Capítulo 16 - O Monastério dos Frades Obesos

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Tordesilha é um frade gordo como todos do lugar, atrapalhado e brincalhão, diverte todo o colégio episcopal, o que mais chama a atenção do lugar é o jogo de futebol todas as manhãs num campo improvisado no claustro, tradição de muitos anos, antes mesmo do esporte se espalhar pelo mundo. Com seus longos mantos pretos e crucifixo dependurado a balançar em seus pescoços grossos, o jogo dos apóstolos como é chamado, devido os seus doze jogadores, seis de cada lado e o décimo terceiro serve de juiz.
A muito tempo a igreja isolou este lugar, os padres que exerciam o pecado mortal da gula eram secularizados e passavam a viver esquecido entre montanhas e florestas (hoje situa-se nos arredores de Cedroville), agrilhoados e torturados o frades viviam em constante jejum em observância, o sacrifício da santa inquisição, outros morriam antes de se purificar e atingir o peso ideal para entrar nas portas do céu.
O Monastério dos Frades Obesos, assim ficou conhecido o lugar, amaldiçoado pelas almas gordas, sofridas e agrilhoadas nos calabouços labirínticos e celas, séculos, a tradição continuou e hoje sem a inquisição vivem os adeptos da seita que foi formada pelos sobreviventes depois do fim do terror, das torturas e mortes, os frades obesos continuaram ali a viver isolados na floresta.
Tordesilha, o frade, cai e o grupo todo ri do amontoado de banha que se balança todo no chão.
— Vamos Tordesilha levante-se! — Grita o padre Gordon — Temos pouco tempo para o fim do jogo.
O inesperado acontece, um chute faz a bola escorrer lentamente e repousar no meio da rede da pequena trave que fica no canto esquerdo, quase em frente a porta central, a porta da saída.
— Goooool!!!! — Pulam todos de alegria, menos o time perdedor, claro.
O time corre para o meio do campo para cumprimentar o goleador, padre Sebastian, mas, subitamente a alegria acaba, é o padre Antônio o abade do mosteiro, apelidado entre os alunos de Antonino devido ao seu coração tirano feito um César. Antônio cruza o pátio, todos permanecem calados e de cabeças baixas, Tordesilha insatisfeito com a derrota xinga o companheiro do lado.
— Sua melancia podre! — Grita Tordesilha ao padre que causou a derrota do seu time.
— Quem falou isto? — Pergunta Antonino se aproximando dos frades — Vamos! Quem disse isso?
Todos quietos e mudos permanecem até que Sebastian revoltado.
— Tordesilha senhor! Ele que me xingou — Sebastian aponta para o frade brincalhão.
Tordesilha acostumado sabe que o castigo é imediato e a alcova é certa, o quarto das lamentações mais uma vez vai Ter o seu hospede corriqueiro.
Antonino perverso e rude não deixaria passar tal insolência em pune, com certeza o castigo viria e viria bruscamente, o Abade rege as leis e conserva ainda a mesmas ordens tirânicas secular dos Papas Imperadores. Gordon tenta advogar o amigo, mas, também é levado ao castigo pela a interferência, padre Antônio não perdoa indisciplina e dessa vez ele tem um bom motivo para a punição, não por causa da brincadeira de Tordesilha, mas, porque tem outras finalidades, a punição dos frades servirá para completar seus planos que ficaram guardados por muito tempo e é chegada a hora do Monastério acolher novamente seus donos, para isso Antônio ficou todos esses tempos conservando o lugar para a reunião dos verdadeiros frades obesos no calabouço e de acordo a lenda dois frades ingenuamente puros deveriam servir de chave para a porta que da acesso ao mundo dos torturados e libertá-los.
Tordesilha e Sebastian, apenas dois frades que apenas se divertem e oram.
— Hoje terão um castigo diferente — Antonino fala em alto tom amedrontador — O calabouço!
Tordesilha nunca pisara em tal calabouço, mas sabe que não é nenhum lugar bom de se passar noites e mais noites.
— O Calabouço dos Padres Obesos — Continua Antônio — Onde eram colocados por insubordinação e protegido dos pecados carnais, onde permanecem até os dias de hoje para sempre pagando as dores de Cristo por não atenderem o chamado da luz e quem não entendia pagava o preço de suas chagas em chicotadas, vocês subornaram a ordem do Monastério e ficarão lá até aprender o verdadeiro sacrifício dos ensinamentos.
Tordesilha não imagina do que o Padre está falando, não acredita que ainda exista esse tipo de coisa no Monastério.
— Não tenha medo Gordon, Padre Antônio está apenas nos metendo medo, para não cometermos mais indisciplina.
— Espero que sim! — Responde Gordon.
Os dois saem em direção ao subtérreo escuro, grandes escadas úmidas, descem revelando um lugar tenebroso e frio, passam uma grande grade que une as paredes do corredor não deixando passagem alguma, o Padre com a grande chave fecha a grade e da as costas.
— Espere Padre Antônio! — Grita Gordon
      — O que vai acontecer conosco?
— Só Deus sabe meu filho! Ou o Diabo!!! Ah!!
Padre Antônio se afasta com um jeito diabólico e satânico.
— Meus Deus!!! Tordesilha o que aconteceu com o padre Antônio? — ele não está brincando.
Os Frades começam a se apavorar e adentrar mais e mais os corredores, celas escuras, largas colunas, apenas tochas acesas nas paredes refletindo o terror do lugar, os longos corredores que levam a lugar desconhecido, revelam nas suas entradas imensidão e medo, cada um guardando o desespero dos seus antepassados, ratos farejam carne nova já que seus jantares prediletos já viraram ossos a muito tempo, Gordon escolhe um dos corredores e entram em busca de uma saída, amedrontado Tordesilha pega pela a mão do amigo dando o sinal que não queria ir, mas, não há outro jeito os dois caminham amedrontados e quanto mais caminham mais aumenta o medo, uma porta de madeira já desgastada pelo o tempo com grandes dobradiças de metal, entreaberta um pouco lá na frente, os dois passam a porta, uma cela pequena e estreita com um grande esqueleto deitado sobre uma larga cama de madeira no canto da cela, Tordesilha apavorado solta um grito de medo e sai correndo da cela, Gordo vai atrás, desesperados seguem um outro corredor dando de frente com o grande salão, o salão da reunião. Uma enorme cruz na parede com uma inscrição: dois frades obesos para dois castiçais acesos!
— Veja Gordon o que isto quer dizer?
— Não sei, nem quero descobrir, temos que encontrar um jeito de sairmos daqui.
Os frades se viram e vêem vária cadeiras em fila como se prontas para uma palestra, o calabouço escuro apavora até mesmos os mais valentes.
Em cima o arrependimento bate ao frade Sebastian causador do castigo e da sentença que seus amigos cumprirão, a consciência pesa e seu gesto amargo ainda burila a sua cabeça, dentro do seu intimo ele se remexe e o remorso lhe atormenta — Meu Deus! o que eu fiz? Se pergunta Sebastian andando desesperado de um lado a outro tentando aliviar o seu gesto medíocre.
— Um Judas, isso que Senhor, delatei o meu amigo e por isso sofre, eu tenho que fazer algo para ajudá-los e redimir-me.
Sebastian luta com sua consciência e se debate nas paredes da prisão que ele construíra para si mesmo, mas, enquanto isso o tempo passa e a noite começa a adentrar, o calabouço começa a mostrar sua tormenta ainda mais macabra e assustadora, revelando a face oculta do monastério.
Espectros gordos que sofreram em carne e sofrem ainda mais no mundo invisível, o mundo desconhecido aos homens, em torturas nunca antes usada por cruéis filhos de Deus, os ais começam a sair das celas e paredes, correntes em elos perdidos arrastados nos corredores, visões rápidas de vultos caídos, sofrimento que acalenta os olhos do mal, Tordesilha se apavora e jamais entenderia porque padre Antônio faria isto com os pobres presbíteros.
