Seoul

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Faziam mais ou menos 4 horas que eu havia chegado a Coréia. Jian e eu usamos portais diferentes para nos locomover, decidimos que se nos separássemos conseguiríamos reunir todo mundo em pouco tempo. Ele foi para o México buscar a Sophie e eu segui para a Coréia do Sul, para buscar os três mais marrentos da nossa família.

No Instituto de Seoul, eles eram conhecidos como tríade ou Kim Brothers, embora não fossem realmente irmãos. Eles nunca trabalhavam com pessoas que estivessem fora de seu círculo de amigos, que se resumia basicamente a nossa família. Por isso, acho que vai ser um tanto difícil colocar eles e o pessoal de New York para trabalharem juntos.

Segui pelos corredores do Instituto enquanto decidia em que lugar iria para achar qual irmão. Quando não estavam juntos ou caçando, Ryan, o mais velho, mas que todo mundo achava ser o mais novo, praticamente vivia na biblioteca em dias chuvosos como esse. ByunKwan, o do meio e mais marrento dos três, quando não estava em missão estava na sala de treinamento. Hyunjae, o mais novo, estava sempre no terraço observando as luzes de Seoul, mesmo se estivesse chovendo. Decidi ir atrás do mais velho. 

Como o esperado, ele estava sentado na poltrona próxima a lareira com um livro enorme em mãos. Estava tão distraído que nem percebeu quando adentrei a biblioteca, parando atrás de sua poltrona.  Coloquei minhas mãos na frente de seus olhos, fazendo o garoto ter um breve sobressalto enquanto suas mãos iam até as minhas.

--Aish... Se for você Byun... -- Dizia ele, tentando afastar minhas mãos

--Não é o Byun. -- Digo com ar de riso. -- Por que seria? Ele nunca te atrapalhava a ler. 

--Não é possível... -- Afrouxei a pressão das minhas mãos sobre seus olhos e permiti que ele as afastasse. -- Kat?

--Já faz um longo tempo, Ryan. -- Sorri, observando o garoto fazer a volta na poltrona e vir me abraçar.

--Coloca longo nisso. -- Disse ele, se soltando do abraço e segurando meu rosto entre as mãos enquanto seus olhos, semelhantes aos de um gato, pareciam analisar meu rosto. -- Ótimo. Você parece bem.

--Eu estou bem, irmão. -- Sorri de canto, tirando as mãos dele do meu rosto. -- Mas eu preciso achar o Byun e o Jae. Nós quatro precisamos conversar.

A expressão antes sorridente do mais velho, se tornou mais rígida e ele assentiu pegando o celular no bolso da calça. Provavelmente iria mandar mensagem para os irmãos.

--Vamos para o terraço. -- Ryan chamou, depois de um tempo em silêncio. -- Já parou de chover e... você sabe. As paredes têm ouvidos até mesmo na sala de reuniões.

Acenei positivamente e comecei a segui-lo pelo corredores.

Quando conheci os irmãos Kim, sempre me perguntava o motivo de eles serem tão desconfiados. Em seus primeiros dias na China eles só conversavam entre si e trocavam pouquíssimas palavras com os outros, levou quase dois meses para eles finamente se abrirem conosco.

Descobrimos que eles nem sempre foram em três. Os irmãos Kim eram inicialmente em quatro, o segundo mais novo foi morto por um mundano que eles confiavam e conheciam a anos. Por isso não confiavam em quase ninguém, se alguém que aparentemente conheciam tão bem foi capaz de matar um deles, o que impedia desconhecidos de fazer o mesmo?

Ryan empurrou a porta no fim da escada que dava para o terraço e logo foi possível sentir a brisa fresca bater contra meu rosto. Byun e Jae estavam nos esperando enquanto observavam as luzes da cidade.

--Olha quem voltou. -- Ryan chamou a atenção dos irmãos, que logo se viraram para trás curiosos.

