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Amy

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Me despedi de Lorena da forma mais amistosa que consegui, e sem muitas explicações disse para o recém casal que eu precisava ir até o apartamento de Andressa o mais rápido possível. Amanda quis saber o que havia acontecido, mas eu não estava com saco para muitas explicações. Parti com a promessa de que Lorena ficaria melhor sem mim, já que como Amanda bem percebeu, não foi uma boa ideia me convidar para acompanha-las nesse rolê. Quando a pressa permeia a atmosfera, parece até que qualquer miséria tarefa é um trabalho árduo, como por exemplo conseguir tirar meu carro do estacionamento. Dois filhas da puta me trancaram e eu olhava minha pressa como inimiga. Eu queria resolver tudo. Eu precisava resolver logo para que meu coração finalmente pudesse bater sossegado.

Andressa

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O coronel Pub estava pouco movimentado e o karaokê parecia o cenário perfeito para pessoas desafinadas que frequentavam o espaço. A voz que vinha do microfone não me era tão estranha, parecia ser da Amanda, prima de Anny. Olhei para ter me certificar e a certeza veio, era mesmo ela, ao lado de um cara... Espere... Aquele não é o Mateo? Irmão da Lorena? Sinceramente, eu não estava contando com a presença de ambos por aqui, mas bom, não pretendo ficar por muito tempo, os ignorarei e fui até o balcão no canto mais excluso para uma bebida. Era esse o plano e continuará sendo. O conhaque desceu rasgando minha garganta e tudo que eu queria era beber até perder a memória.

Lorena

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Meus olhos quase não acreditavam no que viam. Era mesmo ela que estava entrando? Andressa? Nossa, o tempo lhe fizera um bem imensurável. Ela estava linda, nem parecia a jovem desajustada que conheci no ensino médio e fui aprendendo gradativamente a amar. Sei que magreza não é sinônimo de beleza, mas acho os quilos que elas deixou no passado lhe deixou uma mulher ainda mais exuberante. Eu vou até lá, eu vou até ela. Eu preciso tentar explicar o inexplicável. Eu preciso dizer que me arrependo. Os três anos que passaram ainda soa como um simples hiato, eu nunca encontrei alguém que me fizesse sorrir com a mesma leveza que ela. E olha que quando digo ninguém, quero dizer que não foram poucas experiências. Eu tive relacionamentos após Andressa, mas estes eram tão rápidos e triviais que pareciam ter até prazo de validade. Desde que rompemos, nunca ultrapassei a marca de seis meses com alguém e isso me fez sentir uma culpa absurda por ter perdido a única que me fazia sentir em casa quando me abrigava em seus braços. Não quero seguir minha vida aqui sabendo que a garota mais incrível que já conheci segue me odiando.

Levantei-me e vou até o balcão. Toco em seu ombro e sua cabeça inclinada de forma cabisbaixa olha em minha direção com um brilho interrogativo.

— Lorena, você? — ela disse meu nome com tanto desprezo que eu pude sentir a frieza de seu ser em uma única verbalização. O "vá se foder" que te enviei na mensagem não foi claro o bastante?

— Calma, não precisa ficar tão na defensiva. Estou aqui em paz. Posso te acompanhar em um drink?

— Claro, e daí aproveitamos e brindamos juntas em agradecimento a todas as filhas das putagens que você fez comigo.

— Exatamente, porque daí é mais fácil achar uma culpada para crucificar que perdoar seu passado e seguir em frente.

— Seguir em frente? Você é uma piada Lorena. Eu segui em frente. Eu segui em frente quando você me soltou, eu esperei por você dias e dias e cheguei a sentir que estava morrendo com sua falta. Era uma ferida que não cicatrizava, independente do que eu fizesse... Mas a vida continuou, você entrou na faculdade que sempre quis, começou um novo relacionamento e eu ainda sim te esperei, mas o tempo aos poucos foi fechando a ferida. Eu fui tentando seguir e embora não faça nenhum sentido para você, me recusei a esquecer, porque sempre soube que você voltaria. No fundo eu sempre soube, e você nem imagina quantas vezes ensaiei essa cena só para te dizer que quero que você vá para o inferno.

— A droga da culpa nunca foi só minha. Eu não vou insistir mais que me perdoe, e após essa conversa eu juro que não te procurarei nunca mais, porem você vai me ouvir sim. Isso vai. Você não pode agir como se fosse a única que possui o direito de fala aqui. Eu fui uma idiota sim, fui uma covarde por não ter assumido o que tínhamos, fui trouxa quando me rendi aos bullyings que sofríamos e neguei vezes a fio que não tínhamos nada quando todos começaram a nos apontar dedo. Eu confesso tudo. Mas você também teve sua parcela de culpa. Você sempre agiu como se tivesse pena de si mesmo, como se fosse menos por ser gay, ser gorda e agia como se o mundo tivesse o direito de te diminuir. Você ficava calada. Você aceitava. E quer saber? O modo como as pessoas nos veem é também o modo como permitimos que elas vejam. Você sempre se comportou como se ficar com você fosse insano da minha parte. Eu sempre me senti insegura, você incontáveis vezes você dizia "você é tão linda, o que viu em mim? Por que está comigo?" Caralho, você nunca enxergou sua própria beleza, como esperava que o resto do mundo visse? Você está cobrando de mim aquilo que nem você fez a si mesma. Você se auto sabota e quando os outros fazem isso, retira a sua parcela de culpa. Você é linda. Linda sem mas, sem porem. Então quando alguém quiser ficar com você, não se diminua, não pergunte o que viram em ti, e se perguntar, não descreia da resposta caso seja um elogio.

— Acho que não fui a única que passou os últimos três anos ensaiando o que dizer quando estivéssemos frente-a-frente.

— É que você só enxerga como você é por fora, mas o que deixa saudades mesmo é quem somos por dentro.

— Sentiu realmente saudades? — ela disse levando mais uma dose de conhaque a boca.

— Saudade acentuada a um arrependimento absurdo...

— Então porque nunca voltou?

— Eu tive medo que você me odiasse.

— Eu te odeio. E você está aqui, de volta.

— Vai ver a diferença é que finalmente tomei coragem...

Amy

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Aplausos para mim que sou a pessoa mais azarada que conheço. Após horas buzinando para que as duas velharias que chamam de carro fossem retiradas das proximidades do meu carro, me desgastei com os esforços e decidi voltar para o Pub para pedir que Amanda levasse meu carro depois, pois eu iria recorrer a um táxi. Voltei ao Pub contrariada e rendida pelos esforços gastos que coloquei para revolver o impasse na vaga e tive outra surpresa, talvez essa até mais infeliz e desgastante que a do carro. O que Andressa estava fazendo com Lorena? 

Amor sem medidas [ ROMANCE LÉSBICO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora