Capítulo 10 - O Discurso

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       Alguns dias depois numa palestra no auditório da faculdade, Dr. Lau fala para a sociedade de Cedroville e aos alunos do curso de História.

      - O tempo realmente, o carrasco da existência: modela e destrói.
      As eras passam sacrificam os homens, o que era belo e amável transforma-se em rugas e estorvo, porém a história continua e a existência do homem teima em prosseguir na sua missão de um dia ser pura e sábia novamente.
     Onde os mares de Nereu banhou a Creta das ninfas e trovadores, um dia Sócrates, Sófacles e Herodoto falarão de novo a humanidade devolvendo aos homens o conhecimento e a sabedoria perdida que rompeu séculos e milênios.
     Através dos escudos e armaduras o homem mostrou sua força e ignorância para os humildes sem vestes e sem espadas, milhares de almas boas banidas da terra pêlos hipócritas soberanos e ímpios, matando e mutilando em seu nome como o dono do mundo e dos homens.
     Essa espécie se petrificou e por todas as eras atravessou dinastias e fronteiras perseguindo os fracos e inocentes, o mundo cruel e desajeitado, as forças do mal ganharam mais força e tornaram-se familiar na terra.
     Os mundos escuros e subtérreos subiram as cidades e fizeram seguidores, instituíram legiões entre os homens, lideres que promoveram guerras deixando nos livros capítulos de sangue e carnificina.
     Poetas mortos, loucos vadios, peregrino sem rumo, um Éden de fogo...   
     Crianças feitas escravas do machado e do prazer, sonhos vindo do ópio e a desgraça das palavras, enfim, a ética do filósofo perdeu-se na sociedade fingida e demagoga "O Caos merece os homens".
     Nada mais é ficção... as centúrias se confirmam mais e mais, cada época a besta libera um dos seus filhos para se divertir aqui entre nós.
     A tenda milagrosa cobre o ar de contentamento, enebriando as mentes e poluindo os seres, o carrossel gira e tudo se mostra maravilhoso aos olhos míopes da humanidade, mas, num gesto tresloucado a fera mostra a face e a carranca se revela, não há como fugir a dor é o preço e o pagamento das ilusões.
     Sombras caminham na noite, os vultos vivem nos esgotos em meio aos ratos e vermes, na lama e na podridão e mesmo assim os homens se deixam escravizar por essas criaturas.
     Todos nós somos parte desta demonstração de inferioridade e de fraqueza, somos levados a desordem pela vã consciência própria de cada um, a oportunidade nos foi dada como o feto à vida, mas, a desperdiçamos feito diamante na mão de mendigo, seriamos perfeitos? O que somos então?  O mal nos baixa a cabeça e num lanho incisivo leva-a para a sua parede de troféus, inda sorrimos e cremos que nada podemos fazer.
     Meu Deus! o que houve com teus filhos? E o teu filho que morreu de braços abertos dando esperança a humanidade, o que houve?
Ninguém mais te ouve? Ninguém mais te segue? O que enfraqueceu a nossa fé?
     Lúcifer tornou-se tão poderoso e necessário aqui entre nós, para que seus ensinamentos se empoeirem nas estantes.
     O mundo não é meu, nem dos meus filhos, o mundo pertence aos que já morreram e aos que inda virão. Nós hoje somos os repensáveis por eles, todos eles...
     Enquanto os idiotas contam estórias encostados aos taxi, os comunistas falam em Karl Marx e assim se segue a vida, uns de menos outros de mais. Como Nietzche falou  "tudo que toco vira cinzas", nós também temos a capacidade de sermos fogo as vezes quando preciso para queimar as epístolas do mal.
     Nem o código de Hamurabi, nem A Pedra de Roseta foi o bastante para mostrar aos homens a capacidade de evoluir e de criar, nossos antepassados ainda continuam bem a nossa frente, além do que somos e do que pensamos, somos tão minúsculos se comparados as maravilhas de Gizé e a perfeição da Metafísica.
     Não temos conhecimento ainda para desvendar mistérios de cinco mil anos atrás e no entanto já voamos.
     As contradições das eras. Torres de Babel que caem com o vento.
     Poderíamos ser um conto de final feliz dos irmãos Green, mas, ainda estamos num prefácio de Alan Poe, muitas coisas virão, o terror não é um estado de espírito, é o espírito no estado de afobação e sofrimento.
Tolda-se a realidade, a verdade persistente que justifica a moral e o dever, cada pedaço do ser humano foi unido pela verdade e nela está toda base e a sustentação do homem, a verdade não trai e nem subjuga, delineia o caminho sem pântanos e feras levando a porta luzida dos astros.
Na grande diáspora  todos nós nos perdemos do verdadeiro caminho e abalroamos entre si e formamos colônias cada vez mais distantes umas das outras, e na briga do homem contra o homem as trevas e o mal saiam vitoriosos e fortificados, nutrimos o mal com as nossas maldade, ambições e egoísmo, somos serenos aos nossos filhos e não aos nossos pais, choramos e esquecemos promessas e dividas divinas, perdemos quem morre e os amamos pra sempre, no reencontro esse amor será mais ainda!.
A poucos nossa cidade foi atormentada pelo prazer de um ser horrendamente cruel, deixando em pânico e em sangue nossa gente boa e inocente, o que fazer diante tal situação? Não somos páreo para o verdadeiro mal das trevas e de Lúcifer, somos valentes e fortes para nós mesmos, não somos nada para a sublime Satânea a dama do festim profundo, dos mármores escaldantes, das alcovas sem luz.
      Porém dentro de cada um de nós existe uma centelha divina que acende um farol e é este farol que orienta na escuridão dos oceanos a salvação do mundo, um pouco de bondade que existe em cada coração é força para o triunfo final do bem, e assim como as criaturas do mal anseiam pelo caos, existe as criaturas do bem que anseiam pela paz.
      Gostaria de deixar nosso profundo agradecimento ao protetor misterioso que não sabemos bem quem é, mas, conhecemos muito sua luta para proteger a terra. Lard! Onde estiver sei que está ouvindo, obrigado por existir e sei também que onde o mal estiver encontrará o vigilante das sombras e que sua luta seja sempre vitoriosa, para o bem de todos nós.
      Deus dividiu o dia para o trabalho e a noite para o descanso e o mal fez assim da escuridão sua morada nas profundezas das trevas, o reino negro e escuro do senhor do mal a noite esconde em suas esquinas a verdadeira fábula do terror... por isso meus amigo ao sumir do sol as criaturas das trevas se vestem para o baile maldito da perseguição, pássaros agourentos e açougueiros sobrevoam os arranha-céu celebrando as vítimas do silêncio.
      Durmam e protejam seus filhos e suas famílias, abram seus corações para que nada atravesse suas portas.
      Durmam! Durmam! Durmam! Pois enquanto dormimos alguém vela por nós, cuidado! um deus néscio paira sobre nós. oh! Cronos maldito...
      Sejamos generosos e menos imbecis, deixemos as mariposas ao redor da luz. E lembrem-se que o girassol sem sol apenas gira.
      Sejamos todos felizes - E que assim seja - Muito obrigado!

      O público não resiste as palavras do Dr. Lau e aplaudem de pé, todos eufóricos e entusiasmados numa manifestação de respeito, afeto e de profunda gratidão, aplaudem de pé e repetem o gesto por vários minutos. Padres, professores, cidadãos e estudantes, esperam ansiosos o desfecho do discurso para saírem dali um pouco confortados e cumprimentar o orador.
reitor orgulhoso agradece a presença do Dr. Lau e honrosamente aperta a mão do professor proferindo palavras de agradecimento e de prazer, os alunos tentam chegar perto do mestre para aperta-lhe a mão, mais em vão, a multidão o cerca, mas, existe uma que ele jamais deixaria de cumprimentar: Zoira.
Aos poucos todos vão se dispersando e Dr. Lau tem a oportunidade de estar com sua aluna e amada.
     - Dr. Lau você foi magnifico, como foram lindas e bastante interessante suas palavras e sem dizer que foram muito profundas.
     - Obrigado Zoira! Espero ter despertado alguma coisa nova em você.
     - Quisera Dr. ser digna de merecimento de uma palavra se quer...
     - você não só merece como é a dona de todas as minhas palavras e dos meus versos, quero lhe dar uma coisa!
     - O que é Dr.?
     - Fiz pra você, espero que goste.
Dr. Lau tira do bolso um papel escrito e da para Zoira.
     Zoira pega-o e ler atentamente e em voz quase sussurrante ler.

Zoira
Longe onde o sol o horizonte doira
Vejo teu nome no céu azulejado
Um momento ter-te ao meu lado
No infinito afobado grito: Zoira!

Corta o peito lâminas de tesoira;
Dentro de mim morre um monstro calado
Feito verme em lama acobardado;
Morte esfaimada  -  solidão loira.

Creta perdida de deuses sofridos;
Nereida de tez lãnosa, alvacenta
De corpo pequeno, idílico vestal.

Teus olhos, guerreiros destros, temidos...
O zombar de tuas Íris me contenta,
De tanto bulilar me faz quase mal.

      Zoira atentamente ler cada verso com entusiasmo, sem acreditar que seria capaz de inspirar tamanha beleza, de uma profundidade assustadora, um soneto de mais perfeita e infinita inspiração, um soneto o príncipe dos poemas para uma princesa encantadora, Lau derramou todos seus sentimentos reveladores em cada verso em cada palavra, reluzindo o sol da sua paixão nas Íris azuladas de sua amada.
     - Dr. Lau nunca pensei que poderia servir de modelo para um lindo poema é muito bonito, muito obrigada. Não poderia imaginar que além de um profundo conhecedor de história inda fosse um grande poeta.
Dr. Lau um pouco tímido sem saber muito o que responder a Zoira, discretamente deixa escapar seus sentimentos.
     - Não foi muito difícil Zoira, apenas escrevi o que ditou meu coração, não seria nada  exaltar sua beleza para quem não consegue deixar de te ver no firmamento entre as estrelas.
Pôr um momento Zoira silencia-se com o poema nas mãos...
Dr. Lau não sei o que dizer, o que poderia eu falar para agradecer tamanha gentileza e carinho, um dia quem sabe poderei retribuir?
     - Não é gentileza Zoira, são sentimentos e você já retribuiu me dando a oportunidade de te esculpir em meus versos e no meu coração, serei paciente um dia Deus será  generoso para comigo, quem sabe?
    - É Dr. Quem sabe...
    - Zoira responde deixando uma esperança no ar.
    Com o salão já quase vazio os dois caminham em silêncio...

Lard - O EclipseOnde histórias criam vida. Descubra agora