Capítulo 07. 🌲🖤🌲

2.6K 388 128
                                    

AS IMAGENS NÃO SE APAGAVAM DA MINHA MENTE E ISSO ESTAVA SENDO DIFÍCIL DE LIDAR

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


AS IMAGENS NÃO SE APAGAVAM DA MINHA MENTE E ISSO ESTAVA SENDO DIFÍCIL DE LIDAR.  Não era como os meus pesadelos de infância que logo ao acordar se tornavam apenas imagens turvas. Eu lembrava de tudo; via o sorriso na face de Renan e sua figura se tornava terrivelmente dilacerada como se fosse atacado por uma fera faminta; os outros que estavam com ele me vinham em uma imagem de sangue e coisas que estavam fazendo meu estômago embrulhar. E a pior parte, era lembrar da Velha Corcunda e seus membros negros curvos tocando o chão. Também podia ouvir o sussurro. Ele ainda reverberava dentro de mim como se eu fosse uma caverna vazia e inóspita. Apenas o eco de um sussurro macabro e que me causava angustia.

Sentei em um canto da cama e fiquei ali encarando meu quarto e toda a minha bagunça. Coisas que faziam parte do meu mundo, minha história. Minha mãe estava na cozinha conversando baixo com meu pai e vez ou outra eu conseguia ouvir as alterações em seus tons de voz quando se irritavam um com o outro. A visita do padre Jiuse havia sido um fracasso e ele foi embora lastimando por algo que talvez eu tenha dito ou minha indiferença para os seus conselhos santos o fez perceber que eu realmente não me importava com sua presença, embora minha mãe estivesse certa quando disse que ele parecia estranhamente interessado em conversar comigo. Aconteceu que, quando chegamos em casa, minha mãe pôs em minhas mãos uma cesta com legumes frescos da nossa horta para que assim parecesse que eu estava de fato ocupada ali. Sua recomendação prioritária era de que eu mantivesse a cabeça erguida e o olhar neutro, respondesse apenas o que me fosse perguntado e agisse com cortesia. Obviamente não consegui assimilar todas as tarefas de uma vez. Enquanto o padre Jiuse falava com sua voz rouca e presente, eu me perdia no preto da sua batina e aquela cor me fazia pensar no manto da Velha Corcunda. Meu pai estava sentado de frente para mim, ao lado esquerdo do padre em sua poltrona. Mamãe sentou ao meu lado e assim ficou durante todo o tempo. Quando percebia que eu estava perdida em minha própria mente, ela tratava de achar um jeito de me trazer de volta.

Não consigo lembrar do propósito daquela visita do padre Jiuse, e não me importava tanto a ponto de me despertar interesse em investigar. Eu só gostaria de silenciar os gritos de dor e pavor que estavam se repetindo na minha mente. Quanto mais eu pensava em esquecer todo aquele horror, mais e mais as imagens se tornavam assustadoras. A luz avermelhada do crepúsculo batia na janela do meu quarto e se derramava elegante pelo piso. Não quis sair da cama para ver o sol se pôr atrás das montanhas. Eu sabia que isso me traria um misto de sentimentos mais perigosos ainda.

Algum tempo se passou e a discussão entre os meus pais parecia ter chegado ao fim. A porta do meu quarto se abriu lentamente e vi primeiro uma xícara de chá entrando segurada pela mão trêmula e cansada da minha mãe. Franzi o cenho e suspirei aliviada por ser ela a vir me ver. Seu olhar ainda era preocupado demais e eu sabia disso por que ela sempre assumia as mesmas expressões: lábios comprimidos, sobrancelhas quase unidas e olhos inquietos. O modo como se movia também era perceptível. Ela deixou a xícara com o chá ainda muito quente sobre a penteadeira e sentou na outra extremidade da cama. Olhava para as próprias mãos espalmadas sobre o colo e suspirava tensa.

Além da Floresta | Versão Wattys 2020Onde histórias criam vida. Descubra agora