Capítulo 37 - O lado sujo da Federação dos Planetas

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Pior do que ouvir o monólogo de Wenda, era ver o que ela era capaz de fazer.

Por que motivo tinha que ser tão cruel? Por que não podia simplesmente deixar a ele e sua família em paz? Percorrer um caminho tão longo só para encontrá-lo?

Às vezes Aquantis gostaria de fechar os olhos e fingir que nada do que estava acontecendo era real. Que sua vida era uma mentira, que aquilo tudo era uma encenação da qual ele era o ator principal.

Gostaria de abrir os olhos e descobrir que tudo não passou de um sonho.

Mas não adiantava pensar assim quando logo em seguida lhe vinha o remorso. Nunca se arrependeria de ter encontrado Trey. Mesmo que lá no fundo ainda tivesse um traço de culpa o atormentando, tinha que se lembrar do que seu namorado disse, que todos eles estavam onde estavam por escolha própria. Ninguém foi obrigado, embora pensasse que Morgana, Jack e Kayllon não tiveram escolha.

A verdadeira culpa de tudo o que estava acontecendo era daquela mulher a sua frente.

Aquantis não detestava mulheres, de forma alguma. Ele tinha uma grande admiração por Morgana, que o tratou como se fosse seu filho, e também por Kimm, que era tão forte e determinada.

Mas Wenda não era como elas. Essa mulher tinha uma arrogância interminável, muito rancor guardado e algum tipo de demência, só podia ser.

Seus cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo. Raramente a tinha visto com tal penteado, ela costumava prender tudo em um coque impecável. Suas roupas consistiam em calças coladas, uma blusinha de gola alta, um colar dourado e um blazer, além dos saltos agulha super altos, tudo branco, perfeito, sem uma dobra sequer.

Isso o fez lembrar que Keesa lhe contou uma vez que os seres humanos de sua colônia na Via Láctea costumavam dizer que branco se associava a luz, calor e felicidade, e o preto a trevas, dor e solidão. Aquantis estava vendo que não era nada disso. Nunca teve tanto medo da luz como agora.

- Você está me ouvindo? - Wenda perguntou com uma nota de ameaça em sua voz. Aquantis foi pego de seus devaneios. - Eu aqui te dizendo como o que fez feriu meus sentimentos e você não está nem mesmo ouvindo? Quem você pensa que é?

O seu tesouro, não é? Aquantis, mesmo que quisesse não podia responder, pois estava com a boca tapada por uma fita muito resistente. Sabia que doeria muito quando precisasse arrancar aquilo. Seus braços estavam presos em uma estrutura cônica na parede atrás dele, assim como os tornozelos, enquanto era mantido em pé.

Sua força normal não era capaz de desfazer das amarras, mas algo lá no fundo gritava que era possível. Uma força invisível dizia o que era capaz de fazer.

No momento em que as portas do laboratório se abriram e uma maca flutuante deslizou para dentro, parece que seu coração parou por um momento e retornou a bater quando viu Sully amarrado a cama, seus olhos bem abertos, mas não piscava, somente olhava para o teto, paralisado.

Queria gritar "o que fez com ele?!" mas tudo que saiu foi um murmúrio abafado pela contenção em sua boca.

- Podem deixá-lo aí. - Wenda balançou a mão com desdém para os cientistas que saíram em seguida, permanecendo apenas uma mulher morena ao lado da maca, que mal se movia. Devia ser uma androide.

Aquantis se contorceu onde estava, mas Wenda apontou o dedo para o seu rosto.

- É melhor que fique quieto, senão você saberá o que pode acontecer com ele.

A cientista colocava vários fios e tubos conectados a Sully.

- Você não quer que ele morra não é? Se tentar qualquer gracinha, minha querida androide Lucy vai queimar os neurônios dele. Ela é uma robô treinada, pode muito bem fazer isso.

Lost Blue [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora