Silence's Children

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--Agradeça por eu não te queimar. -- Chutei a cabeça do mundano que estava tentando pegar o revolver a alguns centímetros de sua mão. -- Fogo celestial arde feito o inferno, sabia?

Aparentemente, os mundanos que haviam ali quando cheguei chamaram reforços que não demoraram muito para chegar.  Irmãos do Silêncio são ótimos combatentes, mas eu raramente deixava alguém armado se aproximar deles. Eu esquentava as armas, ao ponto de queimarem a mão de seu portador, e deixava eles fazerem o resto. 

Um disparo atrás de mim chamou minha atenção, algo interrompeu o percurso da bala que estava direcionada a mim. Algo não, alguém. Havia uma outra figura encapuzada, esse não era um irmão do silencio, era um garoto que tinha seu rosto escondido por uma máscara. Ele estava com a mão estendida na frente do corpo e a bala estava pairando no ar, outro Black Blood?

Não tive muito tempo para prestar atenção no que ele estava fazendo, dois homens tentaram o atacar por trás e, como uma forma de pagar a dívida, eu os impedi de chegarem até ele. Em poucos minutos não havia mais ninguém nos atacando, todos estavam desacordados ou mortos.

--Quem é você? -- Perguntei ao garoto, assim que tudo finalmente acabou.

--Seu irmão. -- A voz do Irmão Jeremiah soou em minha cabeça.

--Irmão? -- Franzi o cenho, vendo os três Irmãos do Silêncio parados a nossa frente. -- O que quer dizer?

--Esse garoto foi criado como você. -- Irmão Zachariah explicou, sinalizando para o garoto com suas mãos meio esqueléticas. -- É um filho do Silêncio também.

--Quantos de nós existem?

--Apenas vocês dois. -- Irmão Enoch se pronunciou. -- Não criamos muitas crianças, apenas as aceitamos em casos extremos.

--Seus poderes... -- O garoto abriu a boca pela primeira vez e eu notei um leve sotaque em sua pronúncia. -- Como conseguiu eles?

--Um demônio me infectou quando eu era criança. -- Resumi. -- E você?

--Um mundano tentou me matar, na verdade ele conseguiu. -- Arqueei uma sobrancelha, esperando por uma explicação melhor. -- Me deram como morto e eu acreditava estar morto até acordar na Cidade do Silêncio, sem memória. Dias depois que eles me acolheram, meus "dons" se manifestaram.

--Também sem explicação?

--Sim. -- Os três Irmãos do Silêncio responderam ao mesmo tempo, fazendo um coro bizarro na minha cabeça.

Estava prestes a fazer mais perguntas quando ouvi a voz de Jace vindo da entrada. Eles definitivamente não podem saber que eu fui criada pelos Irmãos do Silêncio. Olhei para o Irmão Zachariah como se perguntasse o que eu deveria fazer e ele ergueu a mão esquelética em direção a uma das "portas" que haviam ali.

O garoto olhou para o Irmão Jeremiah que sinalizou para a mesma porta e nós dois passamos por ela em passos largos. Você deve estar se perguntando o porquê de eu nunca ter contado para quase ninguém sobre minha criação. Bom, como o Irmão Zachariah disse uma vez, a Cidade do Silêncio não é um orfanato. Não são todas as crianças que conseguem viver naturalmente aqui embaixo como vivem lá em cima. Irmão Jeremiah diz que, para viver entre eles, coragem não é necessariamente um fator importante. A criança tem que ter força física e espiritual para conseguir aguentar determinadas coisas, incluindo runas que shadowhunters normais não podem ter.

Passei a mão pela nunca. Certas runas podem causar mal estar quando ativadas, então isso explica o que aconteceu comigo no escritório do Alec. Droga... Terei que dar uma boa explicação a eles depois.

--Você mora em New York? -- Perguntei ao garoto, assim que estávamos longe o suficiente da Cidade do Silêncio e dos olhos de outros shadowhunters.

--Sim, mas vivo escondido entre os mundanos. -- Ele deu de ombros, retirando a máscara. Olhos puxados, meu Deus a Ásia me... Espera... Eu só posso estar ficando maluca.

