Ferris wheel - Part. 2

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Andy nunca foi uma pessoa impulsiva. Para falar a verdade, ela poderia citar apenas uma vez em que tinha seguido puramente seus instintos — foi quando largou o curso de direito em Stanford para cursar jornalismo. Cada decisão sua era pensada e calculada medindo os prós e contras. Até esse momento.

Ela só queria que Miranda calasse a maldita boca, que parasse de entrar na sua mente e pressioná-la por algo que não poderia confessar. Foi em um momento impensado, por reflexo e um desejo inconsciente que Andy juntou seus lábios aos de Miranda Priestly. Foi simples e durou somente alguns segundos, nem sabia se dava para nomear aquilo como um beijo de verdade, mas colocou um sorriso mais que sincero no rosto de Andy que sentiu um arrepio percorrer todo o seu corpo. Quando se afastou e abriu os olhos encontrando o olhar oceano de Miranda, a realidade do que fez a atingiu de uma só vez. A mulher a encarava com uma expressão perplexa. Andy queria dizer alguma coisa, mas nada saiu da sua garganta.

De repente a descida parou e a porta foi aberta. Miranda saiu ao encontro das filhas sem falar nada. Incerta do que viria em seguida, Andy a seguiu trêmula. Ela rogou aos céus que a levassem naquele instante para que não precisasse olhar para Miranda novamente. As gêmeas a receberam com sorrisos de alívio. Elas estavam falando, mas o som parecia distante demais para Andy conseguir assimilar.

— ...Andy? — Caroline chamou e morena desviou o olhar dos seus pés para olhar a garota.

— Desculpe, o quê?

— Perguntamos se você quer ir em mais algum brinquedo?

O estômago de Andy revirou só de ouvir a pergunta.

— Não, eu estou cansada.

— Ouviram? — Miranda falou e foi inevitável que Andy olhasse para ela. A editora-chefe tinha a boca comprimida em uma linha fina. O quer que ela estivesse pensando, Andy achou melhor não saber. — Ahn-dre-ah está cansada e eu também. Hora de ir para casa.

As gêmeas começaram a reclamar e resmungar, porém bastou um olhar de lado da mãe para que elas se conformassem. Caroline segurou a mão da mãe e ofereceu a outra a irmã que pegou a mão de Andy; elas deixaram o parque de diversões para trás seguindo para o estacionamento onde Roy, o motorista, as esperava. Felizmente, o falatório das meninas foi a exata desculpa que Andy precisava para não falar mais que o necessário.

Quando o carro parou em frente ao prédio de Andy, ela se despediu amorosamente das meninas e olhou para Miranda que acenou com a cabeça e a encarou. Andy soltou um 'boa noite' quase inaudível e saiu do veículo.

Praticamente correndo, subiu até o seu apartamento já se livrando da jaquetas e das botas ao passar pela porta e se jogou no sofá. Ela fechou os olhos por um momento e o sorriso voltou ao seu rosto. Tinha beijado Miranda Priestly. A sensação era tão boa quanto surreal. Andy se forçou a pensar racionalmente. Miranda não havia falado nada, o que era um mau sinal; mas ela também não havia surtado e demitido a assistente, o que poderia ser considerado uma boa coisa. Ela encarou o teto por longos minutos. A quem estava tentando enganar? O mais provável era que uma carta de demissão estivesse em sua mesa na manhã de segunda-feira. Ela afundou o rosto em uma almofada e sufocou a vontade de gritar. Tinha feito tudo errado! Não era para Miranda nem imaginar sobre a sua paixão ridícula e beijá-la tinha sido definitivamente um erro.

Andy buscou o celular e digitou uma mensagem.

"Acho que vou ser demitida."

A resposta de Nigel veio poucos minutos depois.

"Por favor Six, você me manda essa mesma mensagem pelo menos quatro vezes por semana. O que quer quer tenha acontecido não é tão grave se Miranda não te demitiu no mesmo instante."

— Espero que tenha razão. — sussurrou para o apartamento vazio.

A ideia de demissão estava sempre assombrando Andy. Antes, ela pensava, era pelo fato de que ser demitida comprovaria que não tinha sido boa, eficiente o bastante e marcaria o fim da sua carreira que ainda nem havia começado. Agora ela via que, ainda existia todos esses motivos, mas o principal era que se fosse demitida não teria nenhuma ligação com Miranda Pristely. E a noção de que não poderia nem ao menos vê-la mais a estava afligindo. Suspirou em clara expressão de derrota. Não poderia encarar Miranda sem se sentir afundando em vergonha e não sabia se poderia lidar com o olhar de desprezo da editora-chefe novamente. Talvez, no fim das contas, sair da Runway fosse o melhor a se fazer.

***

Whisky. Foi o primeiro pensamento que Miranda teve quando chegou em casa. Ela mandou as meninas direto para o banho e foi até o bar servindo uma dose para si. Virou o líquido em um só gole e a queimação na garganta foi reconfortante contra a bagunça que estava na sua mente. Poucas pessoas eram capazes de surpreender Miranda Priestly e atualmente Andrea Sachs ocupava a posição número um da sua lista. Miranda estava esperando milhares de respostas diferentes para o seu questionamento, mas com certeza não estava preparada para um beijo! Foi impossível raciocinar a partir daquele momento. Ela estava chocada com o ato da assistente e confusa por que não o entendia. Que merda ela poderia querer dizer com um beijo?

Miranda passou a mãos pelos cabelos brancos claramente nervosa, um retrato distante da sua habitual polidez. Outra dose de whisky. Tinha que analisar os fatos clinicamente. Andrea estava estranha desde que o namoro tinha terminado. E graças a Deus que ela tinha se livrado do cozinheiro, ele era muito pouco visionário para a garota. Foi natural achar que o comportamento dela se devia ao término, porém a sua teoria foi refutada. Depois a mais nova começou a desabafar. O que ela tinha dito? Ah sim, trabalhar para Miranda tinha tornado sua vida mais complicada, ou melhor, Miranda tinha tornado sua vida mais complicada. E então Andrea a beijou, como se isso explicasse tudo o que ela estava tentando falar.

"Só para você saber, essa pessoa com quem está no telefone é a qual com que você tem um relacionamento agora. Espero que vocês duas sejam muito felizes."

As palavras do ex-namoradinho cozinheiro piscaram na sua mente uma vez mais e foi como se uma onda de compreensão a atingisse. Ele estava com ciúmes, não do trabalho, mas da própria Miranda. E se estava certa, significava que Andrea nutria por ela algum sentimento além do profissional? Miranda balançou a cabeça em negação. Impossível. Tal hipótese explicaria o descontrole e o beijo, porém como poderia ser verdade? Andrea não era estúpida e gostar da editora-chefe seria a maior estupidez que ela poderia fazer na vida, por que Miranda era, bem, Miranda. Qualquer pessoa sensata diria a Andrea que era uma loucura.

E o maior de todos os mistérios: por que ela não demitiu Andrea no mesmo instante? Se fosse outra pessoa Miranda não teria hesitado em dispensá-la e destruir sua carreira por tanto atrevimento, mas quando Andrea afastou os lábios dos seus, só conseguiu a encarar estupefata sem nenhuma palavra a dizer. Miranda não sabia o que faria com a nova situação em que se encontrava. Até decidir o que falar ou se de fato deveria falar alguma coisa, ela não transpareceria nada e manteria a assistente o mais distante que pudesse. Não gostava do jeito que agia quando Andrea estava por perto, não apreciava o fato de que se importava com a outra e acima de tudo não queria admitir para si que o beijo delicado tinha aquecido o coração da temível rainha do gelo.


— SC —

Simply Complicated - MIRANDYOnde histórias criam vida. Descubra agora