Capítulo 1 - Arconk

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No alto da muralha as sombras envolviam uma criatura de arco nas mãos, terrível arma para o seu tempo. Um simples arqueiro de um castelo em ruínas.
Um reino ameaçado, uma figura desconhecida na escuridão lutava numa das várias batalhas que vencera. Reis se curvaram à sua espada, sua coragem destemida marcava a era do seu reinado, o protetor de Hobbin, o rei das florestas inglesas...
O dominador da Terra atingido tombava ao chão. Sua bravura venceria àquela flecha no seu peito, mas não o veneno que penetrava em seu coração. Morreria dias depois. Rei Ricardo – Coração de Leão!...

. . .

Cedroville... Novecentos anos depois...

Em uma noite fria de chuva fina, já quase meia noite, uma voz em alto tom quebra o silêncio da rua.
— Volta para o teu mundo nojento! Verme de esgoto, sem sombra, e sem lar!
O verme, um homem magro, alto, de aparência poética, quase um vagabundo, boêmio em pé ao balcão.
— Vai pobre diabo! — grita novamente a mesma voz, feminina e vulgar. — vai gemer em outro prostíbulo!
As janelas se abrem, as luzes se acendem para ver o que seria aquele teatro na madrugada, porém, sem darem alguma importância, em virtude da frequência e baixaria do lugar.
O homem desce algumas escadas em direção à calçada. Na rua, quase sem luz, carros já não trafegam mais, apenas um reflexo sai de uma janela entreaberta no primeiro andar, lá no final do quarteirão.
De onde não se esperaria surgir nada, um vulto rasga o ar, numa velocidade do mal, deixando aquela criatura sem vida, desfigurada, estraçalhada no chão, como se fosse morto de dentro para fora. O que poderia ser tão destruidor, tão brutal, mortal e devorador? Algo tão assustador não poderia sair de um apartamento ou de uma casa, não! É algo que só pode ter nascido do inferno para aterrorizar o mundo, o que seria?
Tomando forma e se transformando numa coisa nunca antes vista...
A criatura, que havia saído de um portal, fareja o sofrimento e destrói como se fosse o juiz do juízo final. Vindo das trevas, onde o mal é absoluto, Arconk, filho primogênito de Lúcifer, cruel e impiedoso percorre a eternidade deixando suas iniciais nas mais horríveis obras de terror.
Na manhã seguinte, aquele corpo causa espanto e assombro à população que passa pelo local, assustada com tamanha crueldade. O que poderia ter feito aquilo? Uma pergunta que ninguém jamais ousaria em imaginar a resposta. O caos e o medo tomam conta daquelas pessoas, a cidade fica em alerta, porém, desprotegida para as situações que ainda virão acontecer.
Muito longe, em outra dimensão, um mundo dominado pelo mal, a miséria se espalha pelos becos. Repletos de seres mutantes, asquerosos, e multidões sacrificadas pelo soberano, tirano e carrasco, HOR. Tão perverso que o próprio filho se rebelou contra ele e corre por entre o tempo numa luta interminável para que o domínio do bem não seja tomado pelo o mal, lutando para que o desejo insaciável da morte seja abolido.
Seu nome... LARD – o vigilante das sombras. De onde menos se espera é onde ele está. Um vulto das sombras para se confrontar mais uma vez com os impiedosos que tentam a todo custo massacrar e dominar a Terra. Lard caminha à procura de seus inimigos cruéis e tentando por fim à carnificina espalhada pelo tempo, pois só assim ele poderá descansar em paz.
Nuvens negras tornam aquele mundo um vale de sombras onde a dor e o medo, orgulhosamente, saciam o poder do seu rei. Hor é quase o demônio, perverso, o senhor do mal, o dominador das trevas, o mestre dos portais. Ele massacra exércitos e esmaga quem for contra as suas vontades, seus desejos, arrancando seus corações e jogando-os às feras. O criador das profundezas escuras, a configuração e o esboço das trevas.
Seu reino é sem fim e a escuridão é infinita, assim como seus poderes. Mas, Hor não aparece em vão, ele tem seus discípulos, seguidores espalhados em toda parte, levando e executando suas ordens. A morte é apenas um prêmio para quem ele tortura.
