Noite de ano novo

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01 de janeiro de 2017
"Algumas pessoas pensam que estão sempre certas
Outras são quietas e irritadas
Outras parecem tão legais
Por dentro elas talvez se sintam tristes e erradas." You only live once_The Strokes

  Às 7 o céu escurecia, se tornava a noite do dia 31 de dezembro. Eu andava pelas ruas desertas e ainda iluminadas pelas luzes de natal e na praça em frente à igreja ainda tinha enfeites nas árvores. Trilhando caminho para o bar da esquina ainda aberto pensava no dia estressante e como seria as últimas horas do ano. Caminhando em passos no mesmo ritmo, meus amigos contavam as vezes que os planos para o dia mudaram. Umas 4 vezes para ser exata. Mas lá estava toda a trupe, sentada na varanda da casa dos Lobos, dividindo vinho barato, cigarros e whisky.

Adolescentes inconsequentes virando goles e goles de misturas alcoólicas, amando ter motivo para encher a cara até vomitar no chão do quarto, afinal era quase meia noite e nada pode te atingir quando se é tão jovem.

Me sentia bêbeda, mas não pelo álcool, mas pelo momento. Na caixa de som estourada gritava a minha música favorita enquanto jogávamos conversa fora na varanda em meio a nuvens de fumaça de cigarros. Lá fora tinha a correria tosca de comemoração de cidade pequena, carros buzinando longe, e alguns fogos de artifício apressados explodindo no céu. Era uma festa sem precedentes e sem limites de convidados. Alguém na rua ouvia e gritava para entrar, salvava nicotina e inteirava um prensado. Meninos gritavam jogando vídeo game e os namorados suspiravam pelos cantos fazendo juras de amor, prometendo a eternidade. Falsa eternidade adolescente.

Alguns minutos para meia noite e corremos para a festa na praça, um monte de pessoas brilhantes vestidas de branco, sorrindo e estourando espumantes. A falsa camaradagem do Réveillon. Meia noite e não houve nenhum arrepio, só gritaria, o céu explodindo em fogos de artifício coloridos. "Feliz ano novo" berravam, casais se beijando, crianças no ombro dos pais, jovens de preto caídos na grama; era eu e meus amigos com os olhos dilatados e vermelhos, suando frio pedindo mais. Mal sabiam que era o último dos seus momentos de insanidade conjunta, porque todo mundo cresce e fica entediado. No dia seguinte teria ressaca e novos planos, viria a noção de consequências em cima das suas escolhas, para alguns viria até a maior idade, outro se tornaria careta, outro apenas ficaria de saco cheio. Mas na madrugada do primeiro dia do ano apenas fizeram corrida para casa, os cães de rua latiam atrás e a última garrafa vazia foi quebrada em um ato de puro vandalismo. O asfalto era cacos de vidro e sonhos passados, e ontem foi ano passado e hoje é ano novo, e ano novo é vida nova, você querendo ou não.

Às duas da manhã todos foram para casa, suspirando e cambaleando com o rabo entre as pernas pedindo por mais, mas não havia mais, e era melhor ir para casa porque dizem que nada de bom acontece depois das duas da manhã, mas ninguém queria admitir cansaço, embora estivessem no ápice da derrota.

Todos foram, dormiram e acordaram sem perceber que tudo havia mudado, alguns sem lembrança alguma, outros lembrando de coisas demais. 

O céu não é azulOnde histórias criam vida. Descubra agora