Ele não é meu irmão

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Desce do seu quarto correndo, hoje seria o pior dia de todos. O dia da coroação do novo rei alfa, os fogos, as decorações, todos sorrindo a sua volta; aquele dava a Kagayama um sentimento imenso de desgosto.

Desceu o corredor e passou por duas empregadas que o olharam de canto, odiava aquilo. Não permitiriam que ele saísse, assim fizeram desde sempre, porém em ocasiões como essas, ele havia a pequena chance da sair.

Passou pela cozinha deslizando pelas cozinheiras que jogavam as massas para cima espalhando farinha por toda parte, enquanto mexiam e pintavam diversos bolos, cantavam a velha canção de coroação:

"Hoje o grande dia

Ele ira se mostrar,

Um novo reinado

Com louvor ele ira começar"

A música se estendia por longas e longas horas, na qual Tobio não estava nem um pouco a fim de ouvir. Passou por elas tomando cuidado para não se sujar de farinha, o que fora quase impossível. Passou pelo bolo principal e fez um pequeno desenho na sua lateral.

Passou pelo armazém do fundo, a sala era gelada e bem recheada de tido tipo de alimento. Limpou os dedos em um saco de batatas que jazia ali e abriu a porta pesada de madeira.

Liberdade, sentiu ela por um misero instante antes de ver as bandeiras azuis e brancas espalhadas, contudo se acalmou observando a vila, se conseguisse sair de perto o bastante do castelo chegaria a parte média, onde as pessoas não vestiam longos vestidos e não sabiam o seu nome.

Passou por um casal falando sobre a grande festa, ambos o lançaram um puro olhar de nojo, como sempre. Ignorou e continuou andando, logo ouviu o som de trotes dos cavalos:

-Tobio - Ukai gritou irritado.

Kagayama fez o que qualquer um faria, começou a correr na direção oposta. Diversas pessoas paravam e observavam ele correndo sendo seguido por um cavalo e seu mestre. Pulou em cima de uma banca de frutas e viu o cavalo avançar, quando ficou perto o bastante pulou na garupa do cavalo e puxou do Ukai o arco e flechas das suas costas, o velho com armadura, tentou se defender, mas a armadura pesada o cansava rapidamente. Logo, Ukai gemia no chão de dor.

Agora com o cavalo, Tobio se dirigi-o à Cafa, o jardim que dava a Masc, a parte média, onde séria mais fácil não acharem ele. Cavalgou tomando cuidado com as pessoas, que saíram correndo no mesmo instante, já que era proibido cavalos no jardim. Gargalhava alto quando escutava as pessoas o xingando e ameaçando ele por Odin, esses eram os momentos que se sentia livre de uma maneira indescritível.

O vento sobre seu rosto, a adrenalina de ver de canto a cavalaria o seguindo e xingando. Sorriu abrindo os braços, estava tão cansado daquele velho castelo, das imensas cartas que tinha que escrever, das letras que tinha que decorar, do latim que tinha que aprender, tudo que ele não podia fazer era exatamente o que deixava feliz:

-Peguem o bastardo! - gritou um guarda.

Kagayama odiava ser chamado assim, mesmo que fosse ainda não era preciso jogar na cara dele. Como bastardo não podia usar um cavalo ou aprender a manusear uma arma, contudo o filho do velho Ukai sempre o ensinava no seu tempo livre sem ninguém saber. Pegou o arco e as cinco flechas que tinha e prendeu os pés no cavalo para não cair, se virou e para os cavaleiros, eram uns sete, teve uma ideia. Rasgou a barra da blusa dele e passou por volta da flecha, pegou o pequeno cantil que tinha de bebida na sela do cavalo, agradeceu a Aegir, o deus da cerveja. Molhou o pano com a bebida, e tranquilizou-se com o cavalo se guiando sozinho, muitas vezes pensava que os deus haviam o amaldiçoado e nesses momentos o recompensavam com pequenas coisas. Tirou o isqueiro do bolso e ascendeu a flecha, afastou o rosto assustado e distanciou o braço. Mirou em uma árvore próxima aos cavaleiros, atirou. Em segundos a arvore pegava fogo e os homens pararam para deter o incêndio:

-Filho de Loki - um guarda velho gritou.

Em resposta bebeu o liquido amargo e sorriu para o homem jogando o cantil no chão. Segurou nas arreio e colocou o pé de volta no estribo, sacudiu o objeto e bateu os pés, o cavalo acelerou.

Calvagou até Masc. Quando chegou lá viu as mesma bandeiras, e o povo empolgado com a grande festa; porém ser um bastardo tem seus prós, as pessoas sabiam que existiam um filho sem mãe chamado Tobio na Família Pura Alfa, contudo ninguém pintava retratos sobre seu rosto, assim ninguém tinha a menor ideia de quem era.

Deixou o cavalo um pouco afastado e correu o resto do caminho. Passou por algumas bancas com comida, a maioria das comidas era azul e branco, ele odiava azul. Foi até uma pequena barraca de frutas e comprou tangerinas, por mais estranho que fosse ele gostava da cor laranja e adorava aquelas frutas. Continuou caminhando enquanto comia a fruta.

Se sentou em um vão que havia perto dali e se tranquilizou com a normalidade. As pessoas não o encaravam, ou o olhavam de canto enquanto sussurravam algo. Ali ele era apenas um Plebeu, não precisava se preocupar com nada, e ainda tinha quatro flechas caso quisesse ir ao bosto treinar tiro. Suspirou sorrindo:

-Você acha que colocaria fogo no jardim e sairia impune? - Iwaizumi, o chefe da guarda real apareceu.

-Talvez? - o olhou torno, mesmo Iwaizumi sendo do tipo valentão, ele sempre fora bom com Kagayama, sempre justo. A relação deles havia começado em um caso que o 'novo rei' havia tentado estapear Tobio. -Você não vai me levar de volta?

-Hoje é a coroação do seu irmão, deveria estar alegre, não queimando bosques - estendeu a mão para Kagayama se levantar.

-Oikawa não é meu irmão - se levantou.

-Meio-irmão. 

Beta War: O surgimento das asas.Onde histórias criam vida. Descubra agora