Oh My God, I'm Gonna Kill You

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Poucas Horas Antes

Assim que subimos por uma escada de pedra até o refúgio, Henry começou a explicar como que aquele lugar foi criado. Tudo começou durante o primeiro experimento Black Blood. Depois que os shadowhunters fundadores foram presos, a Clave começou a caçar as pessoas em quem o experimento obteve êxito, as prenderam e, em alguns casos, até mesmo mataram. Os sobreviventes fugiram até não aguentarem mais e então, depois de alguns anos, desapareceram.

A Clave implanta na cabeça dos novos shadowhunters que os Black Blood foram destruídos a muito tempo e se justificam dizendo que eles eram uma mancha negra no sangue puro dos shadowhunters. Daí saiu o nome Black Blood, da história de que gente como nós tem o sangue tão negro e poluído quanto nossas almas.

Enquanto eles espalhavam boatos, os Black Blood sobreviventes criaram um refúgio e emitiram um chamado para os que ainda vagavam por aí sem rumo. Aos poucos o refúgio foi enchendo e novas construções foram feitas. Cada continente tinha seu refúgio, sempre em meio a florestas e em lugares que ninguém pensaria em procurar. E se procurasse não acharia nada por conta da magia de ocultação em volta de cada refúgio.

Enquanto andávamos entre as casas algumas pessoas nos lançavam olhares estranhos, principalmente a mim. Por conta das runas, eu acho. Estariam encarando Jongin também se as runas dele não estivessem quase sumindo.

--Henry!

O garoto apoiou um joelho no chão e abriu os braços enquanto uma garotinha corria sorridente em sua direção. Ela tinha cabelos escuros e olhos claros, me lembrava muito alguém que eu conhecia.

--Você demorou para voltar. -- Disse ela, assim que Henry a tirou do chão. -- Papai e eu ficamos preocupados.

--Desculpe, eu tive alguns problemas. -- Ele sorriu fraco acariciando os cabelos da garotinha. -- Onde está o seu pai? Eu trouxe alguém que ele vai querer ver.

A garotinha direcionou seu olhar para mim e Jongin e sorriu de uma forma meio tímida antes de voltar sua atenção para Henry. Depois de sussurrar algo no ouvido dele, ela foi colocada no chão e começou a nos guiar pelas "ruas" daquela cidadezinha. Tudo ali era tão bem feito e bonito, parecia tão agradável. Acho que era justamente para não se parecer com um refúgio e sim com um lar, um lugar em que as pessoas se sentissem bem. Eu não me incomodaria em viver em um lugar como esse.

Paramos em frente a um lugar aberto, não haviam outras construções ali além de um parapeito. Algumas pessoas se apoiavam ali para observar a paisagem, que era bem bonita por sinal. A garotinha, que descobri se chamar Laura, foi até um rapaz que estava de costas enquanto nós permanecemos no mesmo lugar, distraídos com a paisagem e o sol que começava a se por.

--O que eu te disse sobre sair sozinho, Henry? Eles sabem quem você foi procurar, era óbvio que iriam atrás de você. -- Uma voz conhecida chamou minha atenção e eu desviei meus olhos para o dono dela.

--Eu estou bem, Marcus. -- Henry sorriu de canto, colocando as mãos nos bolsos da calça. -- Sua amiga me ajudou.

Marcus só pareceu se dar conta da minha presença quando Henry sinalizou para mim com a cabeça, dirigiu seu olhar para mim e sorriu fraco, ficando a minha frente.

--Mas que diabos você estava pensando quando resolveu simplesmente sumir? Não avisou nem o Miguel! Nós somos uma família, caramba, a gente ia te ajudar.

--Eu sei... -- Marcus coçou a nuca, fazendo uma careta em seguida. -- Em minha defesa, eu estava desesperado.

--Ah meu Deus, eu vou matar você. -- Ameacei começando a esmurrar seu braço. -- Nunca mais faça isso.

--Se nosso plano der certo, eu nunca mais vou precisar. -- Disse ele, segurando meus pulsos para que eu não o atingisse mais. -- Confia em mim.

--Tudo bem. -- Me soltei dele, me dando por vencida.

Marcus sorriu vitorioso, mas logo arregalou os olhos ao reparar em Jongin.

--Esse é...? Esse aqui é...? Mas ele não estava...? -- Henry e eu seguramos o riso enquanto Marcus gaguejava. A cara de espanto dele era impagável. -- Mas o que...?

--Sim, eu sou o Jongin. E sim, eu estou vivo. -- Jongin se manifestou com ar de riso. -- Antes que pergunte, não tenho ideia de como isso é possível.

--Ah... O-Okay... Então... Então tá bom. -- Henry, Laura e eu começamos a rir quando Marcus voltou a gaguejar.

Depois de um tempo, Marcus nos levou até onde morava com Laura e Henry. Quanto mais eu via daquele refúgio, mais impressionada eu ficava. Quem projetou tudo aquilo merecia um prêmio. Assim que nos acomodamos dentro da cabana de madeira, Marcus me entregou uma troca de roupa e eu pude finalmente tomar um banho e tentar colocar minha cabeça no lugar.

Me sentei em uma das camas que haviam ali enquanto penteava meus cabelos e fitei a parede. Faziam quase dois dias que eu tinha "desaparecido", o pessoal em Nova York devia estar preocupado. Jian principalmente. Alcancei meu celular em cima do criado mudo e praguejei mentalmente ao ver que ele estava sem bateria.

--Seu amigo quer falar com você.  -- Jongin avisou, se apoiando no batente da porta.

--Você 'tá bem? -- Perguntei enquanto guardava o pente na gaveta da penteadeira.

--Estou, eu acho. -- Franziu o cenho olhando para o nada. -- Mas ainda estou com medo.

--De encontrar seus irmãos?

--Sim... -- Jongin soltou um suspiro cansado enquanto andávamos pelo corredor. -- Como eu te disse antes, as pessoas mudam.

--Eles podem ter mudado, mas não acho que vão agir de uma forma estranha com você. -- Dei de ombros. - Digo, nos primeiros dias eles vão tentar de proteger de tudo e de todos, mas isso passa depois de um tempo. Estou dizendo isso por experiência própria.

--Também voltou dos mortos? -- O garoto me encarou com uma expressão confusa.

--Não exatamente... Eu fiquei um bom tempo em coma e quando acordei eles quase me arrastaram para a Coréia com eles.

Jongin sorriu fraco e novamente eu me peguei comparando seu sorriso com o de uma criança. Tinha uma certa pureza nele, coisa rara de se encontrar no mundo em que vivemos.

--Queria falar comigo? -- Perguntei adentrando a cozinha, onde Marcus estava conversando com Henry.

--Tem falado com o Jian ultimamente? -- Marcus perguntou, desviando sua atenção para mim.

--Não, meu celular estava sem sinal e agora sem bateria, por que?

--Vamos precisar dele. -- Franzi o cenho. -- Não temos muitas pessoas que dominam a água. Pode ir buscar ele?

--Posso, mas preciso avisar que estou indo. -- Tirei o celular do bolso. -- Preciso de um carregador.

Henry apontou para o carregador portátil no armário e eu conectei meu celular, mandando algumas mensagens para Jian assim que o aparelho deu sinal de vida.

--Volto logo. -- Disse colocando o celular e o carregador no bolso, antes de sumir.

Filha do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora