Capítulo 19. 🌲🔥🌲

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Muitos gritos me apavoravam e eu não conseguia me mover

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Muitos gritos me apavoravam e eu não conseguia me mover. Renan havia amarrado meus pulsos na cabeceira da cama. Muitas coisas terríveis estavam acontecendo enquanto eu estava impossibilitada de me mover aprisionada no quarto de Rivana. Meu corpo estava reagindo às dores de formas diferentes a cada hora; em momentos eu sentia apenas a dor e chegava a gritar, e muitas vezes me sentia consumida por chamas e o frio das sombras. As duas forças estavam brigando dentro de mim, eu podia sentir. Em alguns momentos eu queria negá-las, ser apenas eu. Mas quando os gritos de pessoas sendo atacadas voltavam a surgir, eu desejava ter o poder dos fios dourados que cresciam como ramos sob minha pele, brilhando incandescentes. E nesse momento, também queria sentir a ira das sombras. Talvez eu precisasse equilibrar as duas coisas dentro de mim e aceitá-las de uma vez.

Eu ainda não queria acreditar que meu pai estava morto e nem que outras pessoas estavam sofrendo naquele exato momento. Mas o Padre Jiuse me conduziu por um caminho obscuro onde tudo que eu conseguia enxergar era uma visão onde todas as pessoas ao meu redor morriam ao me seguir. Eu era a culpada por tudo e isso doía de uma forma que jamais serei capaz de descrever.

A sensação de perder as pessoas que amamos é sufocante e inflamável. A cada hora que se passava e eu ainda estava ali, amarrada e impossibilitada de fazer algo para consertar meus erros, doía.

Anoiteceu mais rápido do que pude notar. Havia dois homens me vigiando. Um deles saiu após passar horas apontando uma flecha para a minha cabeça e zombando da minha incapacidade de reagir. E entrou Renan, que empunhava uma espada aparentemente mais pesada do que ele poderia segurar com uma mão, porém parecia ter muita agilidade em manuseá-la. Ele ficou de pé, me observando. Seu olhar era detestável e repugnante. E eu queria encará-lo como se isso pudesse fazê-lo sentir algum remorso por todo aquele horror que estava acontecendo, mas isso jamais aconteceria.

— Qual é a sua motivação? — perguntei, quebrando o silêncio entre nós. — Por que está do lado dele?!

— Cale-se ou enfiarei pedras na sua boca!

— Não! Diga para mim! O que te motivou a se juntar ao padre Jiuse e toda essa monstruosidade?

— Você e todas as criaturas desalmadas são os monstros. Os únicos monstros e o fogo irá purificá-los de suas perversidades — ele disse, sua voz soava natural, quase como se aquele fosse seu desejo de todas as manhãs. Algo que ele buscava com devoção.

— É isso que significa essa figura no seu broche? Vocês irão esmagar as criaturas da floresta? Não! Vocês não conseguirão fazer isso, são todos covardes — dizendo isso, vi a raiva modelando o rosto dele. — Veja como estou, totalmente imobilizada e vocês ainda acham que é necessário apontar uma arma contra mim.

— Cale a boca! Eu vou matar você!

— Faça! Ande, Renan! Mate-me agora com a sua espada. Atravesse meu coração com sua ira. Faça!

Além da Floresta | Versão Wattys 2020Onde histórias criam vida. Descubra agora