This Is Us

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--Eu vou ficar maluco. -- Sussurrei para mim mesmo enquanto bagunçava meus cabelos.

Havíamos voltado para casa depois de  passar o dia inteiro procurando pela Katrina. Faziam 48 horas agora e não tínhamos nenhum sinal dela. Mayleen insistiu para que todos nós descansassemos pelo menos por algumas horas, para que pudéssemos voltar às buscas pela manhã. Mas quem conseguiria dormir nessas circunstâncias?

Me levantei da cama e troquei de roupa, não vou ficar aqui parado enquanto minha irmã está desaparecida. Meu celular começou a vibrar freneticamente assim que pulei a janela.

--Katrina...

POV'S Katrina
48 horas antes

--Meu... Meu padrasto... -- O garoto começou a dizer enquanto mantinha seu olhar fixo no chão, possivelmente se sentia mais calmo ou seguro de não olhasse nos olhos das pessoas. -- Foi meu padrasto que recomeçou o Black Blood.

Arregalei os olhos. Então por que ele me chamou? Senti meu coração acelerar um pouco, como se estivesse sentindo que havia algo de errado naquilo. Isso tudo era uma armadilha? Por isso ele estava tão nervoso?

--Então foi para isso que você me ligou? Para me entregar a ele? -- Perguntei já levando minha mão até minha espada.

Henry arregalou os olhos e finalmente ergueu a cabeça para me encarar.

--N-Não. Você entendeu errado. -- Disse ele, parecendo se desesperar. -- Eu estou fugindo do meu padrasto.

--Por que?

--Porque ele quer o meu sangue. -- Henry voltou a olhar para o chão, agora começando a tremer. -- Sou filho de um dos primeiros Black Blood e... alguma coisa ampliou meus poderes quando fui atacado por um demônio maior. Meu padrasto acha que pode criar outros como eu usando seja lá o que for que tem no meu sangue. 

--Como eu vou saber se você está falando a verdade ou não? -- Perguntei ainda um pouco desconfiada. 

--Me faça perguntas e tente ouvir as batidas do meu coração. 

Olhei para ele durante alguns segundos antes de deixar meus olhos em chamas.

--Você é filho de um Black Blood?

--Sim.

--Seu padrasto usa seu sangue nos experimentos? 

--Sim. 

--Pretende me entregar ao seu padrasto? 

--Não. 

Voltei meus olhos ao tom de cinza natural e finalmente tirei minha mão da espada, ele estava falando a verdade. 

--Como tudo isso começou?

--Valentine de certa forma deu poder ao meu padrasto. -- Henry explicou. -- "Dê poder ao homem e o observe destruir o mundo."

--Está dizendo que o Black Blood se iniciou na mesma época da "guerra" contra Valentine? -- Perguntei indignada.

--Era a oportunidade perfeita... Todos estavam tão ocupados com o Valentine que não prestaram atenção no parasita que crescia entre os mundanos. Pelo menos não até isso tomar proporções extremas.

Fechei os olhos por alguns segundos, como nós fomos tão cegos? Focamos em um inimigo e esquecemos de quem estava bem embaixo do nosso nariz, andando nas mesmas ruas, os mundanos com a visão. Eu nunca havia considerado eles como ameaça, mas estava na hora de isso mudar.

--Onde eu entro nessa história? -- Perguntei, depois de um tempo refletindo sobre o que o garoto havia dito.

--O demônio que te atacou quando você era criança também me atacou. -- Franzi o cenho. Se ele tivesse sido atacado pelo mesmo demônio que eu também estaria doente, não estaria? Por que ele parecia saudável? -- Porque o meu lado Black Blood meio que me curou.

--Mas como diabos você...

--Consigo ouvir seus pensamentos. -- Henry me interrompeu. -- Você também conseguiria ouvir o meu se eu não estivesse bloqueando. Isso deve ter a ver com o fato de... termos a mesma impureza no sangue.