--Trina! -- Jae sorriu, vindo me abraçar. Ele era uma das poucas pessoas que não me chamava de Kat.

--Oi irmãozinho... -- Sorri entre o abraço, bagunçando os cabelos dele que na verdade eram quase impossíveis de bagunçar.

--É bom te ver pessoalmente depois de tanto tempo. -- Byun sorriu, me puxando para um abraço. -- Você parece bem.

--Eu estou. -- Sorri, me soltando dele e me voltando para os três a minha frente. -- Tem uma coisa que preciso dizer a vocês e não sei se vão gostar.

Expliquei a história toda para eles, desde o sumisso de Marcus até descobrirmos que os membros da nossa família corriam perigo. De início, os garotos se mantiveram hesitantes em trabalhar com o pessoal do Instituto de New York.

--Vocês não precisam trabalhar com eles. Só precisam vir comigo. -- Argumentei. -- Por favor.

Os três se entreolharam.

--Mas entenda... -- Ryan se pronunciou pelos outros dois. -- nosso problema não é com eles. É com a cidade.

--Dois dos nossos já morreram lá e agora um desapareceu. -- Byun completou.

--Eu entendo. -- Suspirei, coçando os olhos. -- Mas evitar New York não vai trazer ninguém de volta. O que aconteceu aconteceu e não há nada que possamos fazer para mudar isso. Isso sem contar que não estou pedindo para vocês irem para lá por um motivo banal. É para a segurança de vocês.

Novamente eles se entreolharam, finalmente se dando por vencidos. O combinado era nos encontrarmos em uma casa que eu havia alugado, afastada de tudo e de todos, em dois dias.

--Sinto muito por ter sido dura com vocês. -- Disse a Ryan, enquanto caminhávamos pelo corredor do Instituto.

--Não, tudo bem. -- Ele sorriu fraco. -- As vezes é bom alguém dar esse choque de realidade na gente e é melhor que esse alguém seja você. Byun e Jae só escutam você e os Delacrouix.

--E você? -- O fintei, parando de andar. -- Quem você escuta?

--Quem estiver interessado na minha segurança e na dos meus irmãos, mas principalmente na deles. -- Ryan se escorou na parede, com os braços cruzados. -- Sou o mais velho. A segurança deles vem antes da minha, principalmente depois do que eu deixei acontecer.

--Ryan, o que aconteceu não foi culpa sua. -- Digo, também me escorando na parede. -- Não podia fazer nada para evitar. Quem imaginaria que esse tipo de coisa iria acontecer?

--Não importa. -- Ryan abaixou o olhar, fitando um ponto no chão. -- Quando eu matei aquele desgraçado, achei que tudo isso fosse passar. Mas não passou. A culpa ainda me atormenta o tempo todo. -- Sorriu de uma forma armagurada. -- Eu nem consigo ficar muito tempo longe do Jae ou do Byun, porque sempre acho que algo pode acontecer se eu não estiver por perto. Eles não são mais crianças, eu sei mas... Aish! Eu sei lá.

--Essa culpa vem te consumindo a tempo demais. -- Suspirei. -- Quando foi a última vez que deixou eles irem a algum lugar sozinhos?

--Nunca, depois do que aconteceu.

--Pede para o Jae me encontrar na China e Byun encontrar o Jian no México, hoje. -- Ryan arregalou seus olhos. -- É hora de deixar eles "sozinhos", nem que seja por um único dia.

--Katrina... -- Ele tentou argumentar, mas eu o interrompi.

--Me escuta. Nossa vida é perigosa por si só, pelo que somos. -- Digo me aproximando dele. -- O que tiver que acontecer conosco vai acontecer, você estando por perto ou não. É hora de tentar superar esse trauma e, por hora, deixar eles ficarem longe de você é um bom começo.

--Kat, eu não sei se consigo. -- Ryan abaixou a cabeça e eu a ergui novamente.

--Confia em mim.

Filha do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora