Olá, pessoas! Como foi o Natal? Ainda estou de férias, mas escrevi um capítulo pequeno só pra vocês não ficarem muito tempo sem a Amélia e o Nate. Beijos e Feliz Ano Novo!!!
O cheiro podre está em todo o lugar.
Caminho pelos cômodos já conhecidos e não me surpreendo ao perceber que lembro cada detalhe deste lugar.
Paro em frente a uma porta entreaberta de um quartinho pequeno e sujo. Eu entro e vejo um menininho deitado em um colchão no chão.
Ele é tão pequeno e frágil. Suas roupas estão imundas assim com seu corpinho encolhido.
Ele está olhando fixamente para a mancha na parede. Parece em um estado semivivo.
Ele está com fome. Muita fome.
Sei disso porque esse garotinho sou eu. Sei o quanto dói sua fome porque ela também é a minha.
Observo o garotinho se levantar lentamente, quase como se não tivesse forças para fazê-lo. Ele caminha até a cozinha. Pratos sujos com comidas emboloradas estão espalhados por todo lugar. O lixo está transbordando da lixeira e forma uma pilha no canto.
Vejo o garotinho abrir os armários procurando por comida, mesmo que ele já saiba que não encontrará nada.
É a esperança boba das crianças, de que por um passe de mágica as coisas mudem.
A geladeira também está vazia e a sua barriga, a minha barriga, está doendo muito.
O garotinho então vai até a sala, que está escura com exceção da luz que vem da TV. O garotinho olha para o homem sentado no sofá de cabeça baixa e escuta com atenção.
Seu pai está dormindo e seus olhos vão até o balde gorduroso ao lado do homem. O garotinho tem medo de chegar perto do pai, sempre teve, mas a fome é dura demais e ele se aproxima devagarzinho.
Para sua tristeza tudo o que ele vê dentro do balde são ossos com apenas alguns pedacinhos de carne esquecidos pelo homem mais velho.
Ele pega o osso do que já fora um pedaço suculento de frango e começa a roer, a tirar os pequenos pedacinhos de carne que sobraram.
Ele pega o balde e vai até seu quartinho, se senta no chão e começa a comer os pedacinhos de carne, e depois que eles acabam, começa a chupar os ossos.
Suas mãozinhas estão tão gordurosas, seu rostinho está tão sujo. Tenho vontade de segurá-lo, de abraçá-lo e levá-lo para longe dessa casa. Para longe desse monstro.
— Sabia que tinha sido você! Quem mandou mexer na minha comida? — Ele ouve a voz do pai antes de vê-lo entrar no quarto e seu coraçãozinho parece parar de bater.
— Você vai ver só, vai aprender uma lição! — O homem diz, tirando o cinto da calça.
O garotinho começa a chorar e se encolhe. Não é a primeira vez que ele apanha e com certeza não será a última. Mas não importa quantas surras ele leve, ele nunca se acostuma com a dor.
Eu nunca me acostumo com a dor.
O cinto desce sobre a pele do garotinho e eu começo a gritar. Grito para que ele pare, para que deixe o garotinho em paz. Mas ele não para. Ele nunca para.
Todo dia é a mesma coisa.
Grito com todas as minhas forças, mas percebo que o homem não me ouve. Ele não me ouve porque tudo isso é apenas uma lembrança.
O garotinho está sozinho. Sozinho.
— Nate! Nate!
Acordo assustado e demoro dois segundos para me lembrar que Amélia está no quarto comigo. É ela quem me acordou.
— O que foi? Você está bem? — Pergunto, alerta. Se ela estiver com muita dor terei que levá-la ao hospital.
Sabia que ela deveria ter ficado internada mais tempo. O acidente foi feio.
— Estou. Você está? — Ela pergunta, meus olhos se acostumam com o escuro e percebo que ela me olha preocupada.
— Hum? — Pergunto sem entender.
— Você estava tendo um pesadelo. Estava gritando.
— Ah! Sinto muito, não quis acordá-la. Volte a dormir, você precisa descansar. Vou ficar no quarto de hóspedes. — Digo e levanto-me.
— Espere! — Ela segura meu braço. Sento-me na beira da cama e olho para Amélia, mas evito seu olhar.
Sei que de algum modo se ela olhar direto pra mim vai conseguir enxergar tudo.
— Me conta o que você sonhou. Quer conversar sobre?
— Não foi nada demais. — Minto e passo a mão pela testa. Estou suando frio.
— Você estava gritando de um jeito bem horrível. Você não estava sonhando com o acidente, não é?
— Estava. — Minto de novo, aproveitando a oportunidade para esconder meu verdadeiro pesadelo.
— Ah, Nate! Sinto muito que você tenha se assustado tanto assim, mas eu e Logan vamos ficar bem logo, você vai ver. — Ela diz e me abraça por trás, repousando a cabeça em minhas costas.
Seu toque é como um remédio, é como morfina para minha dor. Cubro sua mão com a minha e entrelaço nossos dedos.
— Eu vou ficar bem. — Digo. — Vou até a cozinha e volto logo.
Beijo seus dedos e levanto-me. Saio do quarto e vou até o bar. Sirvo-me de uísque e paro em frente a janela da sala, observando Dallas envolta pela escuridão da noite.
Eu sou um homem agora, não sou mais aquele garotinho indefeso, mas então porque ainda me sinto assim as vezes? Por que não consigo esquecer?
Ouço passos leves no piso e sinto um toque suave em minhas costas nuas.
Amélia fica do meu lado, em silêncio. É como se ela soubesse que só sua companhia é o suficiente.
Ela não me enche de perguntas e eu lhe agradeço mentalmente por isso.
Termino minha bebida e coloco o copo na mesinha de centro, depois viro-me para Amélia e a puxo delicadamente.
Seguro seu rosto e a beijo. Ela não protesta, Amélia simplesmente se entrega por inteiro.
Ela confia em mim e se entrega, mesmo que eu tenha quebrado seu coração anos antes. Ela me ama.
Amélia, a mulher mais linda e perfeita que eu já conheci me ama. Como é que eu posso fazer isso? Como posso aceitar esse amor? Ela merece um homem perfeito como ela, não um homem como eu, que não foi capaz de merecer o amor dos próprios pais.
Mas o Diabo vai ter que vir pessoalmente buscar minha alma antes que eu permita que outro homem encoste nela.
Eu sei. Sou um egoísta filho da puta.
Sei que não a mereço, mas mesmo assim não posso deixá-la ir.
Pego Amélia no colo e a levo para o quarto. A coloco na cama e começo beijar todo o seu corpo.
Amélia é mais nova e inocente do que eu, mas mesmo assim ela me ensinou algo que eu nunca pensei que fosse possível.
Ela me ensinou a fazer amor, lenta e apaixonadamente. Ela me mostrou que sexo pode ser mais do que apenas orgasmo, que pode ser sobre conexão entre duas pessoas, sobre entrega, sobre confiança.
Nunca vou me esquecer do presente que ela me deu, e em troca, vou fazer amor com ela todos os dias até que ela não me queria mais.
Gostou? Deixa um comentário dizendo o que achou que eu vou adorar ler! Não esquece de votar também, ajuda bastante!! Beijos!!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amélia - Filhos da Paixão #1
RomanceEsse é o primeiro livro da série Filhos da Paixão, spin-off da Série da Paixão. Amélia é o livro que dá inicio a série e conta a história da única filha do Vince e da Ella (Paixão em Jogo). ESSE LIVRO NÃO É ACONSELHÁVEL PARA MENORES DE 18 ANOS.