Geração sem nome

59 4 0
                                    

13 de maio de 2017

Eu gostaria de entender o que se passa na mente jovem atual, que palavras melhor a descrevem e como as pessoas irão falar dessa geração no futuro. Irão relembrar em tom irônico e nostálgico? Tentarão comparar com outros anos e outras épocas, talvez com a selvageria dos anos 70, com a mistura musical dos anos 80 e vestes dos anos 90? Aplicar seus costumes com os de tempos muito modernos? Qual será a melhor descrição?

Primeiro de tudo quero entender minha mente porque eles entendem mais da vida do que eu, entendem mais de história e política, sabem os nomes de todos os acordes, já experimentaram mais alucinógenos, já brincaram mais no labirinto da mente e aguentam mais bebida do que eu, são mais corajosos e mais libertos. Essa gente parece que está nessa estrada a muito mais tempo, parecem ser mais atentos. Sabem contar histórias de bandas dos anos 60 até os dias atuais, leram livros de escritores que eu ainda nem ouvi falar, se manifestam em panos que colocam no corpo, e manuseiam objetos diversos, de instrumentos musicais até canetas, cigarros, garrafas de forma a demonstrar um posicionamento claro, às vezes pura rebeldia.

Eu grito internamente, embora tenha meus surtos vez ou outra, estou na linha do limite, encaro aqueles que se limitam e quero segurar a mão dos que ultrapassam, os que correm, os que quebram barreiras, os que berram e os que sagram, esses são os que mais me intrigam porque eles se tornam donos da noite e são essas almas que criam aquele tom inquieto da madrugada quando você rola na cama pensando que deveria estar dormindo mas seu corpo treme sentindo as vibrações das pessoas distantes, de quem está acordado lá fora, enfrentando o frio que corre solto nas ruas desertas às duas da manhã, da cidade silenciosa que é pequena demais para aqueles que lá vivem, até na avenida movimentada, cheia de planos e bares, chega um momento que se cala, mas ninguém cala seu espírito que mesmo quando seu corpo está sonolento se mantém em pé e em movimento porque as vezes nós temos picos de adrenalina que nos faz querer ter tudo ao mesmo tempo porque não há outro momento além do agora e há quem faça birra porque é ansioso demais e isso é característica daqueles que eu mais gosto de ter por perto, pessoas que deixam rastros, pessoas que jorram brilho nessa cidade sem luz, pessoas novas, pessoas que se sentam no chão de qualquer lugar porque qualquer lugar é bom para não fazer nada, apenas prosear.

Gritos e espasmos é o que eu quero dessa geração única que não tem nome, porque esse tempo é muito corrido e precisa passar para ser comprimido em uma palavra, porque fazer isso agora reprimiria esse movimento bruto e animal que corre nas veias ansiosas, e quanto tempo nos resta? Já é mais da metade de uma década e tem coisas que nos esperam e tem coisas que exigem nossa atenção agora, e agora é o momento de quebrar tudo enquanto podemos, e agora não me importo em não entender essas coisas porque não é o momento de refletir sobre isso, talvez agora seja o momento de apenas viver nisso, nessa agitação calorosa e embriagante do amor e ódio, de errar de forma egoísta e perigosa e cair de cabeça em qualquer novo plano, precisamos desse momento.

Deixaremos registros suficiente para que tirem suas próprias conclusões, mas só quem está aqui agora sabe o que é essa geração, esse movimento humano, essa inquietude pulsante, tão doente e desesperada por revolução como qualquer outra geração. 

O céu não é azulOnde histórias criam vida. Descubra agora