— Ah!!!! Livrem-me daqui!!! — Uma voz vindo do infinito escuro.
— De onde veio esta voz? — Pergunta Gordon — Vamos encontrá-la!
Gordon corre ao encontro da voz, Tordesilha mesmo contra a idéia segue o amigo, corredores a esquerda, corredores a direita, entre dúvidas e medos a voz leva os frades ao seu encontro, cada vez mais suplicante, os dois correm perdidos entre tantas entradas e celas, a voz vai aumentando cada vez mais dando o sinal que estão próximo.
— Vamos Tordesilha estamos bem próximo — Grita Gordon
O pobre Tordesilha com todos seus quilos balançando em banha, ainda mais pesado fica atormentado como está, o seu cansaço é visível e quase se nota que já mão pode mais andar.
— Espere Gordon não consigo mais ir adiante
— Estamos chegando Tordesilha agüente mais um pouco — Gordon ansioso para descobrir de quem aquela voz — Esta voz não me é estranha.
Sem forças a voz se cala perdendo as esperança de alguém ouvi-la, porém na ultima curva dos corredores, o mistério se mostra aos olhos de quem procura.
— Meu Deus Gordon! — Tordesilha se assusta com o que vê.
Um homem de batina negra acorrentado na parede, cadavérico, caído no chão quase sem vida.
— Quem são vocês? — Pergunta o triste homem — Por Favor não me torturem mais!
— Não se preocupe não viemos para isso — Responde Gordon — Estamos aqui presos feito o senhor.
— Quem é o senhor? — Pergunta Tordesilha
— Sou o padre Armando.
— Porque fizeram isso com o senhor padre? — Gordon ajudando o padre a se sentar.
— Há muito tempo fui o orientador desse monastério, servia ao padre Antônio e cuidava dos alunos, era cuidadoso com os ensinamentos do Cristo e passava a verdadeira palavra do evangelho, cuidava da horta e do pomar, do bosque e dos jardins, tempos bons e felizes, até que descobri a verdadeira face de padre Antônio e sua verdadeira missão aqui no monastério, a reunião e o porque da tradição dos frades obesos é a chave para todo o mistério.
— Mas que reunião e que chave é esta? — Tordesilha sempre confuso.
— Duzentos anos passarão de sofrimento e piedade aos frades obesos que sofreram e morreram aqui mesmo nestas celas, revoltados suas almas clamaram a Satã e foram ouvidas, Antônio na verdade é servo do demônio, por isso seu nome rima perfeita, em troca o diabo lhes entregaria o monastério depois de trezentos anos usando suas almas para o deleite satânico e só após esse tempo eles se reuniriam para tomar posse e servi-lo para sempre, mas, para isso teriam que encontrar a chave para abrir a passagem para o mundo dos encarnados, assim o monastério serviria de base para a revolta dos frades contra a igreja que os torturou       — Em que dia nós estamos?
— 14 de Agosto padre — Responde Gordon
— Então amanhã a noite será o tão esperado dia, meus filhos, o dia do reencontro, quando os frades obesos tomaram novamente posse do monastério, mas, dessa vez será diferente, eles virão como cavaleiros do mal, para cumprirem seu trato com o mestre das trevas...
Padre Armando desmaia devido o cansaço e fragilidade, os mistério aos poucos são revelados e os frades mergulham num mundo de arrepios. Tordesilha não consegue esconder o seu medo enquanto Gordon tenta obter o controle da situação.
Na manhã seguinte padre Tito, conselheiro de Antonino atravessa como todos os dias as varandas do monastério, sobe uma escada que vai ao primeiro andar, dobra a esquerda até chegar no final de um corredor onde se encontra os aposentos de Antônio, o lugar onde ninguém pode ir a não ser seu conselheiro.
— Bom dia padre Antônio — Cumprimenta Tito — As dez horas está marcada a chegada dos alunos da faculdade de Cedroville, com o seu professor para a visita agendada já algum tempo.
— Então hoje será um dia movimentado padre Tito? — Antônio pega uma maçã da bandeja e se dirige a janela — E quem é o professor?
— Dr. Lau, padre.
— Ah! Lau já é bastante conhecido entre nós, não é mesmo?
— Sim senhor. Dr. Lau já nos ajuda bastante e é um dos nossos colaboradores, junto aos nossos alunos sempre que precisamos.
— Teremos muita gente amanhã, faça com que sua estadia seja bastante favorável, pois a noite de amanhã será inesquecível.
Padre Antônio ergue suas mão o quarto parece trovejar, padre Tito ri assustadoramente como todo cúmplice das trevas satisfeito diante o seu senhor, com seus gestos bravio como a fera do seu interior.
As dez em ponto o ônibus da faculdade chega aos portões alto do monastério, os frades sempre alegres com as visitas, principalmente dos alunos da faculdade que já são amigos e sempre esperam com ansiedade, Dr. Lau o primeiro a descer, vai de encontro ao padre Tito que os aguarda, em seguida descem os alunos ficando Zoira por ultima a descer.
— Bom dia Padre Tito — Lau ergue as mãos cumprimentando.
— Como Vai Dr. Lau! Padre Antônio o aguarda.
Lau deixa Zoira no comando, orientando os alunos enquanto vai a secretaria falar com o padre Antônio.
— Dr. Lau! A quanto tempo que não nos visita — Padre Antônio levanta-se atrás da grande mesa de madeira
— É sempre bom vir aqui padre, os alunos aprendem muito sobre o passado da igreja e sobre a bíblia — E a tradição dos frades obesos padre Antônio ainda permanece?
Padre Antônio por um momento deixa fluir nos seus olhos as chamas do inferno, suas mãos avermelham-se queimando a madeira da mesa deixando um buraco negro na madeira, mas, controladamente sua santidade prevalece
— Lendas medievais meu filho, apenas lendas.
O padre responde ainda tremulo, Lau nota algo de estranho em seu rosto, seu olhar profundo e suas mãos quentes. A tradição sempre foi um espinho para a igreja e somente o alto clero e os poucos estudiosos no assunto a conhecem.
Lau desce as escadas pensativo, sem perceber é jogado longe atropelado por uma montanha de banha, meio tonto caído no chão, vê o frade Sebastian vindo em sua direção.
— Desculpe Doutor!— Sebastian se agacha e ajuda Lau — Não percebi o senhor.
— Tudo bem. Diga-me Sebastian está acontecendo algo no monastério?
O frade meio amedrontado com o que pode acontecer com a sua resposta, olha cabisbaixo para o professor deixando entender que algo estranho está acontecendo, porém teme alguma repreensão.
Enquanto Lau e Sebastian conversam, no alto da janela do primeiro andar Padre Antonio assiste a tudo de braços cruzados.
— Pobre Sebastian! Sempre com sua língua grande, terá que se juntar aos outros logo — Antonio se volta para a sua mesa — Tito faça com que Lau e seus alunos pernoitem hoje no Monastério, serão muito bem-vindos ao banquete dos Frades Obesos, com certeza eles virão famintos e terão que saciar a sua fome.
Tito se vira entendendo muito bem a ordem do seu superior.
— Sim! Padre Antonio, farei com que tenham uma estadia muito confortável, logo logo a noite eles terão o sono dos condenados. Padre Tito ajoelha-se e beija a mão já estendida do Padre Antonio e sai para cumprir as suas ordens.
No pátio Lau ouve toda a estória do frade e acalma o pobre jovem dos seus sentimentos de culpa, prometendo que irão sair bem do calabouço. Os alunos atentos a estrutura antigo do prédio fazem suas anotações sem perceber o que realmente está acontecendo, Zoira sempre atenta, está num mundo de contentamento pleno, pois a história antiga a fascina e nesse assunto ela esbanja curiosidade e afeição.