--Meu Deus... -- Deixei escapar, parando de andar e automaticamente ele parou também. -- É você.

--Sim... Sou eu... -- O garoto pronunciou lentamente, parecendo confuso. -- Espera. Você me conhece?

Sentindo que nenhuma palavra sairia da minha boca, apenas assenti positivamente em resposta. Os olhos, o tom de pele, a fisionomia, tudo lembrava ele. Acho que fiquei encarando o garoto durante uns cinco minutos antes de acordar do meu transe.

--Fala para mim que eu estou ficando maluca e seu nome não é Kim Jongin. -- Praticamente sussurrei, fechando meus olhos na tentativa de organizar meus pensamentos.

--Quer que eu minta?

Arregalei os olhos. Meu Deus, eu estou frente a frente com o irmão Kim que tinha sido assassinado. Senti meu sangue congelar ao pensar em como os outros três reagiriam a isso. Droga, como o Ryan vai reagir? Dos três irmãos ele é o que mais sente. Como eles vão reagir ao descobrirem que sofreram tanto pela morte de alguém que na verdade estava escondido o tempo todo? Como eles vão reagir ao saberem que o garoto nem se lembra deles? Como eles vão reagi...

--Hey, você está bem? -- Jongin estalou os dedos na frente do meu rosto. -- Parece que viu um fantasma. 

É porque eu vi!

--Nós precisamos recuperar suas memórias. -- Digo, despertando do meu estado de transe. -- O mais rápido possível. 

--Não... -- Jongin deu dois passos para trás, parecendo assustado. -- E-Eu não quero. 

--Por que não?

--O passado pode ser assustador. -- Coçou a nuca. -- Eu estou bem assim. 

--Okay, como eu te explico isso? -- Perguntei para mim mesma, me escorando em uma árvore que havia lá perto. 

--Pode começar me explicando de onde você me conhece. -- O garoto sugeriu. 

--Eu não conheço você, conheço seus irmãos. -- Respirei fundo, massageando as têmporas. 

--Woah, eu tenho irmãos? -- Ele pareceu animado com isso.

--Sim, mas não são irmãos por algo acidental como o sangue. -- Expliquei o que Ryan sempre dizia. -- Vocês quatro escolheram ser a família um do outro. 

--Nós somos em quatro? 

--Sim. -- Sorri de canto ao me lembrar dos garotos. -- Kim Oh Ryan é o mais velho,  ByunKwan o segundo mais velho, o mais novo é o Hyunjae. Você é o segundo mais novo. 

--Eu... -- Limpou a garganta. -- Posso ver eles? 

--É por isso que eu quero que recupere suas memórias. Jongin, seus irmãos ainda não superaram sua morte, principalmente o Ryan. -- Expliquei, desencostando da árvore e andando até ele. -- Não é que eu queira afastar vocês, isso é tudo o que eu menos quero. Mas se você aparecer sem memórias, pode não surtir um efeito positivo sobre eles. 

Jongin soltou um suspiro cansado e levantou a cabeça, fitando os céus como se esperasse um sinal de que decisão deveria tomar. Ele estava tenso, confuso e ainda um pouco assustado, dava para perceber de longe.  

--Não precisa decidir isso agora. 

--Preciso sim. Ou não vou dormir a noite. -- Insistiu, finalmente desviando seus olhos das estrelas para me encarar. -- Tudo bem. Vou falar com o meu pai amanhã, ele pode trazer minha memória de volta. 

--Irmão Jeremiah? -- Perguntei, recebendo um aceno positivo em resposta. -- Isso meio que faz de você meu primo. 

--Irmão Zachariah? -- Jongin perguntou com um sorriso de canto e eu assenti em resposta. -- Tem razão, isso meio que faz da gente primos. 

Nós dois rimos fraco e continuamos nosso percurso juntos até um certo ponto, antes de nos separarmos e cada um seguir seu caminho. Eu definitivamente preciso de férias. Quem diria que um caso traria tantas reviravoltas? 

Filha do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora