Manhã

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Sem data

Escapuli da cama mais cedo que o normal para correr atrás da minha fantasia de nascer do sol. Ontem não vi o sol nascer, mas olhando para o céu vi ele em um azul escuro, azul mesmo, não preto como melaço, azul seco. Vi a silhueta apagada da cidade; pontinhos brancos e alaranjados indicavam os postes e contornavam o labirinto de ruas e estradas ao longe, mas a cidade se mantinha escura.

Era uma visão ampla, e em certo momento tive a impressão de ver o sol despontando por detrás de um amontoado de casas. Esperei ansiosamente o início do espetáculo, minhas expectativas me levavam a acreditar que ele se levantaria e faria uma explosão amarelada e brilhante no céu, que o espetáculo do amanhecer era gritante, mas foi tão sútil que eu nem vi.

Vi partes do céu que não estavam cobertas de nuvens escuras ficarem sutilmente mais claras e me senti confusa. Ainda permanecia escuro e eu ainda olhava a paisagem esperando um raio de inspiração em um nascer do sol florescente. De repente em meio a sombra de prédios e casas vi uma luz se acender e achei graça; tão do nada, aos poucos outras se acendiam; pareciam a chama de uma vela no meio de um apagão e me fez acreditar de novo que havia alguém lá, alguém além de mim. Sei que é bobo pensar que a cidade dormia, sei que não, porque às vezes quando estou acordada de madrugada quase consigo ouvir as almas jovens, velhas, sóbrias, chapadas e perdidas andando por aí, talvez se sentindo sozinhos, talvez não, mas me chamando para as ruas também, o que às vezes não me deixava dormir.

Me hipnotizei olhando as janelas das casas ao longe; pequenos quadrados amarelos, às vezes brancos, quando me dei conta e reparei no céu de novo, vi nuvens cor de rosa, laranjas e amarelas, cores fortes gritando por todo o amanhecer se enraizavam do sol, era o que eu queria ver, mas não consegui ver como se tornou naquilo. Talvez eu seja distraída demais, ou o sol tímido demais. 

O céu não é azulOnde histórias criam vida. Descubra agora