Rafa...

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Rafa

Escuto Leonardo sair enquanto ainda estou no banho, sei que ele foi sozinho porque os outros ainda não tomaram banho.

Aposto que a Isa vai ficar toda melosa assim que ele chegar ao quarto dela, nem vai lembrar que estava triste. Nos conhecemos à tanto tempo e essa é a primeira vez que ela praticamente esquece que eu existo, mesmo com os outros dois namorados, a gente saia toda semana, Pri, Gabby, Ya, Isa e eu.
Agora que esta com esse playboy só tem olhos para ele, ela sempre diz que quer sair de novo só nos cinco mas é só papo de quem não tem o que falar.

Mas um dia ela ainda vai perceber que ele não mudou nada, ah se vai. E eu vou estar ao seu lado quando isso acontecer, ela vai estar tão magoada e quem vai consola-la sou eu, assim ela finalmente irá me dar uma chance.

- não tem só você pra tomar banho Rafa, anda logo. - escuto Higor dizer impaciente. Babaca.

Termino meu banho tranquilamente e depois coloco minha roupa no banheiro.

- finalmente, achei que tinha morrido lá dentro. - Higor entra no banheiro e tranca a porta.

Preciso me afastar desses idiotas, vai que é contagioso.
Saio e vou ao parquinho que vi logo que chegamos aqui na pousada, como aqui não tem crianças ele fica vazio o tempo todo.

Me sento no balanço mais afastado, tenho certeza de que esse brinquedo não é usado faz muito tempo, ele não é como os outros balanços que ficam totalmente à vista, para uma criança ele deve parecer muito sombrio mesmo, eles até fizeram outros balanços e nenhum se parece com esse. Já assisti vários filmes de terror, li muitas lendas urbanas e coisas desse gênero e esse balanço se parece muito com uma foto que eu vi numa dessas lendas, nesse brinquedo uma garotinha se matou. Fiquei muito curioso para ver a reação dos pais dessa criança mas infelizmente não tinha nada.

Acendo meu cigarro e na primeira tragada sinto a calmaria invadir meu corpo, deixo meus problemas de lado e me concentro somente em balançar e fumar.

- ... O que acha de brincar no escorregador? - escuto a voz da Isa cada vez mais perto, reconheceria essa voz em qualquer lugar. Ao longe vejo ela subir no escorregador e descer com as mãos para cima, nem me dou ao trabalho de me esconder, aqui é tão afastado que ela não vai sequer notar que existe.

- vida, minha perna é do tamanho desse escorregador, não vai ter nem graça. - agora quem fala é o idiota do namorado dela, sempre se achando melhor que todo mundo. Logo ele chega ao meu campo de visão.

- desculpa aí girafa. Mas nós baixinhos também temos vantagens em ser desse tamanho. - Isa diz e sai rebolando em direção aos outros balanços, ele tem outros balanços conectados à ele, diferente desse que é sozinho. Leonardo corre  atrás dela e segura sua cintura por trás.

Não consigo entender o que ele diz em seu ouvido, mas ela o olha fingindo estar indignada, conheço todas as suas expressões, é muito fácil definir quando ela esta apenas fingindo porque sempre exagera na careta. 

- isso, aí quando não consigo achar roupas na sessão adulta eu vou para a infantil, consigo achar esconderijos facilmente... - é sério que eles estão falando sobre a altura dela de novo?

- e quando você precisa pegar algo que fica numa prateleira alta? - por que ele tem que ser tão exibido?

- aí eu chamo o meu namorado pra pegar pra mim. - ela diz e se solta dele para ir correndo ao balanço, tão inocente, ele não vai ser seu namorado por tanto tempo Isa querida.

- quer que eu te balance minha criança? - meu Deus, só consigo sentir nojo dele.

- quero sim. - ela faz voz de bebê, quando à conheci ela tinha quase esse tom de voz, sempre achei isso fofo. Só que ela só falava desse jeito com seus amigos, quando alguém à irritava ela mudava completamente. Já nessa época eles se conheciam também, pelo que sei suas famílias são muito próximas já antes mesmo deles nascerem.

Ele começa a balança-la e ela fecha os olhos, tão serena e calma.
Depois de alguns minutos ela pula do balanço como sempre fazíamos na escola, e como Leonardo não esta acostumado com isso entra em pânico achando que ela vai cair. Patético.

- não faz mais isso, achei que você tava caindo! - exagerado como sempre. Isa começa a rir dele.

- desculpa papai. - ela continua fazendo voz de criança.

Ele vai até ela e lhe da um beijo, mas ela se afasta.

- você ta abusando de mim, isso não se faz com uma criança, socorro ele ta abusando de miimm. - ela fala um pouco mais alto, quando ela entra numa brincadeira é difícil sair, e o babaca começa a rir.

- se você parar de gritar eu te dou sorvete depois. - ele diz e ela faz uma exagerada expressão de quem esta pensando.

- sorvete de que?

- de passas ao run.

- quer abusar de mim de novo? Fica a vontade. - ela levanta as mãos e ele volta a rir dela. Sinto meus olhos começarem a lacrimejar e os limpo antes mesmo de chegar a chorar.

- parei, daqui a pouco os seguranças vem aí achando que você ta mesmo abusando de mim. - ela beija o nariz dele.

- agradeço. - ele volta a beija-la, não conseguindo suportar ver ela beijando outra pessoa que não seja eu saio de lá sem fazer barulho, se ela me vê com um cigarro na mão vai ser um escândalo.

Passo pelos ônibus, perto do parquinho fica o estacionamento, vou em direção a uma saída que achei quando vim aqui de noite. Acho que ninguém sabe da existência dessa saída, se não já teriam tampado.

Não posso demorar porque provavelmente eles vão sair hoje a noite e vou ser obrigado a ir também, o professor não vai me deixar ficar sozinho.

Vou até o mar e fico olhando para a água, jogo a bituca de cigarro no lixo e abro um chiclete de menta. Depois tenho que trocar de moletom, por sorte trouxe um estoque na mala.











A Baixinha E O SkatistaOnde histórias criam vida. Descubra agora