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31 de julho de 2017

Passei três semanas lamentando nos lençóis, mas essa manhã trouxe um certo bom humor, por nenhum motivo especial, nem vou contestar muito, apenas vou aproveitar, porque ainda não me sinto dona do mundo, mas me sinto melhor que ontem, tento conter, mas não consigo evitar pensar quando será a próxima recaída. Acostumei a viver de altos e baixos, mas agora parece que estou neutra, mas tem muitas armadilhas quando se vive assim.

Lembrei de quando me contaram sobre os artistas de décadas atrás, Kurt, Jim, Jimy, Janis, Amy, entre outros, alguns que ficaram muito lembrados por usarem do caos como incentivo artístico, até buscarem por essas sensações porque temem perder a capacidade de criar, como se tudo que instigasse sua arte fosse a dor, fosse essa angustia que criasse as melhores melodias, as melhores estrofes, os melhores parágrafos, como se esse fosse o único lugar que saísse a inspiração. E se eu for parte disso também? E se tudo que eu escrever vier de tudo que me causa náuseas?

Mas eu não aguento essa ferramenta, eu uso da solidão porque acho que é bom estar sozinha as vezes, até porque sei que sou minha maior interrogação e nos momentos em que a tristeza se confunde com dor física, desespero, medo e felicidade é melhor estar sozinha. Mas aí me pergunto se sou sincera, e principalmente se estou sendo sincera no papel... só no papel... não seria algo ruim se fosse só essa a minha intenção.

Me afogo em memórias da semana passada para despertar alguma emoção nos dias que não sinto nada, a voz de Ian Curtis é inspiradora mesmo no ginásio da escola, e eu mudo as vozes alheias para ouvir a dele gritar a mesma música da tarde de ontem. Essa adolescência parece tão perdida, mas tão gostosa. As vezes dá vontade de fugir, as vezes dá vontade de gritar, as vezes dá vontade de mergulhar em garrafas de vinho, e nós nem temos idade para comprar álcool nos supermercados.

Ontem, novamente olhei os retratos colados com fita adesiva na parede e me senti velha demais com 17, logo não vou precisar mentir a idade para os caixas da rodoviária que perguntam desinteressadamente a idade enquanto me entregam o maço. O passar do tempo ainda assusta, mas acho que eu ando assustada demais.

Depois de três semanas se escondendo, é tão estranho olhar para as pessoas ao meu redor, parecem não me conhecer mais, e as vezes eu sinto como se não os conhecesse também, e ficamos nos estranhando em silêncio. Não externizo nada, então só posso dizer que é apenas a minha impressão. Acho que todo mundo precisa de um tempo.

"Viva mais" me disseram em tom desafiador, e eu quero, embora essa frase geralmente tem a ver com fazer coisas que a encurtem a vida, principalmente saindo daquela boca. Me irrito porque sei que estou entediando e atrasando as pessoas a minha volta, quero deixar pra lá, mas não consigo, eles estão certos, acho que se tem um momento para se perder é agora.

Mas enquanto eles ainda têm a opção de agirem como meninos ou homens, eu preciso sempre ser mulher, mesmo quando ainda me sinto menina, porque todos tiram proveito, do meu pé pra frente e do pra trás, mas não me enganam, todo mundo está tão perdido quanto eu.

Tenho saudade de adrenalina, mas eu preciso mesmo é ficar sozinha, porque o que incomoda está dentro de mim, corroendo meus ossos, me dando dor nas costas, e é sempre doloroso colocar isso pra fora, mesmo que as vezes resulte em páginas úteis, mas é muito difícil porque eu sou meu maior inimigo, e sou muito difícil de deter. 

O céu não é azulOnde histórias criam vida. Descubra agora