--Por que eu vejo as coisas pelos olhos do Jian? Principalmente quando ele se machuca. -- Perguntei ainda mais confusa. -- Se minha ligação é com você então por que eu só vejo através dos olhos dele e não dos seus?

--Porque ele foi o único criado com o seu sangue, é como se fosse seu filho então a ligação é maior. -- Parecia que quanto mais Henry falava mais confusa eu ficava. A pior parte era que aquilo estava começando a fazer sentido. -- Lembra quando você entrou em coma? Mesmo o garoto Morgenstern te ajudando você perdeu muito sangue. Sangue o suficiente para injetar no garoto, já que não é preciso muito quando se trata de gente como nós.

--Gente como nós?

--Os nossos poderes vieram de ataques de demônios. Enquanto estes tentavam nos matar os anjos tentavam nos salvar, foi assim que ganhamos nossos poderes, durante uma briga entre o sagrado e o profano dentro de nós mesmos. -- O garoto explicou, ainda fitando o chão. Não era possível que ele tivesse uma resposta para tudo.

--Achei que você fosse um mundano com a visão...

--Não sou. -- Henry sorriu fraco. -- Meu padrasto que é. Sou como qualquer um de vocês, apenas não sigo no ramo. Prefiro ficar atrás dos livros tentando explicar ao meu padrasto que nem tudo é ruim no mundo das sombras.

De repente me peguei pensando que aquele garoto de daria bem como um Irmão do Silencio. Ele parecia saber bem mais do que a maioria dos shadowhunters, isso porque, aparentemente, passou metade de sua vida escondido entre os mundanos.

--Por que seu padrasto detesta tanto o nosso mundo? Digo, sua mãe ou seu pai devem fazer parte dele.

--Minha mãe era como vocês, uma shadowhunter ativa, mas morreu durante a "guerra" contra Valentine. -- Ao ver a expressão de tristeza em seu rosto, me amaldiçoei mentalmente por ter  feito ele se lembrar disso. -- Depois disso meu padrasto enlouqueceu.

Estava prestes a fazer mais perguntas quando meu celular começou a vibrar, não achei que ele estivesse funcionando já que estava sem sinal, mas aparentemente me enganei.

--Atende. -- Henry incentivou, se levantando da poltrona em que estava. -- Eu... vou tomar um banho para tirar esse sangue... Tenho que te levar até um lugar...

Acenei positivamente em resposta e atendi a chamada quando ele deixou a sala.

--Onde diabos você se meteu? Por que seu celular está sem sinal? -- A voz de Magnus soou irritada do outro lado da linha, me fazendo prender o riso. -E você quer por favor me explicar por que tem um garoto no meu apartamento, em plena as 6 da manhã, pedindo para eu recuperar as memórias dele?

--Bom dia para você também, Magnus. -- Ri fraco, depois do interrogatório. -- E eu não sei onde estou nem do que você está falando.

--Estou falando de um lindo garoto asiático parado na minha sala de estar nesse exato momento.

--Tá falando de si mesmo? -- Perguntei irônica.

--Carstairs, eu... Bom, não posso discordar de você quanto a isso. -- Soltei uma gargalhada enquanto ouvia ele rir do outro lado da linha.

--Mas enfim, o garoto se chama Kim Jongin. -- Expliquei, me lembrando de ter indicado que o garoto fosse falar com o Magnus primeiro. -- Ele perdeu a memória quando um mundano deu um tiro na cabeça dele.

--'Tá me dizendo que esse é o garoto Kim que morreu? -- Magnus perguntou parecendo quase tão surpresos quanto eu havia ficado. A história daqueles quatro era bem famosa. -- Eles não queimaram o corpo? Como diabos esse menino está vivo?

--Boa pergunta. E eu não sei se queimaram, já que os Kim não estavam lá.

--Okay, vou fazer o possível.

Eu tinha certeza que Magnus estava usando algum tipo de feitiço para falar comigo, assim que ele desligou o celular ficou sem sinal novamente.

Filha do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora