Depois da Chuva

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Luccino caminhava apressado em direção à casa do capitão Otávio. Era o sexto dia no qual ele faltava às aulas de direção sem dar motivo. Preocupado, o mecânico pensava se ele havia levado a sério aquela sua constante ideia de "não aparecer mais por ali". Só de pensar que ele poderia ter alguma culpa pelo sumiço do capitão embrulhava seu estômago. O jeito foi recorrer a Brandão, perguntando onde era sua casa, na qual obteve uma resposta bem desconfiada por parte do coronel.

Ao chegar no local, bateu na porta e esperou. Mas ninguém apareceu. Bateu mais uma vez, desta vez ouvindo barulho de passos se aproximando. A princípio, Luccino se espantou com a imagem que viu: Otávio sem o seu uniforme, apenas com roupa de dormir e com uma cara muito abatida. Ele se assustou ao ver o mecânico, ruborizando, mas também demonstrando felicidade pela sua presença.

"Luccino!"

"Otávio! Eu fiquei preocupado, você não apareceu nas aulas..."

"Entra! Na verdade, eu estou um pouco adoentado, você sabe, aquela chuva..."

Otávio convidou Luccino para entrar. O italiano ficou um pouco tímido por estar ali, mas realmente precisava saber se ele estava bem. Otávio o guiou até seu quarto, onde a cama desfeita indicava que ele se deitara havia pouco tempo. O capitão retornou a este lugar e Luccino permaneceu de pé, sem reação e jeito, prostrado como um bobo sem querer tirar os olhos do homem à sua frente. Otávio ergueu as sobrancelhas.

"O quê?", Luccino não entendeu.

"O que está esperando, homem? Senta aqui comigo."

"E pegar um resfriado?", o mecânico brincou.

"Vai pegar uma bolacha se não vir agora mesmo", riu Otávio.

Luccino sentou na beirada da cama, observando a fragilidade que o capitão demonstrava, o nariz vermelho do resfriado, a respiração pesada e cansada, seu corpo entregue pousado na cama.

"Tem medo de mim? Mais perto. Mal consigo ouvir agora."

Luccino veio para mais perto. Otávio estava com a cabeça encostada na cabeceira da cama, coberto brevemente pelo lençol bege, o pé de fora sacudindo em nervosismo.

"Você está fazendo o tratamento certo pra esse resfriado, Otávio? Deixa eu ver uma coisa...", Ele perguntou, usando as mãos para conferir a testa suada do capitão. Ele ardia em febre.

Luccino arregalou os olhos, aflito.

"Onde fica a cozinha?"

"À direita. O que vai fazer?"

"Já volto."

O italiano levantou e foi direto para a cozinha, onde molhou um pano com água e fez uma espécie de compressa de gelo. Ele retornou e posicionou-a delicadamente na testa de Otávio, tomando cuidado para não molhá-lo. O capitão olhava a tudo sem dizer nada, impressionado com o cuidado que Luccino lhe reservava. Ele sorriu de maneira breve enquanto o outro terminava seus cuidados.

"Obrigado, Luccino. Estava começando a sentir muito frio. Já devia ser a febre."

"Você não devia ter saído naquela chuva..."

"Eu tinha que saber se você ia ou não nas aulas."

"Mas me perguntava no dia seguinte, homem!"

"Não podia esperar mais."

Luccino o olhou fixo. Otávio retribuiu o gesto, querendo entrar fundo naquela sensação que ele lhe proporcionava. O mecânico terminou a compressa e movimentou o lençol até mais em cima do capitão.

"Agora já pode chegar mais perto. Ou melhor... Você pode deitar comigo."

"De-Deitar com você?", Luccino se afastou, exasperado.

Otávio riu.

"Se eu inventar uns calafrios, aí você vem e deita?"

Luccino riu. Devagar, foi se aproximando da cama e pegando para si o lençol que cobria Otávio. O capitão, embora sem jeito, enlaçou Luccino com seus braços, a silhueta do italiano endurecida por uma espécie de constrangimento. O italiano posicionou seu volumoso cabelo perto do peito do capitão, que com a outra mão passou a enrolar pequenos tufos com o dedo indicador. Luccino fechou os olhos, permitindo-se e experimentando o contato. Ele mesmo levou seus próprios braços ao peito de Otávio, ouvindo o silêncio intensificar as idas e vindas da respiração do capitão.

"Então? Passaram os calafrios?"

Otávio beijou brevemente a cabeça de Luccino.

"Sim. Passaram."

"Otávio...", murmurou Luccino.

"Hum?"

Um momento de paz antes da resposta:

"Nada. Deixa pra lá."

Luccino não insistiu. Aproveitou que seu corpo com o corpo de Otávio se encaixavam muito bem. Porém, a magia daquele instante foi quebrada quando os dois ouviram a voz do coronel Brandão batendo à porta. O mecânico saltou da cama, o que assustou Otávio, que deixou a compressa cair no chão. Quando deu por si, o italiano já estava abrindo a porta e encarando um coronel estupefato de sua presença naquela casa.

"Luccino? Que faz aqui na casa do capitão Otávio?"

"Como eu falei, eu queria saber se ele ainda iria às aulas."

"E ele também tem faltado ao exército. O que houve, afinal?"

"Está doente. Com resfriado e febre."

"Ah...", Brandão aquiesceu, compreendendo a situação. "Muito bem. Vejo então que ele está bem cuidado. Quando melhorar, espero-o com os demais. Até mais, Luccino", Brandão acenou, fazendo uma expressão cínica, e foi embora.

Luccino permaneceu atônito com a visita surpresa, mas ao fechar a porta para ir em direção ao capitão, não deixou de esboçar um sorriso.

Com amor, LutávioOnde histórias criam vida. Descubra agora