17 - Declaração de guerra

79 10 58
                                    

Em uma cena conhecida, o presidente se mantinha novamente em pé de frente para a janela de seu gabinete enquanto observava o movimento na avenida próxima do prédio. Dentre tudo que precisava lidar normalmente por sua posição frente ao país, ele ainda tinha a curva da Seção de Proteção que precisava manter oculta do Senado e de quem mais fosse necessário enquanto Raphael e Itachi não lhe davam alguma resposta definitiva sobre o minério.

Ele entendia a posição dos dois e seus medos diante de tantas incertezas, mas com tanta coisa sendo arriscada precisava se manter firme mesmo com aqueles empecilhos para que aquele risco que se propusera a correr com a criação da Seção ultrassecreta ainda no início de seu primeiro mandato, bem como brigar contra os novos adversários para tentar conseguir um segundo e manter o Projeto vivo. Certamente um novo sucessor faria barulho e sacudiria todas as toalhas em busca de respostas ou possíveis ameaças sendo planejada pelas costas dos que regiam o país.

Vencer era imprescindível para assegurar que Itachi e Raphael teriam no que trabalhar por pelo menos mais quatro anos, tempo esse que o homem esperava ser suficiente para que houvesse uma definição e o Projeto continuasse ou fosse, enfim, descartado, e os dois designados para outros locais e assim não perderem injustamente seus empregos. Com tamanha pressão, era de se entender porque ele não cobrava algo diretamente de seus homens de confiança, ou de si mesmo, além da obrigação de terminar aquele mandato de forma que a população pudesse julgar que ele seria capaz de estar ali por mais quatro anos.

Uma situação difícil da qual não podia escapar, no entanto. Raphael era um dos que mais entrava em contato consigo, sempre se justificando por atrasos e também contando alguma nova descoberta ou ideia para melhorar o programa de defesa que vinha sendo planejado em silêncio. Há muito o homem se perguntava se era saudável confiar plenamente em todos que o cercavam, e por ser o presidente a ideia de um traidor entre eles era assustadora a níveis estratosféricos. Todo o contato feito com Raphael era discreto, mas ele estipulara um prazo para se encontrarem novamente onde o futuro do Projeto e da Seção seriam definidos.

Enquanto isso, aparentemente, precisaria lidar com outras questões mais delicadas envolvendo suas forças armadas.

- John. - Ele cumprimentou o secretário de defesa com um aperto de mão. - Estava te esperando. Gostaria de um café?

- Eu estou bem senhor presidente, obrigado. - Eles se sentaram diante da mesa. - Agradeço por ter disponibilizado um horário para me encontrar.

- Deixe disso, seria ofensivo de minha parte não ter um momento para meu secretário de defesa. Você parece meio pálido, inclusive.

O homem se empertigou na cadeira. Estava cansado de lidar com homens poderosos demais aquele dia e de cafés servidos pelos mesmos, precisava de um repouso para seus nervos desgastados.

- Eu acabei de me encontrar com o Almirante de Guerra senhor. E nossa conversa não foi das mais diplomáticas.

- Que quer dizer?

- Creio que o senhor conheça o pai de Madara Uchiha, e sua posição dentro do Exército enquanto atuando para a proteção do país.

- Certamente que sim, mesmo não fazendo parte de meu governo. Algum problema com Madara?

- Tenho receio de que ele esteja trabalhando contra o governo. - A seriedade estampada no rosto do presidente era a deixa que o secretário precisava para continuar. - Eu não quero acusar o Almirante de Guerra, mas ele está omitindo informações que podem ser usadas contra o governo.

- Explique-se melhor. Você não pode dizer que não quer acusar um homem quando fez isso na frase anterior.

- Peço desculpas por minha incoerência, vou me explicar melhor. O pai de Madara era filho de Izuna Uchiha. O senhor chegou a ouvir esse nome?

- Em algum momento. Por quê?

