Tempo

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Sem data

O tempo passa rápido quando ninguém está olhando para ele. Muitas noites quis que durasse para sempre, que o caminho para casa ficasse mais longo, que seja para ouvir uma voz contando suas teorias tão intrigantes ou simplesmente para passar mais tempo ao ar livre, ouvindo música alta.

Minha mãe diz que eu não paro em casa, que nada me segura, fica preocupada e eu não sei dizer se tem realmente motivo para isso. Eu digo que sinto muito, mas a rua me grita todo dia, às vezes preciso andar, em silêncio ou conversando sozinha, às vezes preciso caminhar longe para lugares que não conheço, até cansar, ou só dar uma volta no quarteirão. Às vezes se trata só de dividir um vinho com alguém e não rir sozinha.

Precisei andar sozinha e passei os dedos nas grades de jardins da vizinhança e respirei fundo, cantei na minha cabeça e fiz histórias, muito intensa como sempre. Deixei que uma mulher de cabelos muito vermelhos puxasse minha atenção com seu andar distraído pela rua, me fazendo querer me amarrar em sua longa saia de pregas para que eu pudesse me arrastar com ela por aí. Quis escrever uma poesia sobre ela, mas eu sempre fui péssima com estrofes. Às vezes me pergunto se alguém já pensou em escrever algo sobre mim, se secretamente já escreveram, secretamente desejo com muita força.

Quanto tempo se passou desde a última vez que comi, que bebi, que estive em casa? Não sei. Quanto tempo demorou para construírem aquela casa na praça cheia de damas da noite? Provavelmente bem mais que custaram para derrubar. Não me contive e tive que olhar o relógio, mas não soube dizer se era tarde ou se era cedo. Tarde ou cedo pra que? Já ouvi mais de um dizer que tudo é relativo, inclusive o tempo. 

O céu não é azulOnde histórias criam vida. Descubra agora