You're Not Alone

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No dia seguinte, Miguel e eu fomos os últimos a acordar. Por que? Nós dormimos no telhado e só acordamos porque o sol começou a ficar quente demais. Quando nos juntamos aos outros, percebi dois rostos desconhecidos sentados a mesa. Ryan me contou que haviam chegado dois amigos da May, que começariam a morar com eles.

--Bom, Tai, Han, essa é a Katrina e aquele é o Miguel que eu falei que ia apresentar a vocês. -- May apresentou enquanto se servia de um pouco de suco de laranja. -- E esses são Taiyang e HanSung.

--Prazer em conhecer vocês. -- Os dois se levantaram e se curvaram, Miguel e eu imitamos seus gestos.

--Tai é fofo. -- Jane sussurrou para mim, quando me sentei ao seu lado. -- Ele é meio lerdo, mas é fofo.

Ri do comentário da garotinha e fitei o rapaz do outro lado da mesa, que conversava algo com Jian. Ele realmente era fofo. Depois do café, cada um lavou o que tinha sujado e continuamos na cozinha para conversar.

--Bom, a gente precisa conversar sobre o Marcus e sobre a ida de alguns de vocês a New York. -- Introduzi o assunto quando todos estavam na mesa.

--A ida de alguns de nós? -- Daiyu franziu o cenho e eu confirmei.

--"Os antigos". -- Fiz aspas com os dedos. -- Mais precisamente quem estava no Instituto quando o Marcus morava com a gente.

--Antes de fugir, Marcus pediu para proteger o Miguel. Mas nós constatamos que ele não é o único irmão do Marcus, e obviamente não seria o único alvo. -- Jian explicou. -- Como prova, ontem foram atrás da Sophie. Entraram na casa dela quando Byun e eu estávamos lá.

Franzi o cenho, disso eu não sabia.

--Por que temos que ir para New York? -- Mayleen perguntou.

--Vocês precisam ir para um lugar onde nós possamos ficar de olho, protegendo uns aos outros e esse lugar tem que ser longe de onde os caçulas estão, para não colocar eles na mira daquela gente. -- Digo, batucando meus dedos na mesa. -- Eu aluguei uma casa, afastada da cidade, mais ou menos no mesmo estilo que essa. É lá que vocês vão ficar, se quiserem ir. Vocês vão trabalhar normalmente só que em parceria com o Instituto de New York.

Os antigos assentiram em resposta.

--Agora essa é para os caçulas. -- Byun chamou atenção para si. -- Não é porque eles não te conhecem que não virão atrás de você. Então andem em dupla ou em grupo, nunca sozinhos. Também não deixem ninguém sozinho em casa.

Os caçulas também assentiram em resposta.

--Mas por que essa gente está atrás dos familiares do Marcus? -- Taiyang perguntou e eu notei que ele fazia bico enquanto falava, que bonitinho.

--Bom, eles sequestraram a filha do Marcus por alguma razão. E eles queriam a mim, por eu ser um Black Blood criado com êxito. -- Vi alguns de nós arregalar os olhos enquanto Jian falava. -- Talvez a filha do Marcus também fosse e eles precisassem saber o que usaram para fazer o experimento dar certo. Já que matei quem fez aquilo comigo.

--O pai dele? -- Jae sibilou próximo a mim e eu dei de ombros, estava quase tão confusa quanto ele.

--Tudo bem, arrumem as malas. -- Mayleen disse, chamando a atenção de todos para si. -- Saímos daqui depois do almoço, pode ser?

Todos concordaram e logo a cozinha estava vazia. Alguns de nós foram arrumar as malas, outros foram treinar e eu fui chamar Jian para conversar. Queria tirar a limpo a história de ele ser um Black Blood criado com êxito.

--Vamos dar uma volta. -- Chamei, me escorando no batente da porta de seu quarto.

Jian terminou de fechar a mochila com roupas que havia trazido e me seguiu para fora da casa. Nos embrenhamos em meio às árvores, cada vez mais longe de onde poderiam nos ouvir, até ficarmos na beira do penhasco.

--Quando ia me contar que era um Black Blood? -- Perguntei, sem dirigir o olhar para o garoto.

--Não tive tempo. -- Jian respirou fundo, observando a água se chocar contra as pedras lá em baixo. -- Mas eu ia te contar, se é o que quer saber.

--Como aconteceu?

--Fui convocado para uma investigação em Londres, me pediram para investigar o sumisso de algumas crianças. -- Franzi o cenho. Então era disso que Alec estava falando. -- Nos primeiros dias não achei nada, nem mesmo um padrão. Estava pensando em voltar para Pequim quando fui sequestrado. -- O garoto ao meu lado soltou um suspiro. -- Acordei no apartamento do meu pai três dias depois, com ele ejetando um líquido estranho na minha veia. Descobri que aquele líquido matou minha mãe, ele mesmo me disse isso achando que ia me colocar para baixo. -- Sorriu de forma amarga. -- Estava enganado. Aquilo despertou algo dentro de mim, uma emoção esquisita semelhante ao ódio. Quando dei por mim estava o esfaqueando...

A voz de Jian falhou e não demorou para eu perceber que ele estava chorando. Algumas das coisas que eu mais odiava na vida era ver as pessoas que eu amo chorando, ainda mais por conta de um trauma que eu sabia que não iria desaparecer. 

--Vem cá... -- Puxei o garoto para um abraço, sentindo-o se encolher em meus braços.  -- Tudo bem... Você não está sozinho nessa. Você está com a sua família de verdade agora. A gente vai te ajudar com isso.

Jian apenas assentia enquanto eu falava, me apertando um pouco mais forte antes de se soltar.

--Obrigado. -- O garoto sorriu fraco, limpando as lágrimas com as mangas do moletom. -- Quer ver o que eu consigo fazer?

Assenti em resposta, passando minhas mãos pelos cabelos dele. Jian se aproximou mais da beira do penhasco e estendeu a mão na frente do corpo. Logo um silêncio se estabeleceu no local, as ondas haviam parado de bater contra a parede de pedras. Jian me lançou um olhar desafiador e levantou o braço de uma vez, fazendo com que uma parede enorme de água se erguesse a nossa frente.

--Woah!

--Gostou? -- Jian perguntou meio alto, por conta do barulho que a água fazia.

--Você controla isso melhor que eu. -- Comentei, vendo-o fazer as água voltarem lá para baixo, voltando a se chocarem contra as pedras. -- Impressionante.

Filha do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora