Passeio em casa

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11 de outubro de 2017

Uma e quarenta e cinco da manhã, uma madrugada de quarta feira e eu me acostumei com a insônia novamente. O calor torna minhas tardes insuportáveis, estou sempre cansada, e há sempre muito o que fazer, chega à noite e o sono evapora, fica muito tarde para tocar, minha cabeça dói muito para ler e o que me resta é andar pela casa a passos silenciosos.

Passo pelo corredor e penso: O que as pessoas pensam de mim? O que eu demonstro ser? A ignorância às vezes é uma benção, eu mesma já me arrependi de ter tentado cavar fundo em alguém, e agora imagino o contrário: Será que alguém já se frustrou com as expectativas derramadas em mim? Ou seria pela imagem distorcida que eu crio de mim mesma e não posso sustentar?

Entro na cozinha e abro a geladeira, a luz de dentro acende bruta em meus olhos. Ah, com certeza eu encho os olhos de um e deixo outros entediados, todo mundo faz isso, e a maioria das pessoas se tornam tão limitadas com o tempo. Algumas pessoas não foram feitas para marcar a sua vida, algumas pessoas são só momentos, mas é frustrante ser só o momento de alguém que você realmente se importa. Fecho a geladeira e abro o armário para encarar as embalagens. Fico imaginando as expectativas virando pó, até porque acho que vendo uma imagem tão ilusória de mim mesma, não de propósito, mas é que eu não faço a mínima ideia do que estou fazendo na maior parte do tempo.

Vou até o banheiro e acendo a luz, o pequeno espelho vislumbra meu reflexo solitário que indaga sobre essas visões. Essas coisas me lembraram uma ideia que tive uma vez, algo a ver com identidade e autenticidade; coisas como pegar pequenos traços de alguém espontaneamente e se tornar, não uma cópia ou algo forçado, mas sim um reflexo de um grupo que compartilha até demais os mesmos gostos. Abri o armário e encarei o fio dental. Acho que fazemos parte disso até decidirmos não fazer mais. Fechei o armário e me olhei novamente no espelho, não acho que estou pronta para ser tão sincera assim.

De repente estou na sala com os pés no tapete felpudo, e me toquei de que estava passando por uma fase muito estranha, parece que algo dentro de mim estava em chamas, como se eu fosse uma explosão contínua, e eu não faço ideia se isso é bom ou ruim. Dei três voltas no sofá e fui para a cozinha novamente, abrir a geladeira novamente para pensar novamente, mas não veio mais nada.

Cansei de passear pela casa quando vi que nenhum dos móveis dos poucos cômodos poderiam me dar alguma resposta, e decidi esperar o dia nascer na cama com a promessa de ser a versão mais real de mim mesma pela manhã. 

O céu não é azulOnde histórias criam vida. Descubra agora