Refuge

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36 horas antes

Acordei sentindo uma dor incomoda nas minhas costas e fui abrindo os olhos aos poucos. Havia apagado na poltrona depois de falar com o Magnus, mas não me lembrava de ter pegado algum cobertor para me proteger do frio.

--Henry? -- Chamei enquanto dobrava o cobertor e o colocava na poltrona.

--Sim? -- O garoto apareceu, vindo da cozinha com uma xícara em mãos.

--Quanto tempo eu dormi?

--Umas... -- Ele parou para pensar por alguns segundos. -- 8 horas? Talvez 10? Eu também dormi então não posso te dizer com certeza.

--Ah...

Enquanto tomávamos café Henry me avisou que iria me levar a um lugar, lembro de ele ter dito isso ontem mas o nosso sono falou mais alto. O garoto estava prestes a girar meu anel quando meu celular tocou, com certeza era o Magnus.

--De novo?

--De novo. -- Magnus repetiu de forma irônica. -- Você vai vir buscar o seu amigo ou eu vou ter que levar ele para o Instituto? E acho melhor você vir porque eu não estou com vontade de olhar na cara do Alexander.

--Por que o Jongin ainda está aí? -- Perguntei confusa.

--Ah, não sei. Talvez porque ele ainda está desmaiado no quarto vago do meu apartamento, só talvez.

--Okay, okay... -- Revirei os olhos. -- Já estou indo.

--Eu estou começando a achar que o mundo está conspirando para você não vir comigo. -- Henry comentou assim que a ligação terminou.

--Foi mal... -- Sorri fraco, pegando meu anel de volta.

--Tudo bem, mas nós temos que ir ainda hoje.

Quando "aparecemos" no apartamento do Magnus, demos de cara com o feiticeiro sentado em uma poltrona enquanto olhava para o nada e bebia um líquido florescente. Ele estava tão aéreo que nem se deu conta de que estávamos ali.

--Meu Deus, você e o Alec tem que se resolver logo. -- Chamei sua atenção para mim, adentrando a sala com Henry.

--Já ouviu Thank U Next da Ariana Grande? -- Magnus perguntou, me fazendo arquear as sobrancelhas ao entender o que ele quis insinuar.

--Ah, conta outra. -- Sorri irônica. -- No passado talvez aquilo se explicasse a você, mas agora é diferente.

Magnus abriu a boca para argumentar, mas a fechou novamente. Ele sabia que eu estava certa e que não demoraria para os dois estarem de bem. Na verdade, eu estava contando com isso. Alec vira um pé no saco quando briga com o Magnus.

--Tanto faz. -- O feiticeiro revirou os olhos, se levantando da poltrona e passando por mim e Henry. -- Seu amigo está no quarto no final do corredor.

--Magnus. -- Chamei, fazendo ele se virar para mim com um olhar cansado. -- Liga para o Alec.

Segui pelo corredor sem esperar uma resposta, Henry me seguia para onde quer que eu fosse. Parecia se sentir bem desconfortável quando estava na presença de estranhos. Quando adentramos o quarto Jongin parecia ter acabado de acordar, estava olhando em volta um pouco assustado e seu cabelo estava todo desgrenhado.

--Katrina, onde eu estou? -- Perguntou assim que seus olhos pararam sobre mim.

--Ainda na casa do Magnus. -- Me escorei no batente da porta e cruzei os braços. -- Como se sente?

--Minha cabeça tá doendo. -- Jongin fez uma careta enquanto levava a mão até a cabeça. Gente, eu nunca tinha reparado na cara de bebê que esse menino tem. -- Mas... valeu a pena.

--Que bom. -- Sorri para ele, voltando a pensar em como seria a reação do Ryan quando descobrisse que seu irmão estava vivo. -- Se você quiser eu te levo até a nossa casa, mas eu só vou te deixar lá e voltar porque tenho que ir a um lugar.

Jongin arregalou os olhos.

--Você não pode ficar lá comigo? -- Perguntou, parecendo um pouco assustado, o que me deixou bem confusa.

--Por que? Qual o problema?

--Bom, eu passei muito tempo longe. As pessoas mudam com o tempo e... eles podem ter mudado demais. -- Jongin explicou enquanto se levantava da cama e a arrumava. -- Tenho medo de não conhecer mais meus irmãos.

Eu poderia dizer que os irmãos dele não mudaram, mas como poderia ter certeza? Não conheci nenhum deles antes do garoto ser dado como morto e mentir para ele nessas circunstâncias não me parecia justo.

--Olha, eu não sei se eles mudaram ou não, só sei que todos sentem sua falta. Ryan principalmente. -- Respirei fundo antes de continuar. -- Mas... Se você não quiser ir sozinho vai ter que esperar mais um pouco.

--Ele... Ele pode vir com a gente. -- Henry se pronunciou pela primeira vez desde que chegamos no apartamento. -- Não é um shadowhunter comum. Ele pode vir.

--Tudo bem... -- Voltei minha atenção para Jongin. -- Então você vem comigo.

--Para onde?

--Para um refúgio. -- Henry respondeu, me fazendo olhar rapidamente para ele.

--Refúgio? -- Jongin e eu perguntamos ao mesmo tempo.

--E-Eu explico quando chegarmos lá. N-Não podemos perder tempo, já perdemos demais.

--Tudo bem, calma. -- Coloquei uma mão no ombro o garoto ao ver que ele estava começando a ficar nervoso. -- Você não vai conseguir usar o anel se continuar nervoso desse jeito. Relaxa.

Esperei Henry se acalmar para poder entregar meu anel a ele, o garoto teria que fazer duas viagens porque eu não tinha certeza se o anel era forte o suficiente para transportar duas pessoas ao mesmo tempo. Jongin foi primeiro enquanto eu me despedia do Magnus.

Ao chegar no lugar onde Henry havia nos levado, olhei em volta e tudo o que conseguia ver eram árvores. Ele parecia gostar de lugares no meio do nada. Jongin e eu o seguimos por entre a vegetação, desviando de alguns galhos e pulando sob raízes no trajeto. Depois de uns 20 minutos caminhando, tudo o que eu conseguia ver ainda eram várias árvores. Onde diabos eu havia me metido?

--Falta muito? -- Perguntei já com a respiração ofegante.

--Acabamos de chegar. -- Henry se virou para mim com um sorriso de canto enquanto ajeitava o óculos.

Jongin e eu trocamos olhares confusos e eu olhei em volta novamente. Adivinha? Só vi árvores.

--Vocês estão olhando errado. -- Henry olhou para cima e nós acompanhamos o olhar dele. -- O que estão procurando está bem ali.

--Caramba... -- Deixei escapar ao ver as construções que pareciam estar no topo das árvores. -- Isso foi feito por seres humanos?

--Foi feito por Black Bloods.

Filha do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora