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Andressa

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É estranho que a sensação de dor e vazio pareça sempre tão familiar para mim. É como se no fim eu sempre soubesse que o final será esse; o abandono. Não é a primeira vez e tampouco a última. Não quero que pensem que estou me pondo em papel de vítima, na verdade é só um realismo cruel que minha mente agoniada de dor me fez acreditar. De frente ao espelho, completamente despida, meu olhos inundavam em tentativas falhas de esvair minha tristeza.

No fundo, a verdade é que tenho medo de ser como uma borboleta; de nunca conseguir enxergar aquilo que de mais lindo carrego comigo. Ouvi um sábio dizer que borboletas não conseguem ver suas próprias asas, ainda que sejam donas das mais belas e coloridas, aos olhos delas passam sempre desapercebidas. Isso não soa cruel? Como a natureza pode deixá-las tanto tempo dentro de um casulo, transformando lagarta em borboleta, para no final nega-las de contemplar sua própria grandeza?

O mundo contemplam sua beleza, mas elas não, nem sequer possuem a dimensão disso. As borboletas possuem dois pares de asas; divididas entre dianteiras e traseiras. Sofrem uma dolorosa metamorfose, encaram o martírio do casulo e ainda sim são privadas de enxergar o resultado final. Entendem a crueldade disso? Será que minha crueldade comigo mesma não se assemelha? Será que estou de fato conseguindo me enxergar?

Será que também ajo como borboleta? Será que mesmo tendo as intempéries da vida como casulo, não consigo ver minhas metamorfoses ao final de cada processo? Será que me olho no espelho e no fim das contas ainda me sinto lagarta?

Por que o tamanho da roupa que visto importa tanto? Por que isso causa tanto desconforto em uma sociedade limitada aos moldes midiáticos de perfeição inalcançável? O que há de tão errado em minhas estrias e celulites? Se curvas são poesias, então as minhas foram feitas para serem lidas em braile, porque são escritas em alto-relevo, compostas por pormenores totalmente libertos da matéria superficial. E sim, eu sou um mulherão. Dane-se quem não consegue enxergar isso. O importante é que finalmente consigo ver.

No auge de minhas reflexões, eis que a campainha toca. Já era tarde o suficiente para que eu soubesse que ninguém mais tocaria a essa hora da noite em minha porta, senão Amy. Tive vontade de deixa-la plantada, até que fosse embora. Eu estava com raiva, rancor, magoa... Mas eu conhecia Amy o suficiente para saber que aquela garota era uma mula de teimosia, se ela quer algo, ela tenta até consegui. Então não me causaria espanto se ela dormisse na porta a minha espera até que eu saísse para finalmente conversarmos. Era essa cheia de artimanhas e eu sabia bem. Cobri meu corpo com um lençol fino e então a porta. E com a rispidez mais eminente, perguntei: — O que você quer agora? — ela segurava um buquê de rosas vermelhas e acho que aquilo era uma tentativa de pedido de desculpas.

— Eu quero você. — Ela disse me calando com um beijo e batendo a porta atrás de nós. 

Amor sem medidas [ ROMANCE LÉSBICO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora