Capítulo 25

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Meu pai me acordou logo cedo e vamos juntos para a escola, encontrei Natanael e ficamos conversando até o momento em que os trabalhos foram iniciados. Eu e Natan estávamos juntos nessa. O tema era poemas e poesias, eu gostei de verdade. Depois de horas e horas repetindo as mesmas palavras, estava exausta.

_ Está quase na hora de recitar os poemas. Está pronta? _ Natan pergunta.

_ Sim. _ Olho para Ruan e vejo ele seguir até a porta da sala. Bianca entra pela mesma e lhe dá um selinho.

_ Fica calma. _ Pede Natan ao meu lado.

_ Eu estou calma. _ Falo. Minutos depois, os dois saem da sala. Respiro fundo pois era a minha vez de apresentar.

_ Ele voltou sozinho. _ Sussurra Natan no meio ouvido.

_ Estou cansada e irritada. _ O olho.

_ Desconta sua raiva recitando a poesia, está na hora. _ Suspiro. A última apresentação da nossa feira vai ser toda a turma, cada um deveria recitar uma poesia por vez.

Assim que chegou minha vez, me posicionei ali no centro da sala com o microfone em mãos. Olho para o meu papel onde estava escrita a poesia para caso de eu esquecer. Levanto o olhar para a minha plateia, encontro Natan que sorri me encorajando, mas não era ele quem eu precisava ver. Encaro Ruan por alguns segundos e amasso o papel em minha mão, não é esse o poema que eu quero recitar, não tem nada a ver comigo. Suspiro.

_ O teu riso de Pablo Neruda. _ Respiro fundo e volto o meu olhar a Ruan novamente, ele também me encarava:

Tira-me o pão, se quiseres, 
tira-me o ar, mas 
não me tires o teu riso. 

Não me tires a rosa, 
a flor de espiga que desfias, 
a água que de súbito 
jorra na tua alegria, 
a repentina onda 
de prata que em ti nasce. 

A minha luta é dura e regresso 
por vezes com os olhos 
cansados de terem visto 
a terra que não muda, 
mas quando o teu riso entra 
sobe ao céu à minha procura 
e abre-me todas 
as portas da vida. 

Meu amor, na hora 
mais obscura desfia 
o teu riso, e se de súbito 
vires que o meu sangue mancha 
as pedras da rua, 
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos 
como uma espada fresca. 

Perto do mar no outono, 
o teu riso deve erguer 
a sua cascata de espuma, 
e na primavera, amor, 
quero o teu riso como 
a flor que eu esperava, 
a flor azul, a rosa 
da minha pátria sonora. 

Ri-te da noite, 
do dia, da lua, 
ri-te das ruas 
curvas da ilha, 
ri-te dessa moça
desajeitada que te ama, 
mas quando abro 
os olhos e os fecho, 
quando os meus passos se forem, 
quando os meus passos voltarem, 
nega-me o pão, o ar, 
a luz, a primavera, 
mas o teu riso nunca 
porque sem ele morreria.

Ouço as palmas e volto a realidade deixando de encarar Ruan. Volto para meu lugar e outra garota vai recitar sua poesia.

_ Foi muito bem, fiquei até arrepiado. _ Natan diz e sorrio.

_ Valeu.

A Filha Do Diretor (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora