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Andressa

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Acho que o dia estava realmente me testando. Primeiro os acontecimentos com Amy e depois a súbita mensagem de Lorena. O que o destino queria afinal? Deixar minha cabeça mais ferrada? Engulo a seco e sinto um embargo na garganta. Talvez eu seja uma daquelas pessoas que nasceram heterogêneas. O silencioso cair da noite me remete a uma melancolia massacrante. Decido que para fazer par com minha tristeza, o melhor é me render e afogar as magoas, antes que elas me afoguem e me inundem.

É irrisório voltar ao passado e chorar pela milésima vez a dor do abandono que Lorena me causou. É similar a dor que Amy agora me causa. O silencio de asfixia de maneira igual e mesmo em situações diferentes, tudo me faz pensar que ainda sou a mesma. Aquela mesma garota que ninguém se permite amar. É cruel pensar que a vida é um campo minado de aparências. É pior saber que somos seres comandados pelos padrões sociais. Empoderamento? Comigo só funciona até estar sozinha. Eu sempre desmorono quando não tem mais ninguém olhando. E não, não é uma questão de autossabotagem ou autoestima, é raiva mesmo. É muita raiva. Enoja-me saber que pessoas, em pleno século XXI, ainda terminam com as outras por vergonha de assumi-las.

Eu lembro exatamente das incontáveis vezes que ouvi a Lorena propondo segredo entre nós, entre o "lance" que tínhamos, como ela adorava nomear, para não dizer de forma clara o que tínhamos de fato. Eu nunca soube ao certo se o problema era que eu fosse uma garota ou se era por ser gorda. Talvez fosse ambos... A questão é que independente do que seja, soava patético do mesmo modo. Era um tabu segurar na minha mão na frente de todos. E por quê? O pior é ver tudo se repetindo. Eu nunca imaginei que Amy, a minha Amy, a pessoa que sempre foi meu abrigo a vida toda, seria justamente mais uma a me desapontar. É mais fácil e cômodo fingir uma amnésia de quinta, que ser sincera e tentar ao menos salvar nossa amizade. Esse padrão barbie girl que Lorena e Amy insistem em forçar me faz pensar que talvez não seja apenas a barriga que seja negativa, mas a alma. Faz parte do molde. Elas só estão seguindo a regra, talvez...

Ainda com as chaves do carro nas mãos, pronta para sair, decido inundar meus sentimentos com álcool em um barzinho qualquer, desde que seja calmo o suficiente para que eu consiga ficar em paz comigo mesma, na companhia de um bom e velho Conhaque. 

Amor sem medidas [ ROMANCE LÉSBICO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora