Capitulo XXVI-Uma vez amor... Sempre amor!

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  O diadema começa a quebrar.

"Não! Por favor, não faça isso!".

  Por baixo daquele monstro de chifres enormes, se escondia uma voz assustada e falha.

  -Nexo... Isso aqui dói muito.

  Aqueles olhos cobertos pelo vazio derrubaram numerosas lágrimas doloridas, chorando como um pobre bebezinho com medo do escuro. Ele caí ajoelhado no chão, totalmente devastado. Seu diadema trincava como uma taça de vinho.

  -Eu nunca quis... Fazer nada disso... Dói demais usar esse diadema e ver esse monstro fazer o que faz... Cada vez que ele te batia... Eu sentia a sua dor... Eu... Eu... Eu só queria ficar em paz... E que tudo isso sumisse...

  As mãos delicadas da deusa encostam os ombros da pobre criatura. Ao contemplar seu rosto, ele percebe que Nexo tinha lágrimas em seus olhos e sorria docilmente, do mesmo modo que fazia com suas filhas. Ela acariciava seus cabelos e passava os cuidadosos dedos pelo seu rosto choroso, o deixando calmo.

  "É nossa chance! Mate-a! Mate-a e me deixe viver!"

  -Eu sentia sua falta, irmão. –Ela diz, emocionada.

  As lágrimas corriam como cachoeiras por aqueles olhos vazios. A voz em sua cabeça tentava falar, mas estava cada vez mais perdida, como uma memória distante e irreconhecível. Na verdade, era como se ela nunca tivesse ocorrido.

  "Por favor... Não me abandone!"

  -Nexo... Eu não quero mais ser um deus.

  -Então pegue o que é seu de volta, Raito. Só me prometa que fará isso sorrindo. –Nexo retira de sua lança o cristal, entregando-o nas mãos do monstro.

  O monstro segura a mão de Nexo e encosta sua testa a dela, apertando aquele cristal com força. O resultado foi instantâneo. O diadema se quebrou em seis pedaços dourados sem brilho algum, deixando apenas um pó preto e vermelho se espalhando por ali. O corpo do monstro começa a rachar como mármore, se desfazendo e dando lugar a um pequenino garoto de aproximadamente 17 anos. Seus cabelos eram castanho avermelhados, sua pele tinha tons de pêssego, suas pequenas asas tinham um tom suave de vermelho, igual a seus olhos miúdos. Ele possuía pequeninos chifres e uma aureola esbranquiçada.

  Aquele não era mais Shisama. Shisama não existia mais. Aquele era Raito.

  Ao se ver novamente em seu corpo, com todas as suas memórias e poderes originais, Raito chorou. Chorou e sorriu. Ele, depois de tantos anos nas trevas e no desespero, pode ver a luz. Ele via sua amada irmã. Ele podia abraçá-la! Podia finalmente dizer que a amava! Podia finalmente estar com ela.

  Ele cai nos braços da deusa, abraçando-a bem apertando, e ela retribui esse gentil gesto de carinho com um doce beijo em sua bochecha e um abraço ainda mais forte. Os dois ficaram ali por muito tempo, apenas sentindo o coração um do outro em alta velocidade. Nem conseguiam acreditar que depois de tantos anos... Eles estavam unidos.

  -Vejo que reencontrou seu irmão, Nexo!

  A deusa rapidamente se levanta. Ela definitivamente reconhecia aquela voz! Ao olhar para o trono, ela viu uma figura de luz sem contornos muito claros a qual ela não via há milênios.

  -Mãe.

  -Olá filha! Há quanto tempo você não vinha nos ver! –A voz era terna e acolhedora. Parecia estar sorrindo para a deusa.

  -E veja só que orgulho nos deu! –Havia outra voz vinda da escuridão do local. Era mais grave do que a primeira, mas igualmente acolhedora.

  -Desculpem por essa demora. Aconteceu tanta coisa que eu nem sei como explicar! –Nexo mantinha Raito próximo dela, visto o medo que ele sentia daquelas vozes.

  -Não é necessário! Nós vimos tudo! –A segunda voz fala de maneira animada.

  -A nossa maior questão agora é: O que você vai tirar de tudo isso? –A primeira voz questiona, parecendo até cruzar os braços de maneira doce e suave.

