Com todos os meus olhos

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A música ia cessando, mas os corpos de Luccino e Otávio mantinham a beleza e o fôlego advindo da primeira vez em que disseram "eu te amo" um para o outro. Os dois ainda embriagados com o clima do baile de máscaras, aquele do qual fugiram para que pudessem dançar a sós.

"Amore mio. Gosto de você assim perto de mim" Luccino sussurrou ao pé do ouvido de Otávio. O major fechou os olhos e sentiu o cheiro adocicado que vinha do italiano, tão lindo como em todos os outros dias de sua vida. "Já posso te chamar de amore mio?"

"Luccino, você pode me chamar do que você quiser..." Disse Otávio.

Luccino sorriu, seu corpo leve sendo guiado por Otávio. A oficina concentrava alguns dos melhores momentos da vida dos dois. Ali, tudo havia começado, através de algo tão simples e que agora tomava proporções imensas.

"Otávio?"

"Hum?"

"Você foi um presente na minha vida. Você sabe... Eu tinha tantas coisas que não sabia como dizer... Que eu guardava... E quando você apareceu, eu senti que podia começar a entender tudo."

"Eu... Eu sinto o mesmo, Luccino. E..."

Houve uma espécie de silêncio consensual entre eles. A música ia terminando, a oficina escurecendo. Quase podia se escutar ou, pelo menos sentir, a agitação do baile em polvorosa, o evento da cidade naquela noite. Mas para Luccino e Otávio, aquele era o seu momento mais precioso, o qual poderiam ser eles mesmos sem possibilidade de olhares estranhos de terceiros, sem a contenção necessária quando em público.

"Como é que se diz?" Otávio teve dúvida "Amore... Mio?"

"Isso. Amore mio." Luccino observou o rosto do amado ao vê-lo falar em italiano. "Então?"

"Amore mio... Lembra do dia em que eu disse que não estava preparado?"

"Lembro."

Otávio encarou-o, fazendo uma pausa.

"Eu estou pronto agora. Eu quero você."

Luccino congelou seu olhar no dele, observando os detalhes do rosto, e levou uma das mãos para acariciar seu queixo. Assim, enquanto Otávio se rendia a ele, Luccino plantou um suave beijo em seus lábios. Mas era um beijo diferente. Um beijo onde os dois se entregavam por completo. Era uma afirmação mútua.

O italiano foi dos lábios ao pescoço, notando que a respiração de Otávio tremeluzia como a luz do sereno que invadia a oficina. Ambas intrusas e desejadas, ambas proibidas, mas rebeldes, resistentes. Otávio ouvia os estalos da boca de Luccino em sua pele e via seu corpo reagindo a cada movimento, desejando que pudessem ia cada vez mais, e mais...

Otávio retirou a primeira peça de roupa do seu palhaço triste, o Pierrot que escolhera para se fantasiar no baile. Pois ali já não era uma fantasia para si mesmo. Era o mais sincero Major Otávio que poderia ser.

"Essa oficina, se pudesse ver como nós, se pudesse escutar e dizer como nós..." Luccino foi falando enquanto o major tirava as primeiras peças de roupa, maravilhado com a leveza de Otávio, sua paixão, seu amor.

"Ela não poderá ver a você e a mim agora, poderá?" Otávio brincou "Eu tenho vergonha de tirar a roupa para estranhos..."

Luccino fez uma expressão irônica.

"Mas para seus colegas de quartel..."

Otávio não o deixou completar a fala. Puxou-o para perto de si, Luccino ofegando pela surpresa, e o italiano sentiu o choque que seu peito nu lhe causava. O major o encarou de frente, dominador.

Com amor, LutávioOnde histórias criam vida. Descubra agora