Fire

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--Você demorou. -- Disse Marcus, assim que voltei a aparecer na cozinha da casa dele.

--Tive um imprevisto. -- Dei um tapa de leve na cabeça do Jian, que nem se deu ao trabalho de reclamar. Parecia perdido demais para pensar em alguma coisa.

O chinês se aproximou do Marcus, parecendo meio chocado e o abraçou. Foi um abraço mais duradouro do que eu pensava, já que nenhum dos dois é muito de afeto. Me escorei no armário e fiquei esperando Marcus explicar tudo para o Jian, antes de se dirigir a todos nós para contar o que estava acontecendo e o que estava por vir.

Pelo que ele insinuou, uma guerra estava a caminho. Mais uma. Dessa vez entre Black Bloods, shadowhunters e humanos com a visão. Marcus disse que eles não queriam uma guerra, não queriam mais mortes do que as que já estavam acontecendo, mas não viam outro caminho. Kaleb, o representante dos refugiados, tentou ir à Idris para estabelecer um acordo, porém nada significativo foi decidido, então eles resolveram agir por si só.

--Não acho que precise disso. -- Jongin se manifestou após Marcus terminar de explicar. Jian encarava o coreano o tempo inteiro, com uma expressão quase tão surpresa quanto a que eu havia feito quando nos conhecemos. -- Podemos resolver de outro jeito. 

--Estou aberto a sugestões. -- Marcus abriu um pouco os braços e Jongin ficou quieto, se encolhendo um pouco perto de mim. Ele parecia ter medo de todo mundo que não conhecia.  -- Não? 

--Marcus, ele tem razão. -- Me manifestei pelo outro. -- O que a gente ganha começando uma guerra? Estaríamos comprovando o que eles pensam sobre nós, que somos uma ameaça. Não seria mais fácil a gente tentar acabar com os novos experimentos primeiro? Depois procuramos um novo jeito de conseguir um acordo com a Clave. Entrar em guerra com os shadowhunters e os mundanos com a visão ao mesmo tempo é suicídio. 

--Não precisa de uma guerra. -- Jian completou. -- Uma única batalha é o bastante, se estivermos preparados.

--Nós estamos. -- Marcus confirmou.

--Ótimo. 

O assunto morreu ali. Eu odiava a ideia de ter uma guerra novamente, até mesmo uma batalha me preocupava. Perdi meu melhor amigo na última e não estava afim de perder outro, já que dessa vez até minha família estava envolvida.

--Você se preocupa demais. -- Henry comentou, adentrando o quarto que eu dividiria com Jongin.

--Sai da minha mente.

--O que é isso? Essa ansiedade toda? -- Me sentei na minha cama, o observando se sentar na outra. Henry parecia outro ser humano nesse refúgio, estava mais confiante, não gaguejava mais. Era como se tivesse deixado todo o seu medo lá fora. -- Você foi treinada para uma batalha a vida inteira, por que se preocupa tanto?

--Você está na minha cabeça então deve saber o motivo. Perdi meu melhor amigo em batalha. -- Expliquei, mantendo meu rosto inexpressivo. -- Agora minha família está envolvida, o Jian 'tá envolvido. Eu não sei o que faria se alguma coisa acontecesse com eles.

--Você tem que parar de ser tão pessimista. Isso só vai te torturar mais e mais.

--Não é o tipo de coisa que eu consigo evitar. -- Dei de ombros apoiando meus braços nos joelhos e escorando minha cabeça na parede. -- Não quero falar sobre isso.

O sol já estava nascendo quando todos nós resolvemos ir dormir. Dormi poucas horas naquela manhã, não conseguia ter um sono continuo ou calmo, então me obriguei a levantar e ir treinar.

O refúgio tinha uma área aberta para treinamentos, parecia que sempre estavam prontos para uma guerra. Não os culpo, considerando tudo que tiveram que passar para chegarem onde estão hoje. Decidi não treinar junto com os outros, precisava de um tempo para respirar, então segui entre as árvores até chegar em um rio, que corria afastado do refúgio.

Ao contrário do que esperava, eu não era a única que não estava afim de treinar junto com os outros. Jian e Jongin estavam treinando seus poderes a margem do rio, o primeiro criava ondas enquanto o segundo usava o ar para parti-las.

--É pesado. -- Jian reclamou exercitando os braços que pareciam doloridos. -- Não sou tão bom nisso quanto você.

--Existem movimentos que tornam tudo mais fácil. -- Jongin sorriu de forma gentil enquanto os dois saíram de dentro d'água. -- Deixa eu te ensinar uns.

Me escorei em uma das árvores, fora da visão deles, e fiquei os observando. Jian não era muito de confiar nas pessoas, mas parecia confiar em Jongin. Talvez o fato de ele ser um dos Kim tenha colaborado. Em um determinado momento, quando percebi que Jian havia aprendido pelo menos os movimentos básicos, lancei uma bola de fogo em direção aos dois. Jongin foi o primeiro a perceber, mas Jian levantou uma parede de água e direcionou para a bola de fogo, interrompendo seu percurso ante que Jongin pudesse fazer algo.

--Meu garoto. -- Sai de onde estava, batendo palmas enquanto me aproximava dos dois. -- Você aprende as coisas rápido.

--Você quase me matou de susto. -- Jian me encarou com uma expressão séria, mas logo sorriu novamente.

Outra parede de água corrente se ergueu atrás dele e veio com tudo em minha direção. Usei uma onda de fogo para me defender, fazendo uma fumaça surgir no momento da colisão. Logo Jongin lançou uma rajada de vento contra Jian, que foi parar no meio do rio enquanto eu arremessava bolas de fogo menores contra o dominador do vento.

Quem via de longe achava que estávamos apenas brincando, mas, na verdade, nós estávamos usando uma brincadeira para treinar o suficiente para um combate. Combate esse que eu sentia estar inevitavelmente mais próximo.

Filha do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora