ela tivesse morrido!

Seu pai suspirou fundo mais uma vez, rindo baixo e virando seu olhar até as cortinas pretas que balançavam na janela do quarto.

— Já faz uns dias que você não vem dormindo direito, não é? – Masaru perguntou, vendo seu filho responder com uma careta feia. – Eu sei que você pode manter sua aparência saudável com feitiços, e que também andou roubando meus remédios energéticos... – Deu uma pausa ao ver Katsuki arregalar seus grandes olhos vermelhos, surpreso. – Mas isso não é legal pra você.

Mokutekichi - KiribakuOnde histórias criam vida. Descubra agora