- Nós estamos pesquisando possíveis fontes de terrorismo contra o país, e dentro do Exército ouviu-se falar que enquanto comandava os exércitos terrestres ele escrevera anotações as quais colocou num livro e armazenou em um cofre de Classificação S por quarenta anos. Durante esse tempo o Departamento de Defesa vigiou o cofre, mas uma vez que ele abriu a conta e o guardou nunca mais mexeu no conteúdo ou falou sobre isso, até onde se sabe.

- E diante disso vocês suspeitam que possa existir alguma ameaça construída por pelo menos quatro décadas, arquitetada pelo General de Guerra do Exército e passada em testamento para o filho que um dia viria a ser escolhido o Almirante de Guerra da Marinha, como em um complô dos maiores poderes em suas respectivas juntas?

- Infelizmente eu temo que sim.

A conversa se quebrou quando uma secretária apareceu com uma bandeja trazendo café para os dois. Esses minutos em silêncio na presença de outra pessoa se tornaram aflitivos para John, mas o presidente os aproveitou de melhor maneira refletindo sobre a pose cansada de seu secretário de defesa e suas palavras apressadas e um tanto desconexas.

Claro que, por ser o presidente, ele mantinha contato com Madara e conhecia a personalidade única do homem que comandava os mares que cercavam o território do país, e deixando de lado seus julgamentos infundados ele respeitava em muito o Almirante e por isso julgava, em verdade, as palavras do homem que bebia tremulamente o café que lhe fora ofertado.

- E por que você acredita que o Madara esteja arquitetando contra o próprio país?

- Porque ele se recusou a me entregar o livro.

O presidente o encarou quase com uma feição divertida. Se não fosse o presidente ele provavelmente teria rido.

- Eu preciso de mais do que isso para desacreditar totalmente do meu Almirante de Guerra.

- Senhor, aquele livro pode conter informações importantes e estratégias delicadas que podem comprometer a segurança nacional.

- Eu entendo seu ponto, você trabalha para a defesa e eu respeito seus medos, mas de onde vem essa certeza?

- Eu tive uma reunião com antigos Oficiais do Exército de patentes mais altas e que trabalharam com o homem. Todos garantem que ele escrevia alguma coisa sempre que tinha chance e que cuidou melhor da segurança daquele livro do que das próprias tropas a seu comando.

- Essas são acusações bem fortes. Você entende isso?

O secretário tremeu novamente. Em algumas poucas horas tinha se condenado diante de dois homens poderosos e sentia estar cometendo algum erro enquanto mirado pelo olhar cético de seu governante.

- Eu jamais me arriscaria sem ter certeza de meus próprios pontos senhor.

- Claro que sim, você é inteligente e íntegro, e eu agradeço por sua consideração desmedida. Mas considerando seus apontamentos, o que espera de mim exatamente John? Madara retirou o livro do cofre?

- Sim. E se recusa a me entregar. Com isso eu cerquei a casa dele.

O presidente recuou por um segundo.

- John, eu sei que o Madara deve satisfações ao Departamento de Segurança, mas cercar o imóvel do Almirante e tentar impedir ele de sair de casa é uma afronta.

- Infelizmente necessária. Se nossas suspeitas estiverem certas ele pode colocar o país em risco.

- E diante disso o que espera que eu faça? Você não viria até aqui sem alguma coisa mais conclusiva em mente.

De repente, o presidente estava cansado de situações incertas. De problemas inconclusivos já bastava a Seção de Proteção.

- Eu quero que prenda Madara Uchiha até ele entregar o livro ao Departamento de Segurança.

O silêncio que se sucedeu mediante as palavras do secretário se tornou incômodo para ele, principalmente quando o presidente riu. Vê-lo tomando aquela atitude trincou todas as estruturas de John Edwards.

- Você acabou de declarar guerra ao homem mais poderoso da Marinha John. Tenha certeza disso.

Resgatem o TITANIC!Onde histórias criam vida. Descubra agora