Voltando àquela manhã, onde o mesmo corpo estraçalhado ainda continua na calçada, os admiradores não sabem de onde vem tamanha crueldade. Arconk, ainda insaciável, passa despercebido, invisível aos olhos dos mortais, pois seu faro é aguçado quando a lua surge e desaparece o sol. Na negridão, os seres vivos tornam-se presas fáceis à sua fome. Na luz do dia, os raios do sol o torna tão indefeso quanto o mais fraco dos humanos. E a qualquer momento, Lard, o vigilante das sombras, não demorará e estará onde ele estiver. Arconk tem duas possibilidades, esperar a noite e espalhar o mal na Terra ou voltar para GAD, as trevas profundas de Hor, mas a Terra é o seu objetivo, na Terra Arconk quer espalhar o seu domínio e petrificar o castelo de Lúcifer.
— Arconk!!! — Uma voz rasga seu nome, vindo do infinito, penetrando seu cérebro, como uma foice afiada, deixando-o atordoado por um instante. Ele sabe, ele conhece muito bem esta voz. Arconk olha por sobre os ombros e, distante, vê quem temia. Num sorriso irônico, pronuncia, lentamente,
— Laaard! Quantos portais serão precisos para que seja dado nosso último encontro, o seu fim? Veja Lard, toda essa gente não imagina, nem nos vê, mas, a noite é breve e eu estarei aqui para arrancar suas vísceras!
— Não se eu estiver aqui para impedi-lo e levá-lo para o seu lugar. O castelo de Hor!
— Nunca Lard, nunca!
Arconk tenta se materializar, mas a noite ainda está longe e suas forças desaparecem ao dia, ambos estão sem poderes é o preço dos filhos das sombras, Arconk desaparece e espera a escuridão para retornar.
Lard sabe que aquelas pessoas estão em apuros enquanto seu inimigo permanecer aqui. Lard vê crianças e mulheres felizes e contentes nas ruas, nos parques. Pessoas comuns vivendo uma vida comum. Por isso sua luta contra Arconk, o filho do mal, é inevitável. Ele sabe que um dia virá a batalha final.
Arconk é muito poderoso, e como filho de Lúcifer tentará reinar por toda a eternidade, como seu pai. Enquanto Arconk viver o mal reinará das trevas. Mas por enquanto, ele
descansa em algum buraco negro e quente na Terra...
Lard, por sua vez, caminha pelas ruínas de um antigo metrô, até chegar a um lugar entre escombros, como se fosse seu refúgio. Um laboratório muito equipado com máquinas desconhecidas, um local onde a humanidade ainda surge entre as paredes caídas. Lard mexe em alguma pedra e tudo se transforma. Máquinas, computadores, uma espécie de TV imensa, onde ele vigia a noite e Nozek seu fiel ajudante, no canto um tubo vertical negro onde ele adquire sua forma e torna possível sua aparição durante o dia.
Dr. Lau, isso mesmo Lard, já fora um simples humano há muito tempo aqui na Terra.
Seu nome, Lardius, assim como ele, tem origem romana. Ele foi um soldado cruel, perverso, fiel ao imperador, às suas leis, e atrocidades, massacrador de cristãos, temido e destemido. Perseguia apóstolos e crucificava devotos de Deus. Não foi difícil Hor tomá-lo por seu filho e torná-lo imortal. Por muito tempo, Lardius obedeceu e viveu ao lado de Hor, adquirindo das sombras todo o seu poder.
Lardius atravessou eras como um dos filhos das sombras, aterrorizando e destruindo. Mas, sua parte humana não morrera por completo e como a visão de Saulo, vê a luz e tantas cruzes que erguera, do sofrimento dos humildes, da agonia do mundo, diante a crueldade de Hor. Diante disso, rebelou-se abdicando o trono do mal e, como maldição, carrega consigo o poder das trevas, para combater as trevas. Sete anjos tocaram sete trombetas e cada trombeta gerou um anel parateado dando vida, magia e poderes. E a partir daí, Lardius passa a se chamar Lard – o vigilante das sombras. Ele estará na negridão do submundo, nas trevas do inferno, nos esgotos, onde não houver luz.
Lard adquiriu o conhecimento e inteligência pelos portais, tornando sua mente muito especial – o Dr. Lau...
Sete anéis aparecem brilhando e se fundem no seu peito. É noite, Dr. Lau dá forma a Lard. Sete anéis no peito, longos cabelos negros, grandes músculos, com uma roupa escura que envolve seu corpo como se estivesse viva...
Sete anéis parateados cada um com sua magia e poder...

Lard - O EclipseOnde histórias criam vida. Descubra agora