Dezessete

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03 de março de 2017

Faltava muito pouco para seu aniversário e lhe veio a noção de que fazia um ano que muita coisa havia acontecido. Não acreditava que nesse mesmo dia há um ano ainda tinha 15 anos, melancólica e intensa como sempre; mas naquela época era carente de amigos, seu cabelo ainda era muito grande e castanho, e estranhava completamente o fato de colocar um ponto final nos 15 depois de ter passado o que parecia ser uma década com a mesma idade.

Há um ano começava a fazer amigos que veria todo dia, que conheceria mais que a si mesma. Há um ano muita gente ainda era passado e hoje é presente. Há um ano algumas pessoas ainda significavam muito e outras nada, e jogos de criança ainda contavam também. Na noite do dia 27, um dia antes de seu aniversário, andou pela cidade no ápice da selvageria, mas em um ambiente que esse espírito estava em falta, a noite parecia pobre e carente, a noite estava muda quando ela precisava ouvir seus gritos.

Experimentando outra realidade, rodava a saia de pregas e se enrolava na jaqueta jeans, dançando pelo início do outono, brincou na gangorra enferrujada e queria gangorrar para sempre, porque sentia que não tinha feito o suficiente na infância. Por alguns minutos quis voltar no tempo e ser criança de novo, não ter que lidar com alguns sentimentos, com algumas consequências, com algumas responsabilidades. Mal sabia que ainda era tão criança. Tão nova nessa cabeça tão apressada.

Na época, 15 quase 16, e agora 16 quase 17, sentia que muitas coisas aconteceram e que mudou muito, mas no fundo tinha coisas que pareciam que nunca iriam mudar. Era intensa, movida pelas poesias beat, pelo som ritmado de sua rima e sua prosa apressada que nunca põe vírgula, sem ponto final, que faz uma página ser lida sem pausa para um suspiro, que faz ela querer correr, gritar, dançar, quebrar todas as barreiras da idade, do tempo, para vislumbrar a noite, sem medo de qualquer perigo.

Passou o dia do aniversário em lágrimas e deprimida por algo que não entendia. Carente de atenção que não sabia ao certo se queria, no fundo esperava mais sentimentos em si mesma. Esses sentimentos a entorpeciam, indo contra a todas as sensações de vida pulsante e juvenil, esses sentimentos a faziam chorar a qualquer momento, fazendo ela se perguntar sempre a razão, porque logo ela. Adorava romantizar a sua tristeza e cultivavas culpas dentro de si, tudo isso a abraçava de formas estranhas e a davam inspiração para escrever, se pintar, se vestir, sair e fugir.

Queria um cigarro, mas já não era uma fumante mais, queria estar bêbada, mas na maioria das vezes sentia medo de perder a sanidade. Medo, medo, medo. Medo para sempre? Até quando ia se trancar no medo? Ansiava pelos dias em que os surtos de coragem insana se tornariam cotidiano, embora não soubesse que essa coragem não era a verdadeira coragem, era apenas vontade de explodir em adrenalina. Mas com o tempo suas crises e seus surtos de medo realmente se tornariam mais passageiros, mais saudáveis e, aos poucos, passado. E dessa vez gostaria de deixar o passado em seu lugar.

Por que não conseguia romantizar a felicidade também? Era triste e cética, e não sabia que bem tudo isso fazia. Se apaixonava e se entregava demais à toa. Criava poemas na cabeça, mas não tinha coragem de colocar as estrofes no papel, mas criava parágrafos. Precisava de autoconfiança, de autoconhecimento, de amor próprio. Mas era segredo ainda.

Não teria mais o doce, ou talvez agridoce, 16, mas se perderia nos 17. E é preciso se perder um pouco para se encontrar. Pensou muito na menina de um ano atrás, tão distante, mas ainda tão presente, conseguia senti-la escrevendo na primeira página de seu diário: "não tão ansiosa para os 16", e agora contava os segundos para os 17. 

O céu não é azulOnde histórias criam vida. Descubra agora