Be Direct

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--Vai me explicar o que o Marcus quis dizer? -- Izzy perguntou, assim que me levantei da cadeira. -- Como assim "não é tudo que os olhos podem ver"?

--Posso explicar depois? Tenho que achar esse garoto. -- Respirei fundo olhando em volta. 

--E como você vai fazer isso?

Deixei as chamas que escondia por trás do cinza dos meus olhos finalmente virem a tona, tendo uma visão mais nítida daquele quarto. Izzy arregalou os olhos. 

--Você é uma Black Blood? -- Perguntou ela, sua expressão em uma mistura de surpresa e preocupação. 

--Isso é uma história meio longa. -- Sorri de canto, ainda olhando em volta. -- Se importa de manter isso em segredo? Pelo menos enquanto resolvemos esse bendito caso.

Izzy apenas assentiu ainda um tanto espantada e eu comecei a andar pelo quarto, procurando qualquer assinatura de calor. Achei uma embaixo da cama e logo o som de outro coração batendo soou em meus ouvidos. Havia esquecido o quanto meus sentidos se aguçavam quando meus olhos estavam em chamas, nunca entendi a ligação que fazia isso acontecer. 

Me abaixei ao lado da cama e Izzy me acompanhou com o olhar, tinha certeza absoluta de que ela não estava o vendo. Motivo? Havia um tipo de aura azul em volta do corpo encolhido embaixo da cama, sinal claro de que a pessoa estava usando seus poderes para se manter invisível. 

--Achei ele. -- Avisei, sem tirar os olhos da figura a minha frente. -- Está se mantendo invisível. 

--Como você sabe disso?  -- Izzy perguntou, se aproximando da cama. 

--Assinatura de calor. Quando uma pessoa utiliza seus poderes, um tipo de aura azul fica em volta dela.  -- Expliquei, fazendo uma pequena chama aparecer na ponta de um dos meus dedos. Encostei a chama na pele do garoto e logo a aura azul começou a se desfazer. -- Consegue ver ele agora? 

--Meu Deus... 

Empurramos a cama até que ela se encostasse na parede e finalmente tivemos uma visão clara do garoto. Ele tinha ferimentos no rosto e uma mancha de sangue no ombro esquerdo, estava perdendo sangue, havia uma possa ao seu lado. Olhei para Izzy sem que ela percebesse, me perguntando se deveria fazer aquilo na frente dela, depois desviei meu olhar para o garoto a nossa frente.

--Droga... -- Sussurrei para mim mesma, dobrando as mangas da minha camisa. -- Izzy, pode se afastar um pouco?

--O que vai fazer? -- A morena me encarou, parecendo confusa. -- Ele precisa de ajuda.

--Eu sei. -- Me ajoelhei ao lado do garoto e segurei seus pulsos enquanto sentia o fogo celestial correr pelas minhas veias, as fazendo adquirir um tom de laranja. As chamas logo voltaram aos meus olhos, acompanhadas daquela sensação familiar que tomava conta do meu corpo sempre que eu curava alguém. Me afastei de Henry assim que seus ferimentos se fecharam, ele ainda estava desacordado, mas pelo menos não corria mais riscos. -- Fogo celestial pode tanto ferir quanto curar, você só tem que saber como usa-lo para o que quiser fazer...

Izzy ia se manifestar quando o som de algo se quebrando chamou nossa atenção. Tirei minha espada do suporte e fui andando em passos cautelosos até a sala, mas o que... 

--O que vocês estão fazendo aqui? -- Jian, Sophie, Emily, Jace e Alec estavam parados no meio da sala com suas lâminas e luzes enfeitiçadas em mãos. 

--Procurando vocês duas. -- Jian respondeu, logo dirigindo seu olhar para as manchas de sangue no meu braço. -- O que aconteceu?

--Nada. -- Guardei minha espada de volta no suporte e abaixei as mangas da camisa. -- O sangue não é meu. 

--O que vieram fazer aqui? -- Alec perguntou, com sua típica expressão desconfiada. 

--Deixa que eu explico. -- Disse Izzy, ficando ao meu lado. -- Vai ver como o garoto está. 

Assenti e voltei para o quarto, ouvindo passos me acompanharem.

--Quem é o garoto? -- Sophie perguntou, me ajudando a deitar ele na cama. 

--Henry Lee. -- Respondi me sentando na beirada da cama. -- Ele me ligou dizendo que queria me encontrar, quando eu e Izzy chegamos o encontramos todo machucado embaixo da cama. Estava se mantendo invisível. 

--Outro Black Blood? -- Emily arqueou as sobrancelhas e eu acenei positivamente em resposta. 

--Precisamos nos reunir... -- Digo coçando os olhos e soltando um suspiro cansado em seguida. -- Aconteceram coisas demais de ontem para hoje. 

--Tipo o que? -- Sophie me fitou, se escorando na parede. 

--Pessoas voltando dos mortos, desaparecidos dando noticias, mundanos atacando shadowhunters e um Black Blood que aparentemente pode acabar com tudo isso. 

--Então eu acho que temos muito a conversar. -- Disse Alec, adentrando o quarto junto com os outros. 

--Nem tanto. -- Me levantei da cama. -- Metade dessas coisas tem a ver com a nossa familia. 

--E por que não podemos saber? -- Jace perguntou, me fitando com os braços cruzados. Não precisava ser nenhum gênio para saber que eles descobriram alguma coisa que não deveriam ter descoberto.

--Jace. -- Izzy o repreendeu.  

Emily, Sophie e Jian também pareceram perceber o rumo que aquela conversa estava tomando e tensionaram um pouco os músculos, isso já não era tão claro, mas eu sabia que se um dos dois tentasse fazer acusações sobre mim eles entrariam no meio. 

--Seja direto, Herondale. 

--Quer que eu seja direto? Então eu vou ser. -- Jace deu uma passo a frente e logo Jian lançou um olhar matador para ele, o garoto sempre adquiria um olhar sombrio quando via algo que não gostava. -- Você está trabalhando com a gente, mas quase não compartilha informações. Quando ia nos contar que fazia parte do Black Blood? Tem noção de como seria mais fácil se tivéssemos a fórmula que cria os Black Bloods? Poderíamos tentar criar uma cura ou sei lá. Mas tivemos que esperar até o Marcus descobrir que o Jian era um Black Blood e logo em  seguida desaparecer. O seu egoísmo pode ter matado o Marcus. 

Aquela foi a gota d'água, tanto para mim quanto para os outros. Jian estava prestes a avançar no Jace, mas eu fui mais rápida. Segurei o loiro pelo colarinho e o joguei no chão, atraindo olhares espantados para mim enquanto o imobilizava. Não sou uma pessoa explosiva, mas se tem uma coisa que desperta o pior lado de mim é pessoas apontando o dedo na minha cara e me julgando como se soubesse de tudo. 

--Eu não sou uma Black Blood, seu idiota. -- Disse entre os dentes, ainda o prendendo contra o chão. -- E mesmo se eu fosse você acha que é fácil revelar para a clave que você tem poderes? Eles caçaram os primeiros Black Bloods, então é obvio que os que sobraram não tem coragem de se revelar. -- O soltei, me levantando e arrumando minha camisa. -- Antes de chegar fazendo acusações contra alguém tenha provas, procure saber a verdade para não pagar de babaca igual você está fazendo agora. 

Dei as costas para ele e fui em direção a sala novamente, esbarrando propositalmente em Alec ao passar pela porta. Ele podia não ter dito nada, mas tenho certeza que pensava a mesma coisa que Jace, seus olhos sempre o entregavam. 

Filha do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora