Tina?

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Quando Luccino pós os pés na casa de Otávio pela primeira vez, sentiu o tremor típico daqueles que sabiam estar se metendo numa grande confusão. Mas não havia escolha: Gaetano havia o expulsado de casa assim que o viu próximo do capitão em seu próprio quarto. O pai não quis escutá-lo de maneira alguma e coube a Luccino a decisão drástica de ir se abrigar na oficina.

"Mas isto não é lugar pra você dormir", salientou Otávio, perturbado por Luccino ter de dormir num espaço impróprio. "Você não vai dormir aqui como se fosse um remendo. Vai pra minha casa."

Otávio foi categórico, mas o italiano ainda chegou a tentar relutar, o que claramente terminou no insucesso de sua parte. Agora lá estava ele, entrando com uma mala parca na modesta sala do Capitão.

"É tudo muito simples, Luccino, mas fico feliz que esteja aqui. Lamento que tenha de passar por isso. E por minha causa. Olha, eu sinto muito mesmo." Otávio pegou em seus ombros, de fato aflito.

Luccino procurou tranquilizá-lo.

"Está tudo certo, Otávio. Quer dizer, nem tudo. Mas eu me ajeito em qualquer lugar."

"Você vai dormir no meu quarto."

"O q-quê?" o mecânico gaguejou.

Otávio ergueu as sobrancelhas e inclinou o bigode.

"Sim, tenho uma cama extra que cabe ao lado da minha. A não ser, é claro, que você queira poupar espaço e... Durma comigo... Colocando... Uma cortina no meio... Para que não..."

"Para não fazer nada inapropriado, não é?" o italiano completou.

"Inapropriado? Eu ia dizer inadiável... Ou... Outra coisa."

Luccino ruborizou.

"Pensei que fosse eu o desajeitado com as palavras."

Otávio deu de ombros.

"Bom. Você deve estar cansado. Vá tomar um banho. Você no chuveiro e eu na banheira. Depois conversamos melhor." O capitão deu as costas para Luccino, mas tornou para o italiano, parecendo ter se esquecido de dizer algo. "Olha, Luccino... Uma hora o seu Gaetano muda de ideia. Você vai ver."

Ele deu um longo suspiro.

"Espero que sim, capitão."

Otávio seguiu para os fundos da casa, onde ficava a banheira improvisada. Luccino foi em direção ao chuveiro, trancando a porta do banheiro para tentar acalmar os ânimos. Estar perto do capitão lhe causava um frenesi. Tirou o colete e a boina, tentou abrir o chuveiro, mas não conseguiu. Tentou outra vez, para o outro lado, sem sucesso. Ele juntou as mãos nervosamente, sem saber o que fazer. Otávio barulhava pela casa, arrastando a banheira. Luccino tentou sorrir com o ruído, mas a ideia lhe envergonhava tanto que logo tentou coibi-la.

Ele se agarrou à toalha e voltou para o ambiente da casa. Otávio veio dos fundos em sua direção, distraído com seus afazeres. Observou Luccino assustado e preocupou-se.

"Que houve, Luccino? Encontrou algum inseto no banheiro?"

O mecânico ficou tímido.

"Não é isso. Na verdade... Não está caindo água."

"Ah! Os problemas de sempre com a água... Por isso não abro mão da banheira..." Otávio lamentou fazendo um estalo com a língua. "Bom..." E tornou a falar, sem graça: "Quer vir comigo?"

"Com vo-você?"

"É, oras. Banho. Ou quer ficar fedorento para que eu tenha razões de fugir de você?"

Com amor, LutávioOnde histórias criam vida. Descubra agora