Capítulo 01. 🌲🖤🌲

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TODAS AS NOITES NÓS OUVIMOS OS SONS

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TODAS AS NOITES NÓS OUVIMOS OS SONS. São sempre tão semelhantes e, nós temos histórias infindas para Eles. Nossos avós deixaram através do tempo os contos e vestígios que implicaram em uma decisão mútua: jamais deveremos cruzar a barreira além da floresta. Nós não sabemos o que além da clareira; dificilmente alguém ousaria ir até lá nos dias atuais. Suponho.

Viver em um vilarejo no centro de uma cadeia de montanhas é como viver em uma prisão, e durante muito tempo tive que esconder esse meu pensamento de todas as outras pessoas, exceto de Rivana, ela me conhece tão bem como se nossas almas possuíssem uma conexão além do compreensível. Ela é filha única do Guardião Onoro Viggor, o responsável pela proteção de todos nós. Acredito que a família Viggor está nessa missão há mais tempo do que nos é passado através dos relatos, mas somos gratos a eles por isso; graças ao sangue e empenho Viggor, estamos protegidos das maldições que se arrastam desde além da barreira.

Estávamos protegidos aqui. Isso era um conforto para os velhos e jovens, para as crianças que corriam pelo meio do vilarejo, mas essa paz foi abalada na última semana. Um dos nossos, o sr. Franda relatou que vira uma criatura medonha por entre as árvores altas que cercam o vilarejo e isso foi o suficiente para a convocação de uma reunião às pressas na mesma hora, todos precisavam estar presentes na mesa de decisões que se localiza no centro do vilarejo. Meus pais não estavam vestidos adequadamente quando a reunião fora anunciada pelo badalar triplo no sino da capela, mas não havia tempo a perder. Me fiz presente como estava: usava uma camisola lilás de tecido leve, era uma noite quente. Para não ser repreendida pelo padre Jiuse, vesti um casaco preto e longo e calcei minhas sandálias. Quando chegamos à mesa, acenei para Rivana, que estava ao lado da mãe, tão séria quanto. Fiquei feliz por ela ter retribuído meu aceno com uma piscadela. Ela usava um vestido azul escuro, sóbrio, poucas vezes eu a via usar roupas de tons tão sóbrios, somente quando estava ao lado dos pais.

Naquela reunião, fomos instruídos a reforçar as travas das nossas portas e janelas, preparar as dispensas dos porões; aos criadores de suínos, a recomendação foi para enfiar estacas maiores em seus celeiros. A recomendação geral ainda dizia que deveríamos usar água benta para fazer um círculo ao redor de nossos lares. Antes do fim da reunião, o sr. Franda, trêmulo como nunca o vi, subiu junto dos Viggor tapando a visão que eu tinha de Rivana e relatou o que vira gaguejando tanto que a todo tempo precisava parar e recuperar o fôlego ou tomar um gole de sua água.

Tudo terminou como eu suspeitara: um discurso santo do nosso padre e o mesmo ainda distribuiu água benta para as famílias que já haviam esgotado suas provisões. Meus pais conversavam com nossos vizinhos. Ouvi meu pai se oferecer para ajudar o sr. Louvria a reforçar seu celeiro antes da meia-noite. Me afastei um pouco, até mesmo do olhar de minha mãe que estava conversando com algumas vizinhas aflitas e fui ao encontro de Rivana que estava afastada também dos olhares de seus pais.

— Adorei suas vestes – disse ela, pegou minhas mãos nas suas e me olhou com um sorriso nos lábios. — Creio que são mais apropriadas para esse calor do que as minhas.

Além da Floresta | Versão Wattys 2020Onde histórias criam vida. Descubra agora