No refeitório meio-dia em ponto todos reunidos a uma longa mesa de madeira crua, no meio de um enorme salão, os frades em seus regimes forçados apenas com um prato e uma pequena porção de arroz e verduras, nada mais além. Antonio encabeça a mesa, todos de pé fazem a oração de agradecimento ao alimento como de costume, inclusive os alunos, sentam-se todos mudos, pois padre Antonio não permite conversa durante as refeições e as punições são devidamente aplicadas aos desobedientes, é a sua doutrina e Lau sabe que não pode interferir, por isso antes já orientara aos seus alunos.
Um cálice de vinho ao lado direito de cada um a bebida sagrada dos sacerdotes, o sangue de Cristo para o fortalecimento da alma e aliviar os pecados do homem. Novamente uma outra oração mais breve e todos se levantam com a permissão de Antonio, os frades se dirigem aos seus aposentos enquanto os alunos vão para a biblioteca.
— Lau vou descansar um pouco, logo nos veremos na missa das cinco horas — Padre Antonio se dirigindo a porta da saída.
— Sim Padre! Até mais tarde.
Os grandes muros do monastério meio macabro meio tenebroso, deixando o espaço interno cavernoso apropriado para a morada dos filhos do mal, mas, tudo não passa do estilo de sua construção. Na biblioteca Zoira sempre concentrada lê cada livro com atenção única, atenta e delicada, Dr. Lau se aproxime e a admira, pede a Deus um dia ter aquela menina em seus braços e faze-la feliz, um sonho, um amor distante que teima em persegui-lo. Lau não reagirá ao infortúnio dessa paixão, caminha entre as fileiras da biblioteca, no canto Sebastian escondido atrás de um grande livro de magia; no canto superior um grande crucifixo dependurado na parede, todos em silencio... Lau olha o crucifixo como e pede que aquele lugar santo não se transforme numa morada para o demônio.
Nesse exato momento no calabouço os frades se perdem cada vez mais, apavorados caminham esbarrando em si mesmos de tanto pavor, as horas passam devido ao medo o lugar se transforma em algo cada vez mais assustador e satânico. Tordesilha de tanto cansaço senta-se, encosta-se na parede e apaga feito um desmaio, Gordon ainda em pé atenta-se aos movimentos; a parede devido ao peso do frade se move deixando-o cair, assustado Tordesilha se levanta. Uma espécie de porta de pedra se abre, um buraco negro do outro lado, Gordon o mais valente da o primeiro passo em direção, Tordesilha logo atrás segurando o hábito do amigo, uma escada empoeirada; descem alguns degraus e chegam a sala da tortura, um ambiente assustador com todos aqueles apetrechos antigo feitos unicamente para causar dor e morte, ainda sobre alguns, esqueletos enrolados em teias de aranhas, mostrando seus últimos gestos de suplicas e clemências, um outro se revela com um tipo de lança de metal enfiada em seu tórax, provando que a tortura não foi suficiente para leva-lo a morte, então tomaram uma decisão mais precisa, enfiaram a lança em seu corpo acabando ali sua luta pela vida.
— Então tudo é verdade! — Exclama Tordesilha com os olhos abugalhados.
— Agora que sabemos da verdade eles não vão querer que saiamos mais daqui! Estamos perdidos Tordesilha! — Gordon sente que realmente estão em perigo.
De repente o silencio é quebrado pelo badalar do sino da igreja, é hora da missa das cinco, padre Antonio já se encontra de pé ao altar, padre Tito ao seu lado sempre lhe assessorando, os monges se apressam com os crucifixos e seus hinos nas mãos, Lau e seus alunos os seguem, uma grande porta na entrada com degraus altos, vários assentos de madeira, cumpridos indo de uma extremidade a outra do salão, com vitrais laterais meio rococó. Todos se sentam e o silencio paira em todo ambiente, Padre Antonio diz algumas palavras ainda em latim ergue a bíblia e inicia uma oração. Quando todos estão atento para o sermão Antonio ergue um livro diferente a porta se fecham sozinha, as imagens nas paredes se transformam em criaturas assustadoras, os castiçais se acendem em chamas, labaredas se soltam ao ar, sangue transborda dos cálice, o altar se abre erguendo-se um enorme cetro, atrás do altar o chão se abre dando vista a uma passagem secreta para o calabouço, todos se apavoram.
— Ah! Ah! Hoje é o dia! O retorno dos frades obesos e vocês todos são convidados para a festa! — Padre Antonio de pé com o tridente na mão.
Lau corre de encontro a Zoira, a pega pelos braços e sai na confusão, todos são forçados a descer pela entrada, os padres se misturam aos alunos que correm atordoados para a escuridão. Todos saem no salão onde está preparado para acolhe-los.
— Sebastian — Chama Lau — Cuide de Zoira pra mim, tenho que tentar subir.
— Deixa comigo professor! — Sebastian corajosamente responde.
Mas, Sebastian não sabe que está marcado para o castigo de Antonino; Lau corre em direção contrária a procura dos frades perdidos, em cima os raios do sol começam a desaparecer, a penumbra da noite logo fará surgir o seu guardião: Lard!
Will, um dos alunos apavorado tenta escapar, uma criatura vinda das imagens com suas garras amostras esmurra o rapaz que cai com o rosto sangrando, Zoira corre para ajuda-lo.
— Aquele que tentar novamente não será poupado — Fala Tito com uma voz forte — No badalar das seis horas, todos voltarão, sentem-se e assistam a reunião do revolver.
Lau correndo encontra a cela do padre Armando, ainda consciente amarrado aos seus grilhões, a esperança salta aos olhos do homem, com certeza já não acreditava mais que pudesse um dia sair de tal prisão, tão infernal quanto à ilha do diabo. A noite Lentamente vai cobrindo a terra com sua negridão, inexplicavelmente para o padre Lard vai surgindo bem em sua frente. Aquela criatura esquisita será a sua salvação.
— Não se preocupe Padre! Vim pra lhe salvar
Lard com o poder dos elementos derrete as correntes que aprisionam Armando a muitos anos, e novamente livre da tortura férrea o pobre homem sem forças sorri aliviadamente.
— Liberdade seja bem vinda — Armando caindo ainda de fraco — Eu viverei meu filho, eu viverei — A séculos a tão esperada hora está chegando... os monges jovens e os castiçais a chave para a vinda do oráculo.
— Padre descanse, logo eu voltarei para buscá-lo — Lard acomoda-o no canto da cela.
— Não! leve-me com você.
Nos escuros um eco de socorro corre pelos corredores estreitos, vindo da sala de tortura, Tordesilha e Gordon correm sem direção aonde o medo os levarem, infelizmente seu destino não seria o melhor para aquela situação, uma porta, um brilho e novamente estão na sala de reunião, nada poderia ser tão feliz para Antonio.
— Sejam bem vindos! Agora a reunião está completa.
— Viu só o que você fez Gordon — Reclama Tordesilha.
Os guardiões bestiais rapidamente prendem os frades com suas garras afiadas, Antonio com um gesto aponta para o chão de onde se ergue duas taças de pedra em fogo escaldante, com altas chamas infernais.
— Andem logo coloquem os frades até que queimem até a ultima gota de banha desses seus corpos pecadores — Antonio ordena as criaturas.
A sala toda aflita sem chance alguma de poder salvar os frades, apavorados nada podem fazer. Os frades são arrastados um do lado de cada taça, o calor intenso avermelha todo o lugar tornando-o um pequeno quarto do inferno.
— Tordesilha agora entende aquela frase na parede? — Gordon dando o sinal com os olhos.
— Meu Deus! Somos nós e os castiçais.
— Vamos começar com a reunião, calem-se todos — Antonio com o livro na mão.
A tão esperada reunião, enfim, se inicia... Antonio recita suas palavras.
— Venham! Hoje é o dia da revelação, todos aguardamos por esta ocasião a séculos, por toda paciência tida se tem recompensa merecida, venham! Saiam das cavernas de pedras do mundo invisível e venham para saciar a sede e a fome, revelem-se, está é o lar dos verdadeiros frades obesos,mostrem-se!
— Não Antonio!
O anfitrião é interrompido por uma voz arrastada vinda da porta que é jogada ao chão.
— Armando! Tinha me esquecido de você — Antonio quebra as suas palavras.
— Eu sei, mas eu nunca poderia te esquecer.
De longe Lard observa a frase por cima do altar: Dois frades obesos para dois castiçais acesos, a correria começa dentro do salão, os guardiãs começam a caça, Lard rapidamente procura Zoira com um olhar orbicular, Antonio abre o livro tentando acelerar o termino da invocação. As taças começam a tremer Antonio não tem muito tempo para completar o circulo.
— Joguem os frades nas chamas!!! — Tito desesperado ordena aos guardiãs.
Lard entende a mensagem e só tem um jeito de reverter a situação, envocando os anéis dos sete espíritos, Antonio e Tito são jogados cada um em seu castiçal merecido, o fogo queima os padre dos diabo revelando nas chamas suas verdadeiras faces, de bestas e monstros, soltando berros e queimando até a ultima chama se apagar fechando para sempre a tal passagem dos verdadeiros frades obesos, ficarão para sempre em seu lugar onde repousam já a muitos anos, a mensagem se apaga da parede e os guardiãs desaparecem da mesma forma como surgiram, todos correm para cima enquanto padre Armando caído no meio do salão da seus últimos suspiros, Zoira corre ao seu encontro...
— Lard! Veja — Grita Zoira
— Você meu filho salvou o mundo de uma maldição — Padre Armando já nos braços de Lard — Que Deus esteja com você por toda a eternidade.
— Sim padre ele estará, tenho certeza.
Armando fecha os olhos e é levado por Lard até em cima e colocado no altar principal da igreja.
— Senhor! Senhor! Sou Tordesilha e queria lhe agradecer por ter nos salvado — Este é Gordon meu amigo.
— Vocês foram muito corajosos rapazes, não se esqueçam de seu amigo Sebastian, sem ele não poderia salvá-los.
— Sebastian!!! — Tordesilha corre para encontrar o amigo.
— Gordon acredito que agora serás orientador do monastério, conte sempre com seus amigos, eles lhe ajudarão em sua missão e que o demônio nunca encontre espaço aqui dentro — Lard oriente o rapas — E sempre que precisar eu estarei ao seu lado.
— Obrigado Lard espero que a igreja me de esta oportunidade, eu lhe serei sempre grato por tudo — Gordon sai ao encontro dos outros frades.
O sol começa a revelar seus primeiros raios ainda quase sem cor, e Lard sabe que logo ficará invisível aos olhos dos humanos, é hora de sair de cena, esperar os verdadeiros raios do sol para então Dr. Lau entrar em cena, caminha para um lugar afastado e espera desaparecer lentamente da mesma forma que aparece, sua roupa escorrendo pelo seu corpo levando a parte das trevas do nosso herói e revelando a sua identidade frágil e humana, Assis o Dr. Lau surge todas as manhãs no raiar do dia, o sol e sua luz da vida ao nosso professor enquanto que Lard espera mais uma noite para aparecer e novamente lutar contra os espíritos do mal e toda criatura satânica que teimam em penetrar na terra e trazer seu exercito de sombras e terror.
Dr. Lau desce os degraus do primeiro andar esperando a surpresa costumeira de Zoira, sua cara de espanto pois toda vez que Lard Surge, Lau desaparece, aparecendo apenas no dia seguinte é a sua sina e Zoira tem que continuar acreditando que Dr. Lau é apenas um cara frágil e medroso que se esconde sempre que surge algum perigo, é assim a maldição dos heróis de dupla identidade.
— Dr. Lau onde você estava a noite toda? — Zoira sabendo que vai inventar alguma desculpa.
— Desculpe Zoira! acho que desmaiei quando aquela coisa feia apareceu, agora que acabou vamos voltar para Cedroville
Lau se dirige ao ônibus da faculdade, por trás dos ombros já distante olha pra sua amada. Zoira como sempre dá o seu sorriso irônico acreditando nas palavras do professor.

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⏰ Última atualização: Feb 12, 2019 ⏰

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