Nico

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"Aqui, toma isso e vá passear com o cachorro".

Gaetano estendeu a Luccino um pequeno pedaço de pano amarrado a um círculo metálico preso no pescoço do cachorro da família, Nico. O garoto levantou da mesa de jantar, onde estava com a mãe ajudando-lhe na preparação do jantar.

"Filho meu não ajuda na cozinha. Vai dar uma volta com o bicho, que é melhor."

Nicoletta fez apenas assentir com a cabeça, a expressão de desgosto denunciando sua real opinião. O doce e pequeno Luccino, naquele tempo com onze-doze anos, obedeceu ao pai e levou Nico até a frente da propriedade onde ficava a casa da família.

"Não demora muito, bambino. Logo anoitece, e se pegar esse sereno vai ficar doente..."

Luccino escutou a mãe e concordou sem nada dizer. Gaetano bufou querendo fazer-se de contrariado, dizendo à Mamma que "o menino parecia nem ter língua". Assim, o jovenzinho Luccino deixou a casa para caminhar pelo pequeno quintal. Havia escutado a reclamação do pai, uma constante na rotina da família. Para Gaetano, Luccino ser quieto e frágil não eram grandes atributos para um homem. O menino não sabia como reagir além de pedir desculpas, e já pedira tantas vezes que o limite parecia ter ultrapassado há muito.

Nico não parava quieto. Luccino caminhou com ele até cansar, depois o soltou para fazer suas necessidades onde quisesse. O menino sentou-se na grama, as mãos nos joelhos, observando o movimento do animal. Até que se perdeu ao ver o irmão, Ernesto, realizando as tarefas brutas de casa, tal como cuidar dos animais ou carregar pesos. O italianinho se perguntava quando decidiriam ser sua vez, já que para Gaetano não existia idade própria para o trabalho, e mesmo Luccino se sentia na obrigação de ajudar a família nas tarefas.

Solto nos seus pensamentos, sequer percebeu a presença de Ernesto, que tentava consertar a cerca da propriedade sozinho e tinha parado para descansar. Exigência do pai, que queria que ele demonstrasse suas capacidades tão longo adquiria "corpo de adulto", muito embora ainda fosse pequeno para ser considerado adulto. Era o segundo mais velho, logo após Virgílio.

"Perdido de novo, Luccino?"

"Estou esperando o Nico"

Ernesto sorriu lentamente.

"Estou quase uma hora tentando consertar essa cerca." Apontou para o trabalho na cerca da propriedade, que na verdade foi cedida à família pelos patrões de Nicoletta, para que tomassem conta enquanto eles viajavam. Luccino nada queria dizer, mas o conserto não estava com muito jeito. "Pappa podia muito bem me ajudar, mas está lá com Mamma falando de você."

"De mim?" Luccino ficou vermelho.

"Aquilo que você já sabe. Que este lugar não faz bem a nenhum de nós e que devíamos procurar refúgio com outros patrões. Talvez tenhamos que ir embora ou... Não sei..."

"Como assim?"

"Ir embora." Ernesto calou-se, demonstrando um pensamento muito longe do que aquele que manifestava em voz alta. "Fani, por exemplo, já começa a crescer, e a menina sabe bem das coisas, diferente de mim, que sou um... bronco. Burro como uma porta."

"Isso é o que papai diz. Eu te acho inteligente. Essa cerca aí, eu não sei nem consertar e você sabe. E tem coisas que sei e você não. É normal, não é? Mas porque precisamos ir embora?"

"Luccino. O Pappa é que parece saber das coisas, mas às vezes... Às vezes só parece saber. Faz que sabe e não sabe. E o que ele disser a Mamma aceita. Mamma se culpa porque quer dar a todos nós um bom futuro, não quer que a gente seja que nem eles, como ela diz. Eu acho que... Não sei... Não sei se nosso futuro está longe daqui. Se teremos algum futuro além desse."

Com amor, LutávioOnde histórias criam vida. Descubra agora