Pedro observou o número da portaria que lhe correspondia. Demorando na entrada, resolveu andar pouco mais largamente, esperando ganhar tempo para estudar o texto. Viu as fachadas todas, inclusive as das outras novelas. Foi olhando para os corredores infinitos, para pessoas que iam e voltavam, sem saber se eram definitivas ou não.
Se ele seria definitivo, isso não sabia. Soube do teste por amigos do teatro, veio fazer, quem sabe. Ainda não entendia muito a proposta do papel, mas até que o personagem lhe agradava. As únicas indicações que lhe deram era que Otávio, o capitão, poderia crescer ao longo do trabalho. Ali estava um dos plenos poderes do escritor. E uma das deveras incertezas do ator. Deveras, Pedro riu por dentro. Já estava a falar como o rapaz do texto.
Parou de pensar um tempo, chegando à sala de espera que dava para uma porta. A porta indicava, ali seriam os testes. Sentou-se, cruzando as pernas para dentro e debateu-se com seu texto. Testou algum diálogo de própria boca, verificando a melhor entonação, aqui e ali. Na cena, ele chegava com Randolfo à casa do coronel e falava, estranhando... Mas por que este rapaz vai participar? Refletiu se algum daqueles personagens já havia ganhado um ator.
A marcação do texto dizia: "Otávio olha estranhamente para Luccino...". O capitão o olhava diretamente, sem parar. Luccino até chegava a ficar sem graça. Pedro coçou a barba, que provável, teria que raspar e manter o bigode. Luccino, pelo que vinha estudando, ficava um pouco assustado com Otávio, porque não conhecia. Certo, aos poucos, Pedro ia se revelando calmo e confiante.
Enquanto esperava, percebeu a entrada de um rapaz de cabelos pretos e sorriso marcado. Ele também estava com um texto em mãos. Será que seria um provável Otávio? O rapaz se sentou ao seu lado, cumprimentando-lhe com boas tardes.
"Nervoso com o teste?" Ele perguntou para Pedro.
"Um pouco. Globo! Sabe como é: o tamanho disso aqui sempre assusta."
Ele assentiu com veemência.
"Qual seu nome?"
"Pedro Henrique. E o seu?"
"Juliano. Veio fazer teste de qual personagem?"
"Me viram no teatro e disseram que o Otávio tava sem ator, então vim pra fazer o teste dele. E você?"
"Randolfo. Também tá sem ator. Então vamos contracenar juntos?"
"Sim, você tá na cena da reunião, né? Como é que você pensa em fazer a questão da gagueira? Nesse diálogo aqui?" Pedro disse, apontando para a marcação no roteiro.
Juliano leu o diálogo e o fez. Pedro assentiu, achando que havia sido um trabalho bastante pontual. Juliano parecia um pouco mais sereno que ele, como percebia por sua respiração lenta.
"Orgulho e Paixão, né? Jane Austen... Se eu pegar o papel, vou fazer um bom workshop por fora... Pesquisar bastante. Mas acho que o Randolfo não é dos livros, né?" Juliano indagou.
"Eu já li alguns livros dela. Gosto bastante do Razão e Sensibilidade. É uma ideia muito legal adaptar os livros dela pra uma novela, eu mesmo nunca teria essa ideia. Olha, acho que já vão nos chamar" Pedro percebeu a movimentação vinda da porta.
Dois atores saíram da sala e os cumprimentaram. Uma moça da emissora os chamou para serem os próximos. Era uma sala comum, com uma bancada composta por parte reduzida da equipe da novela, com uma câmera a filmar toda a movimentação da cena. Pedro respirou fundo, segurando firme seu texto e buscando concentração.
O homem do centro da mesa leu algo no papel:
"Então... Pedro Henrique Muller... E Juliano Laham. Para Otávio e Randolfo. Pois bem. Vamos fazer primeiro esse teste e depois com os outros personagens da cena pra ver qual se encaixa melhor. Assistentes?"
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Com amor, Lutávio
ContoHistórias em formato de conto que criam e recriam cenas do casal #Lutávio, da novela Orgulho e Paixão. Playlist da história no spotify: encurtador.com.br/fnDLR