O existencialismo dos leigos

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25 de outubro de 2016
"O homem é liberdade pura, absoluta, radical" 
Sartre

Toda quarta tinha aula de filosofia, meu professor era um sujeito excêntrico, era o único que conseguia colocar ordem na sala, calava a todos ao entrar e não se incomodava em levantar a voz para repreender ninguém, usava o silêncio para pedir atenção, e naturalmente conquistava respeito. Foi ele quem me apresentou Sartre e seu existencialismo, a frase "o homem está condenado a liberdade" ficou cravada na minha cabeça como um marco literário, como uma frase de efeito bem articulada na hora certa. Ela rodou pela minha cabeça por dias a fio, sinto que ela faz tanto sentido, mas ando me perguntando sobre todas as suas interpretações. Quanta responsabilidade nas nossas mãos.

Ah, o homem e sua liberdade pura, absoluta e radical. Seria mesmo? Ansiamos por coisas que nós mesmos nos privamos. Criamos nossas próprias barreiras, nossas próprias armadilhas, nossas escolhas moldam todo o mundo a nossa volta; só é assim porque fizemos assim. É uma lógica tão óbvia que me deixa tão confusa... que liberdade é essa?

A liberdade que eu quero; a de sair sem dizer uma palavra, a de escolher não ir e não voltar, a liberdade de estar só, de ser e falar o que eu quiser, ou será que é só egoísmo? A liberdade que eu tenho; a de ir e vir, de andar, correr, me expressar. A liberdade social, individual, o peso das minhas escolhas e o peso das escolhas dos outros.

O homem é livre, mas essa liberdade tem um peso; é o peso da responsabilidade de ser. O que importa é o caráter intencional, e qual é minha intenção? Ninguém sabe a verdadeira intenção de ninguém. Meditei por dias para chegar em nenhuma conclusão. Então eu sou assim porque me fiz assim. Minhas próprias escolhas...escolhas.

Me pergunto se essa é minha versão mais pura, absoluta e radical. Sei que a liberdade está aqui, em cada passo que dou, mas não sei se a uso de maneira correta, se é que há uma forma correta de usa-la, até porque a liberdade é livre.

As ideias mais bobas vieram à cabeça. Por que tenho esse gosto em burlar regras? Se é que eu burlo mesmo. Muitas das vezes escolho errado por puro capricho, mas o que está claro ou obscuro ainda para mim nas cortinas da minha juventude para eu saber realmente distinguir isso para mim ou para outra pessoa. Sei apenas de um dos meus lados, aquele selvagem que é tomado por adrenalina, mas ao mesmo tempo se priva, se contorce e se comprime, sei da juventude conturbada que eu tanto romantizo; não só a minha, a dos outros pobres coitados perdidos a minha volta; são reais ou, pelo menos, o máximo da noção de real que eu tenho. Pessoas como eu, puramente libertos, absolutos e rebeldes ao seu modo. 

O céu não é azulOnde histórias criam vida. Descubra agora