Capítulo 1

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Algum tempo depois...

Ainda com os olhos fechados estico o braço e desligo o despertador.

Esfrego o rosto e abro os olhos, a única luz no quarto escuro vem dos números brilhantes que indicam que são seis da manhã.

Levanto-me e vou direto ao banheiro, escovo os dentes e visto um shorts de corrida e uma regata branca.

Vou até a cozinha e paro ao ver a revista Forbes em cima do balcão. Os solteiros mais cobiçados do ano.

Estar na lista de jovens ricos e solteiros da revista pelo terceiro ano consecutivo me trouxe mais dor de cabeça do que eu poderia imaginar.

Pego a revista e a jogo no lixo antes de abrir a geladeira e pegar os ingredientes para meu smoothie.

Coloco os cubos de gelo, meia xícara de goji, pedaços de abacaxi e um pouco de água de coco no liquidificador e bato tudo até todos os ingredientes se misturarem e formarem uma bebida de um laranja forte.

Depois de despejar o conteúdo do liquidificador em um copo e beber tudo, prendo meu Ipod ao meu braço com a ajuda de uma braçadeira e saio para o ar fresco da manhã.

Coloco para reproduzir a minha seleção de músicas da banda Nine Inch Nails e começo minha corrida matinal ao som de Closer.

Closer é a música mais visceral, crua e perturbadora que eu conheço. Às vezes parece que foi feita pra mim, pra ser a trilha sonora da minha vida. Na verdade, muitas músicas dessa banda parecem ter sido escritas diretamente pra mim. Como por exemplo a próxima música da playlist. Eu me feri hoje, pra ver se ainda sinto. Eu foquei na dor,a única coisa que é real. A agulha abriu um buraco, a familiar velha picada, tento matá-la de todos os jeitos, mas eu me lembro de tudo.

Sim, eu me lembro de tudo.

Não vou fingir que sinto pena de mim mesmo, que eu fui o único a ter uma infância fodida, mas sim, eu me lembro de tudo. Tudo que me tornou quem eu sou hoje.

Duro. Frio. Incapaz de amar de verdade.

Não importa o tamanho da ferida, todas acabam virando cicatrizes no final. E o grande desafio é conviver com elas. Observá-las e senti-las todos os dias, uma lembrança constante do quanto você está quebrado além de qualquer reparo.

Gosto de correr o mais rápido que consigo porque tudo ao meu redor se transforma em um borrão. Como se o mundo que eu conheço já não existisse mais.

E nesse momento não existe mais nada. Apenas eu e o vento que esfria minha pele.

Depois de quarenta minutos estou de volta ao meu prédio e vou direto para a academia. A maioria das pessoas está acordando nesse exato momento, o que faz com que o local esteja deserto.

Faço vinte minutos de uma combinação poderosa que exercita todo o meu corpo e então vou tomar uma chuveirada antes de ir trabalhar.

Saio do banho e enrolo a toalha em volta da cintura. Vou até meu closet e passo os dedos pelos ternos e depois pelas camisas dobradas perfeitamente.

Escolho uma camisa clara e um terno Armani. De frente para o espelho faço o nó em minha gravata e abro a gaveta onde fica a minha coleção de relógios.

Antes de ir ao escritório paro em uma padaria e tomo café da manhã.

Entro em meu Aston Martin e sigo para o centro de Dallas, no Texas, onde fica a sede da Intelli.

Amélia - Filhos da Paixão #1Onde histórias criam vida. Descubra agora