Capítulo 27

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Ela vai ficar bem.

Ela vai ficar bem.

É só nisso que consigo pensar enquanto caminho pelo corredor procurando pelo seu quarto.

Finalmente depois de uma eternidade, eu consegui que alguém me dissesse o que estava acontecendo.

Vovó não teve um derrame, foi o que disseram. Ela vai ficar bem, é o que a médica disse.

Aparentemente a combinação de fortes emoções, pressão alta e estômago vazio causou o desmaio.

Dou uma leve batida na porta e entro. Não muito tempo atrás eu mal conseguia me aguentar em pé, mas agora estou mais sóbrio do que nunca.

— Vovó?

— Querido. — Sua voz fraca responde.

Vou até a cama, seguro sua mão e lhe dou um beijo.

— A senhora está bem?

— Estou me sentindo um pouco cansada, sonolenta. A médica disse que é melhor eu ficar em observação hoje, mas que é bem provável que não seja nada grave.

— Eu sei, eu falei com ela lá fora.

— Espero não ter te assustado pra valer. — Ela diz sorrindo e dando uns tapinhas em meu rosto.

— Assustou! Assustou muito, vó. A senhora não pode fazer isso, nunca mais!

— Oh, meu menino!

— Eu te amo demais, vovó. — Fungo e limpo a lágrima antes dela cair.

— Também te amo, meu querido. Desculpe te assustar, mas estou bem agora. Graças a Deus sua mãe estava lá ou eu...

— Não diga isso, é culpa dela você estar aqui. Se ela não tivesse aparecido em nossas vidas você estaria em casa, em segurança!

— Querido, eu acredito em sua mãe, acho que ela está arrependida.

— Uma ova!

— Querido...

— Como você pode dizer uma coisa dessas? Ela nos abandonou! A mim e a você. Ela foi embora sem nem sequer olhar para trás. A senhora não pode estar mesmo pensando em perdoá-la.

— Eu já perdoei.

Olho para vovó deitada em uma cama de hospital, o sorriso em seus lábios contrastando com o cansaço em seus olhos.

— Como? — Pergunto.

— Como o que?

— Como conseguiu?

— Ela é minha filha, Nate. — Vovó responde simplesmente, como se isso respondesse a todas as questões. Como se isso fosse tudo o que importasse.

— Não espero que você entenda, não agora. Quando tiver seus próprios filhos você entenderá.

— Eu não consigo. Não consigo ser igual a você, não consigo fazer isso.

— Mas você nem tentou.

— Não posso fazer isso, não dá. Ela...ela me abandonou.

— Vem cá, querido. — Ela chama e estende a mão.

Com um pouco de relutância aproximo-me e segura sua mão.

— As pessoas eram, meu querido.

— Abandonar o próprio filho é muito mais do que simplesmente um erro.

— Se não quer fazer isso por ela, faça por você. Viver com esse rancor todo dentro de você não vai lhe fazer bem, vai acabar lhe corroendo.

— E eu devo simplesmente perdoá-la e esquecer tudo o que ela fez? Tudo o que eu passei?

— Não, querido, esquecer não...aceitar. Aceite que essa é sua história. Existem muitos poucos erros que não possam ser perdoados quando há arrependimento sincero. Não estou falando que será fácil e nem que há garantias que você conseguirá, estou apenas pedindo para tentar. Só isso. Só tentar.

— Vovó...

— Faça por mim então.

— Isso não é justo, você sabe que faço qualquer coisa pela senhora.

— Eu sei.

— A senhora não tem jeito mesmo.

— Sabe, meu querido, se as pessoas passassem mais tempo amando ao invés de odiando, esse mundo seria um lugar bem diferente. — Vovó diz e penso que talvez ela tenha razão.

O quão diferente o nosso mundo seria se as pessoas só amassem? Como seria viver em um mundo onde perdoar alguém como minha mãe fosse fácil?

Não estou convencido de que vovó esteja certa. Esse ódio dentro de mim está enraizado bem fundo e não acho que tenha como arrancá-lo de dentro do meu peito.

É um sentimento forte demais. Porém não o mais forte que eu sinto.

Então percebo, meu amor por vovó e Amélia é a coisa mais forte que eu já senti.

É a coisa mais poderosa que conheço. É grandioso.

Não sei se vovó tem razão, mas se ela tiver, uma coisa é certa.

Somente meu amor poderá combater meu ódio.

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Amélia - Filhos da Paixão #1Onde histórias criam vida. Descubra agora