  -O que eu tiro de tudo isso? –Nexo é pega de surpresa por aquela pergunta.

  Ela olha ao redor. Vê as bolhas em que suas filhas estavam repousando. Vê que aos poucos, Alma e Yoko estavam voltando a ser o que eram. Vê aquele vazio preto e branco. E, como se ouvisse um estralo em sua cabeça, ela encontra a resposta:

  -A existência parece que é sempre feita de dualidades... Ou mesmo de "trialidades", se é que essa palavra existe! É como se fosse um grande quadro de um horizonte, cheio de cores, de formas, de contornos e, principalmente, de sentimentos. Ela dá medo, traz frustração, ódio e mais um monte de coisas, mas ao mesmo tempo ela é doce, suave, bonita e cheia de amor! Mesmo que eu seja uma deusa, talvez nem eu entenda completamente o que ela quer dizer, mas não significa que eu não possa acumular mais conhecimento sobre ela, compartilhar minha experiência com os outros e escutar o que eles acham sobre o assunto. Essa foi a conclusão que eu cheguei com isso tudo!

  Ela escuta as duas vozes batendo palmas animadamente, como se ela tivesse passado por uma grande provação.

  -Muito bem, filha! –A primeira voz diz, emocionada.

  -Se você quiser, eu e sua mãe podemos realizar um desejo seu. Pode ser qualquer coisa que quiser! Qualquer coisa mesmo! –A segunda voz parecia estender os braços para Nexo.

  A deusa nem se deu o trabalho de pensar. Ela já sabia o que queria:

  -Quero que devolvam a forma física dos meus irmãos. Mesmo que eles ainda não me entendam, não significa que eu deva ser apática com eles, né?

  As vozes se entreolharam, sorrindo uma para a outra.

  -Então assim será! Seus irmãos serão libertados de suas maldições! –exclama a segunda voz.

  -Bem... Até outro dia, pai, mãe. Tenho que voltar pra casa agora! –Nexo coloca Alma e Yoko dentro das bolhas, levando eles e suas filhas para a saída do local. Raito ao lado dela, segurando sua mão.

  Conforme a deusa saía, ela relembrava de cada momento que passou até chegar naquele ponto. Ela se sentia leve como uma pluma, como se uma grande cruz tivesse saído de suas costas. Dando uma última olhada naquela sala, ela sorri, deixando as duas figuras sozinhas ali.

  -Deveríamos ter falado do novo poder das nossas netas?

  -Deixe que elas descubram naturalmente!

No reino da Morte...

  -MORTE! MORTE!

  Lumia corria pelo castelo de vidro tropeçando no próprio vestido, passando de cômodo em cômodo como uma bola de luz amarelada até achar Morte sentada na fonte de água da cor do universo de seu jardim cinzento.

  -O que foi, Lumia? –Morte questiona, fechando seu livro com delicadeza.

  -Vem até o sótão comigo! É urgente! –Lumia já puxava a parceira pela mão.

  Sem questionar, Morte segue a pequena deusa da vida até o velho sótão do castelo (Lugar que eu gostaria de chamar de "quartinho das tralhas", porque só tem coisas velhas delas), onde teve uma das maiores (e raras) supressas que teve em toda sua existência!

  Havia um pequeno orbe branco com uma lua branca e um relógio de bolso feito de ônix encima de um pedestal coberto por uma cúpula de vidro.

  -Não acredito! Eles voltaram! –Morte vai correndo vislumbrar aquele milagre.

  -EU SEI! Griefth e Lamisth voltaram pra ficar! A Nexo conseguiu! –comemorava Lumia, toda animada.

  Morte olha para outro pedestal vazio no funda da sala. Ele tinha um brilhinho da cor magenta muito intenso, mesmo que não tivesse nada ali. Morte deu um sorrisinho discreto, colocando sua mão gelada no ombro quente de Lumia, lhe dizendo:

  -Acho que devo uma pra Nexo! Por causa dela, a Gaia deu sinal de existência.

  -Significa que ainda não acabou? –questiona Lumia

  -Isso mesmo. Mas vamos deixá-la descansar! Ela merece esse premio. –Morte acariciou os cabelos curtinhos de Lumia, dando suaves risadinhas.

Nexo-...Forever LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora